quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Eleições 2008 II: polarização

E dá-lhe pesquisa sobre as eleições de 2008 em Porto Alegre. Menos de uma semana depois da Datafolha, outra, feita pelo Instituto Methodus, foi divulgada.

Ambas mostram o óbvio. A um ano da eleição, Fogaça não está conseguindo, com seu governo, manter a vantagem obtida em 2004. As forças que ele enfrentou em 2004 recuperaram boa parte do terreno, estabelecendo um cenário de equilibrio e polarização.

Algumas observações, agora também com os números da pesquisa Methodus.

Primeiro. Em ambas as pesquisas é possível deduzir em que termos, provavelmente, se dará a disputa no segundo turno. O arranjo atual de candidaturas cristaliza um claro e estável equilíbrio de preferências entre situação e oposição nas eleições de 2008. De um lado estão PMDB, DEM, PDT, PP e PSDB. De outro, PT, PCdoB e PSol. Já como apontava a pesquisa Datafolha, o percentual de cada bloco varia dependendo do cenário, mas em todos aponta um empate técnico entre eles, tendo em vista a margem de erro de 4% da pesquisa. Alteram-se os candidatos, redistribuem-se preferências intra-blocos, mas não altera-se, com significância estatística, o espaço de cada um dos grupos no total de votos. Sendo assim, o mais provável é contarmos com um candidato de cada bloco no segundo turno.

Diferentemente da pesquisa Datafolha, a do Instituto Methodus apresenta simulações de 2º turno, o que permite visualizar com mais clareza e certeza a acima mencionada observação sobre equilíbrio altamente estável entre blocos. Com estas simulações, vemos que os votos dispersos entre os candidatos da oposição no primeiro turno transferem-se automaticamente para o candidato da oposição que alcança o segundo turno, qualquer que seja ele(a) - Miguel Rosseto, Maria do Rosário ou Manuela. Qualquer um destes candidatos, chegando ao 2º turno, tem chances estatísticas iguais de bater Fogaça. Já os votos dados a situação no 1º turno, no 2º turno convergem automaticamente para o candidato Fogaça. A presença destes candidatos em competição no 2º turno, produz um persistente empate técnico.

Outro aspecto "revelado" pelas simulações de 2º turno é a importância dos votos de centro nesta eleição. Os dois candidatos que, ao menos simbolicamente, mais se deslocam do centro - à esquerda Luciana Genro e à direita Onix Lorenzoni - não se viabilizam no 2º turno ao enfrentar o candidato de situação. Faltaram cenários entre candidaturas de oposição mais tendentes ao centro versus Luciana e Onix, mas acredito que a situação se repetiria, beneficiando candidaturas com uma imagem mais ao centro. O eleitor pragmático será decisivo, como foi em 2004. É uma pista para a agenda da disputa: neste cenário temas locais, soluções para questões práticas da cidade, tendem a adquirir importância central...

Segundo. Assim como na Datafolha, não é possível, na pesquisa feita pelo Instituto Methodus, saber com segurança os nomes que se enfrentarão no segundo turno. Fogaça, Manuela, Miguel Rosseto, Maria do Rosário, Luciana Genro e Onix Lorenzoni, todos estes tem percentuais da preferência do eleitor que, considerada a margem de erro, os posiciona em pelo menos segundo lugar. Fogaça, por exemplo, que lidera em todos os cenários, pode estatísticamente - considerada a margem de erro de 4% - ficar fora, ser segundo ou primeiro colocado no primeiro turno. Portanto, em função da margem de erro e do elevado número de candidatos com a mesma densidade eleitoral, é atividade de prestidigitação a tentativa de analisar tomando somente as candidaturas individualmente.

De qualquer forma ainda falta praticamente um ano para o voto, muita coisa pode mudar...


Para ver a pesquisa Methodus na íntegra: Instituto Methodus

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Triste trajetória do Estado riograndense: o capítulo das OSCIPS




De Estado forte, primeiro a sair da condição de Estado oligárquico, em 1891-93, primeiro exemplo de Estado burguês republicano no Brasil (no mesmo período), por isso mesmo promotor da revolução de 30, cujo conteúdo modernizou economicamente o país transformando a indústria em seu motor, a Estado falido. Estado falido, sem capacidade econômica e, por isso mesmo, incapaz de coesionar a sociedade, lhe dar direção, estabelecer-se como exemplo político e influenciar positivamente, mesmo dentro dos estreitos limites que nosso sistema federativo atual delega as unidades regionais, a política nacional.

Agora, as suas elites econômicas, através de seu imbecil mandarinato "muderno" , interessada somente em encontrar formas de alimentar-se dos já exauridos recursos públicos, encontrou a solução: Voltemos ao domínio do Estado oligárquico, onde os recursos públicos são administrados diretamente pelo interesse privado: por indivíduos que não representam partidos eleitos ou fizeram concurso público. Indivíduos cujo interesse é somente seu próprio interesse. E ainda tem o desplante de chamar isso de moderno. Moderna é a profissionalização do Estado, a constituição de burocracias o mais livre possível de influências privadas, cuja constituição é estatuída por lei, cuja ação é regida por normas, por procedimentos estabelecidos em leis. Yeda se seus "mudernos" deveriam ler Max Weber. De qualquer forma acho que não entenderiam...
Enquanto a república brasileira, mal ou bem, mais ou menos, indicia seus algozes (se vai condená-los é outro capítulo) o Rio Grande do Sul volta ao século 18. Vai fechando-se um ciclo de lutas de dois séculos no Rio Grande do Sul, que começaram entre chimangos e maragatos: os primeiros construíram uma república, onde o interesse público encontra esteio na idéia de imparcialidade do Estado frente ao interesse privado, os segundos lutaram contra ela, para transformar o Estado em refém dos interesses particulares da elite econômica da hora. Estão conseguindo, primeiro quebraram o Estado drenando seu dinheiro através de incentivos fiscais a algumas privilegiadas empresas - e não a cadeias econômicas, o que é profundamente diferente - e agora entregam a administração da massa falida para os urubus - afinal os mandarins "mudernos"querem virar empresários! - através das OSCIPS.

Isto tudo não tem nada de moderno, é a velha tradição patriarcal e patrimonialista das elites manifestando-se, basta ler Sérgio Buarque de Holanda. Nem na dinâmica estão inovando: já sob o império as elites importavam formas contemporâneas para verter conteúdos tradionais. Era esse o fim das idéias e instituições liberais sob o reinado dos Orleans e Bragança no Brasil.
Aqui, sob uma sociedade profundamente desigual, que não promoveu ainda o mínimo de igualdade, as instituições forjadas na Europa e America do Norte acabam por agigantar seu pior aspecto: intensificam o domínio do privado sobre o público. Modernizar é, sim, criar suas próprias formas para seus próprios problemas, a luz dos exemplos históricos, não do puro e simples transplante de órgãos. Mas já está feito, agora é esperar mais do mesmo mal: apropriação privada de bens públicos.

Triste sina a do Estado gaúcho...









sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

CPMF II: a luta por trás da luta




Além dos personagens políticos - FHC e Arthur Virgílio - que comandaram a derrota da CPMF, um outro personagem, de múltiplas personalidades e faces, a quem tampouco importa a situação humana dos beneficiários do SUS ou do bolsa família, venceu: o mercado, a "empresa" privada. Em especial aquela parcela dos sócios minoritários do mercado nacional, o empresariado nacional. Chamo esta parcela de burga selvagem. Vejamos porque seus interesses foram, momentaneamente, vitoriosos. E o que pode vir na sequência.

Empresas privadas lidam, principalmente, com 06 variáveis macro: preço final (preço de venda), custos variáveis de produção e comercialização (matéria prima, energia, fretes, etc.), margem ( preço final menos custos variáveis), custos fixos (majoritariamente remuneração e encargos c/ trabalhadores) , lucro e tributos. Destes, o que é que hoje está nas mãos do empresariado nacional mudar?

Preços de venda (PV) são limitados internacionalmente e pela concorrência interna, quando há. O preço de venda é igual ao menor preço do produto no mercado internacional posto no Brasil (preço no país de origem + frete, taxa portuária e imposto de importação). Quando há concorrência, em cima deste preço deve haver um desconto. O "preço" dos custos variáveis (CV) segue a mesma regra, com raras excessões. Aqui, pouco pode fazer a burga selvagem a não ser se sujeitar as referências estabelecidas por seus "pares" mais fortes, a burga americana, européia ou o Estado Chinês. Talvez possa, eventualmente, chorar no colo da mamãe Estado brasileiro por barreiras alfandegárias ou por matéria prima e energia mais barata - do que as referências internacionais - das empresas estatais.

As margens, resultado direto da conta PV - CV, são, portanto, dadas por variáveis exógenas. mercado internacional (preços internacionais mais custo de internação) para ser mais exato.

Mas e depois das margens?

Depois das margens, pagam-se as outras 03 variáveis: custo fixo, lucro e impostos. Estas três variáveis "brigam" por maiores fatias da margem. E o que acontece hoje nesse território de luta?

O principal componente da variável custo fixo são os chamados gastos com pessoal, a plebe que trabalha, produz. Atentem para o fato de que a massa salarial e o salário médio tem crescido significativamente nos últimos 3/4 anos no Brasil: entre 2004 e 2007 ambos cresceram a taxas reais ( acima da inflação) próximas ou superiores a 10% ( ver IPEADATA). Também levem em conta que o salário mínimo cresceu, também em termos reais, cerca de 32% comparando maio de 2007 a maio de 2002. Crescimento, pressionando a demanda por emprego, e alguma regulação - especialmente a política de sucessivos aumentos do salário mínimo - são dois importantes componentes para explicar o comportamento desta variável. Aqui o bicho começa a pegar na divisão da margem.

No entanto, tentar ganhar território na margem reduzindo salário mínimo ou médio, em uma conjuntura de recorrente denúncia das desigualdades sociais, desemprego, pobreza, é duro caminho. Ao menos, hoje, tem menos condições de universalização do que... baixar ou exterminar impostos.

Então, a luta empresariada por parte da FIESP contra a CPMF, que encontrou coro na vaidade de FHC e no "espiritismo" de Arthur Virgilio, é para tomar território, na margem, dos impostos em favor da remunerção do lucro. Se o governo não reagir mexendo em outros impostos, se não aumentar o salário mínimo ainda mais do que vem aumentando - o que poderia dar ao assalariado a parte tomada da CPMF- ou criar alguma regulação pró-investimento, os empresários vão entesourar ou consumir na Daslu a CPMF que ia pro SUS...


E la nave va...


P.S: Para os céticos desse raciocínio. Se à CMF estivesse vinculado o pagamento de juros da dívida pública - e não a saúde ou ao bolsa-família - não tenho dúvidas de que passaria. Mexeria com o sócio majoritário da burga tucana. O tremor na bolsa de valores é uma prova material disso: no interregno entre a queda da CPMF e a decisão do governo sobre o que fazer, reina a incerteza. Na incerteza, toda especulação é válida, inclusive a expectativa de que poderia haver redução do superávit primário (cujos recursos são destinados para o pagamento da dívida pública) para cobrir o rombo de 40 bilhões e manter os gastos em saúde e no bolsa família. Foi por isso que Lula mandou não reduzir a meta de superávit, para "acalmar o mercado".

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

CPMF

Sobre a CPMF concordo com Paulo Henrique Amorim:
". Por que os treze senadores do PSDB assumiram atitude tão impopular (1), se é o único partido que tem DOIS candidatos a Presidente ?
. Porque você pode vender a mãe, mas não vende os interesses – já dizia o Dr Tancredo.
. Porque os tucanos têm interesses: são a barriga de aluguel dos interesses mais conservadores da sociedade brasileira.
. A prioridade ideológica dos tucanos é destruir Lula e impedir que ele construa um legado – e faça o (a) sucessor (a).
. Depois, os tucanos resolvem o problema da eleição de Serra ou Aécio.
. E isso ficou claro no mesmo dia em que se soube que a popularidade de Lula subiu no Ibope e o PIB vai para cima de 5%..."
(1) Comentário meu: a população mais pobre, a maioria do eleitorado brasileiro, sabe que se não acaba com os programa sociais a extinção da CPMF vai complicar a vida...`
Também concordo que FHC e Arthur Virgílio mandam mais na oposição do que Aécio e Serra. E que ganharam o terceiro turno das eleições.
Começa agora o quarto. Lula vai tentar manter os programas sociais que eram financiados pela CPMF, base da transferência de renda que lhe dá os altos indíces de aprovação, como se vê na recente pesquisa CNI/IBOPE. Vai tentar evitar qualquer solução de continuidade nos programas centrais de seu governo. Está com menos oxigênio. A tarefa não é fácil. Por exigência estritamente financeira ou por razões políticas, terá que escolher quem vai pagar a conta, quem fornecerá ar ao governo...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Eleições de 2008 I - polarização

Sobre a pesquisa DataFolha, divulgada este final de semana passado.

Primeira observação. Dividindo os partidos em blocos, tendo como referência o posicionamento em relação ao atual governo muncipal, há uma certa estabilidade de preferências no eleitorado porto-alegrense: metade vota PT, PCdoB e PSol, oposição clara ao atual governo municipal, e a outra metade PMDB, PP, PSDB, DEM e PDT, apoiadores diretos ou indiretos da situação. Não há transferência significativa de votos de um bloco para outro em caso de alteração de cenários de candidaturas. No único cenário em que acontece migração de um bloco para outro, esta é menor que a margem de erro, 5%, portanto não tem relevância para efeito de análise.

Segunda observação, neste nível de abstração, a fotografia atual é mais favorável a oposição do que foi o resultado do primeiro turno de 2004. Naquele, o atual bloco de oposição obteve 38,75% dos votos totais contra 54,30% dos votos do atual conjunto de partidos que sustentam o governo Fogaça. A melhor situação atual, materializada em uma situação de equilibrio em relação aos votos totais, deve-se a uma maior quantidade de votos brancos e nulos, comparada a eleição de 2004. Na eleição de 2004, houve 6,35% de votos em branco e nulos. A pesquisa aponta de 11% a 16%, dependendo o cenário. O destino destes votos é decisivo para situação e oposição. Aparentemente, a má avaliação do governo Fogaça retirou eleitores dos partidos que sustentam seu governo, mas isto não foi suficiente para a oposição capturá-los.

Terceira, imagine que os discursos de oposição e situação anulem-se, não sendo suficientes para alterar o percentual de brancos e nulos (ou que a situação os ganhe, com em 2004), imagine, também, os indecisos como abstenções (na pesquisa são cerca de 10 a 12%, na eleição de 2004 tivemos 13,63% de abstenções); mantida a divisão da oposição em três candidaturas com percentuais próximos esta poderá ser a primeira eleição em 20 anos em que corre-se o risco de dois candidatos de partidos apoiadores da situação (direita) estarem no segundo turno: Fogaça e Onix Lorenzoni.

Que estratégia deveria a oposição adotar para evitar que cerca de 40% da população, em função da pulverização de candidaturas de oposição com contingentes de votos similares, fique sem a possibilidade de escolha ótima (dentro de seu bloco de preferências) no segundo turno? Há uma estratégia possível para isso?

Fica para o próximo post.










terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A discussão do terceiro mandato II

Tome-se do texto de Wanderley Guilherme dos Santos o trecho " O peso específico dos candidatos continua a ter importância, mas ponderado pelos cenários alternativos associados a cada um deles pelo imaginário público. Acredito que este ainda é o caso, não valendo a fadiga que leva à substituição de um governo, simplesmente porque é governo. Se não ocorrer nenhuma tragédia política maiúscula, os tópicos programáticos oposicionistas parecerão frágeis diante da prestação de contas petista.", leia-se: sob este cenário, importa mais um candidato que incorpore o que de eficiente e eficaz fez o governo do que o carisma, salvo desastre. Vamos ver se o ambiente se mantém por mais 3 anos. Se assim for, não ficará difícil adivinhar quem será a candidatura presidencial do PT...

A discussão do terceiro mandato I

A propósito do falado terceiro mandato

O terceiro mandato presidencial é um não- assunto. Proibido pela Constituição, não existe força política capaz de mobilizar o apoio parlamentar necessário à sua modificação. O presidente da República, potencial beneficiário da medida, manifestou reiteradas vezes seu desinteresse e, mais, sua oposição à iniciativa. Qualquer atitude ao contrário tende a ser vivamente condenada, mais do que aplaudida. A recente pesquisa do Datafolha revela que a população dispensa traquinagens constitucionais, preferindo manter o jogo em seu andamento próprio. Então, por que cargas d"água o assunto não sai das primeiras páginas?

Depois de apresentar projeto visando um eventual terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio (supondo que o conquistasse nas urnas), o deputado petista autor da proposta praticamente desapareceu. Os paladinos do terceiro mandato, ainda que contrários a ele, são os parlamentares da oposição, segundo os quais, tudo que acontece hoje na política do país ou bem se liga à prorrogação da CPMF ou à prorrogação do mandato presidencial. Parece obsessão, mas não é.

Por mais que finjam, o que preocupa a oposição não é a inexistente ameaça de uma terceira candidatura lulista, mas um terceiro período de governo sob hegemonia do Partido dos Trabalhadores. Essa é uma possibilidade real e a propaganda oposicionista tenta identificá-la, ou tentava até esta semana, com o continuísmo chavista, antipatizado pela população. Explica-se a manutenção da tese do terceiro mandato presidencial, contra a opinião do presidente, pelo empenho da oposição em mantê-la no ar, associada às pretensões de Hugo Chávez, moeda a ser utilizada eleitoralmente contra as pretensões do PT a um terceiro período governamental. Com a derrota de Chávez no referendo, a oposição terá que ser criativa para insistir na aproximação entre os legítimos objetivos eleitorais do PT e a controversa volúpia por poder do presidente venezuelano.

O problema eleitoral do PT é mais propriamente de governo do que de eleição. Ainda avalio que, ao contrário da euforia tucana para efeito externo, as chances de vitória da situação são bastante superiores às da oposição. Não é fácil combater um governo bem-sucedido e bem avaliado. Todas as críticas, inclusive as procedentes, esbarram na disposição do eleitorado de recompensar os bons governos. Os especialistas perceberão que admito, para a próxima eleição, a supremacia do voto retrospectivo sobre o voto prospectivo. Os eleitores votam retrospectivamente quando estimam que a renovação do mandato dos atuais governantes promete trazer maiores retornos do que as perspectivas de mudança representadas pela oposição. O peso específico dos candidatos continua a ter importância, mas ponderado pelos cenários alternativos associados a cada um deles pelo imaginário público. Acredito que este ainda é o caso, não valendo a fadiga que leva à substituição de um governo, simplesmente porque é governo. Se não ocorrer nenhuma tragédia política maiúscula, os tópicos programáticos oposicionistas parecerão frágeis diante da prestação de contas petista.

O problema do PT é mais de governo do que de eleição, tendo que aceitar de novo o regime de coalizão.

Problema virá no período pós-eleitoral. Vingando a vitória da coalizão petista, tendo o senhor ou a senhora x por presidente, volta o Legislativo, também renovado em 2010, a ocupar papel central no desenrolar do futuro governo. Reiteradas as tendências anteriores, a distribuição das cadeiras na Câmara dos Deputados não tende a apresentar modificações de grande envergadura. Em uma previsão conservadora, portanto, o próximo primeiro mandatário deverá aderir por necessidade, senão por escolha, ao presidencialismo de coalizão. Sem maioria absoluta na Câmara, para não mencionar o Senado, o novo presidente deverá recompor uma base de apoio parlamentar que lhe permita enfrentar os problemas inerentes a um terceiro mandato: início de fadiga e escassez de moeda política. Se o segundo mandato petista, com Lula, está sendo distinto do primeiro nas suas relações com o Congresso, o terceiro, seja com quem for, não terá muita área de manobra para inovações. Compor maiorias com inclinações à indiferença será um dos desafios do próximo governo petista, caso o eleitorado repita o voto de 2006.

O papel da oposição dependerá visceralmente de seu desempenho eleitoral. O Dem, que se candidata à cabeça da coalizão oposicionista, encontrará nas eleições de 2010 o passaporte para uma reversão da decadência de que padecia o PFL, ou o bilhete expresso para o ostracismo. No meio-termo, será ratificado como partido parlamentar de médio porte, sem perspectiva de participação significativa nas arranhaduras do poder. O mesmo jogo joga o PSDB, não obstante o enfatuamento de suas lideranças. Terão de disputar os votos àqueles partidos que desprezam, mas que são apoiados por bases estaduais e municipais razoavelmente constantes: o PTB, por exemplo. Se o eleitorado das cidades médias dispersar o voto, não é impossível que das eleições de 2010 saiam dois partidos grandes, o PMDB e o PT, e bom número de partidos medianos, entre eles o PSDB e o DEM. As qualificações de ambos para se converterem em comandantes de pelotões oposicionistas a desafiar o governo ficarão bem reduzidas. Para ambos, as eleições legislativas de 2010 são mais relevantes, no longo prazo, do que o resultado da corrida presidencial.

Em qualquer caso, o quadriênio vindouro trará oportunidade para questões institucionais de grande envergadura alcançarem o cume das prioridades. Sem dúvida voltarão à cena a reforma política, o papel do Estado, de seu tamanho e competências, a política de segurança externa, desconectada do ranço ditatorial do passado (graças à excelente gestão que o ministro Nelson Jobim vem tendo), e a reconstitucionalização do país. Enquanto o Sudeste se distrai contando o número de funcionários públicos, o extremo Norte vive ao Deus dará, com os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário monopolizados pelos grileiros, contrabandistas e malfeitores de toda sorte. Chega ao fim a estratégia de fingir que as quadrilhas urbanas são meros casos de política e que não afetam a soberania do Estado. Não há mais como evitar o confronto constitucional com a marginalidade. E aqui o risco de que, a propósito de uma causa justa, o Estado se desmande em tiranias localizadas, sociais e étnicas. As próximas eleições deverão ser bastante calmas, mas dificilmente o próximo governo será.

Artigo de Wanderley Guilherme dos Santos, Cientista Político, Membro da Academia Brasileira de Ciências, publicado no Jornal Valor Econômico em 7/12/2007.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Prá quem acha que riqueza é sinônimo de honestidade...


Matéria de hoje da Agência Brasil apresenta pesquisa que prova que a "classe social que proporcionalmente mais alimenta o mercado de produtos falsificados é justamente a dos ricos, que teria condições financeiras para comprar artigos originais. Por causa das falsificações, o Brasil deixa de arrecadar R$ 20,2 bilhões por ano em impostos com a pirataria praticada em apenas três setores da economia: roupas, tênis e brinquedos." A instituição promotora da pesquisa foi a Câmara de Comércio dos Estados Unidos. Mais um preconceito que cai... Como empresários reclamam da pirataria, como endinheirados compram seus produtos. A hipocrisia é a matéria de que é feito o caráter da elite econômica brasileira...

Um dado interessante: "Enquanto um brasileiro da classe C adquiriu 5,6 brinquedos piratas nos últimos 12 meses, um consumidor da classe A adquiriu 52,3, quase dez vezes mais. No item roupas, os mais ricos compraram 17,9 peças ilegais por ano, contra 11 daqueles da classe C." Ilegais é a palavra chave. Riqueza, escolaridade e honestidade não andam juntas por estas paragens brasileiras... E prendem só os ambulantes...

Já que são poucos os ricos no Brasil, fica mais fácil prá policia federal...

Prá quem quiser ler a integra: Agencia Brasil

prá ver a pesquisa: Firjan

domingo, 2 de dezembro de 2007

Eleições no PT


Marcelo Danéris, verador do PT de Porto Alegre, é o novo presidente municipal do Partido dos Trabalhadores de Porto Alegre. Fez mais votos que Adão Villaverde, deputado estadual, e Julio Quadros, ex-presidente estadual do PT.

O comparecimento da eleição - mais de 3.000 filiados votaram - e a expressiva vitória de Daneris - 55% dos votos - tem como claro significado que a militância do PT resolveu antecipar a escolha do seu candidato a prefeito.

Explico. Todos os petistas tinham claro que os candidatos que se enfrentavam, além de diferentes opiniões quanto a questões partidárias, divergiam em torno de qual a candidatura seria a mais adequada para o PT nas eleições do ano que vem. Os candidatos que não venceram - Villaverde e Quadros - representaram o conjunto de correntes internas que apoiam Maria do Rosário como candidata do PT. Já o candidato vencedor, Danéris, foi apoiado pelas forças que apresentaram Miguel Rossetto. Todos sabiam que votar num ou noutro tinha o claro sentido de votar em Rosário ou Rossetto. Como Marcelo Danéris ganhou...

É possível que o PT desista das prévias, afinal já as realizou neste domingo...


quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Propinoduto do DETRAN II



Na Assembléia do RS, a oposição ao governo Yeda já conseguiu as assinaturas necessárias para a criação da CPI do propinoduto do DETRAN. Aguardemos...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Pela introdução do Ostracismo


Antonio Britto afirmou, em artigo intitulado "O brete é político" (Zé Agah, 25/11/2007), que, entre outras razões, por sermos o único dos grandes Estados brasileiros que não "reelegeu nenhum governador (...) não conseguimos dar seqüência a qualquer tipo de reforma eficaz".


Foi o inverso, meu caro mau caBritto (bom cabrito não berra). O eleitor gaúcho mais repete-se do que muda.

Para ver isto, retiremos o véu da personalidade da hora, o governador de plantão.

Não conseguimos reformar o Estado, eficaz e positivamente, porque nas últimas 4 eleições o eleitor gaúcho recorreu a 3 governadores de um mesmo bloco (PMDB, PSDB, PTB, PP, PPS): um governo com foco exclusivo no interesse privado (o do próprio Britto, quando no PMDB), outro conservador e protelador (Rigotto, PMDB) e agora um sem projeto e conservador-autoritário (Yeda, PSDB). O eleitor repetiu o mesmo erro, com variações de grau, iludido pela idéia de que nomes diferentes são idéias diferentes ou pelo "vale tudo contra o PT". Escolheu, repito, três em quatro vezes, o bloco que acha que política é só disputa de poder, disputa eleitoral que, depois de resolvida, libera o Estado para uso em seu próprio benefício ou de seus parceiros privados. Resultado: consumiu a maior parte dos recursos e do patrimônio públicos sem criar nenhuma política de desenvolvimento ou social significativa no RS.

É uma pena que não tenhamos adotado, na nossa Constituição, o ostracismo - mecanismo criado pelos gregos antigos, na Atenas por volta do século 5 A.C.. Nesta época, através desse mecanismo, demagogia e hipocrisia, especialmente quando usadas em benefício próprio, eram punidas com o confisco dos bens e a cassação da nacionalidade por 10 anos.

Britto e seu amigo FHC não teriam mais nada e, especialmente para alegria do segundo, seriam declarados estrangeiros de direito. Coisa que sempre quiseram ser...






sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Migalhas?




Ontem Yeda foi a Brasíla e segundo a imprensa local voltou com migalhas: R$ 200.000.000,00. Puro discurso. Se o governo Lula tivesse dado (porque está dando!!!) R$ 1 bi, Pedro Jorge Simon, Yeda, Zé Agah e companhia diriam: não fizeram mais do que a obrigação, deviam a muito tempo, o Rio Grande merecia mais, etc, etc, etc. Jamais assumirão que o governo Lula está ajudando o RS. Mas está, veja-se a grana para o PAC, por exemplo. Mais de R$ 1 bilhão.
Na verdade, os R$ 200.000.000,00 não são migalhas. Vejamos porque.

Ano passado, o pagamento do 13 salário foi assegurado com um empréstimo junto ao Banrisul. Algo entre R$ 350.000.000,00 e R$ 400.000.000,00. Em 2007 o governo estadual pagará cerca de R$ 60 milhões por conta deste empréstimo. Já que está recebendo R$ 200.000.000,00 do Governo Lula, o empréstimo do Banrisul, se houver, será menor. No mínimo 50% menor! E o juro que deverá ser pago ano que vem também será menor. Reduziu-se o problema presente e futuro em 50%, mais ou menos. Migalhas?

Aos poucos, republicanamente, cercado dos cuidados necessários - legais, morais e políticos - o Governo Lula vai ajudando o Rio Grande. Não é isso que se queria, ajuda?

Agora, ajudar não é assumir integral responsabilidade...


Que Yeda, agora com o problema diminuido, comece a ser criativa. Ou peça as contas...












domingo, 18 de novembro de 2007

Tarde chuvosa...


Procurando uma imagem que refletisse a tarde chuvosa, encontrei esta maravilha:

lluvia


hoy llueve mucho, mucho,
y pareciera que están lavando el mundo.
mi vecino de al lado mira la lluvia
y piensa escribir una carta de amor/
una carta a la mujer que vive con él
y le cocina y le lava la ropa y hace el amor con él
y se parece a su sombra/
mi vecino nunca le dice palabras de amor a la mujer/
entra a la casa por la ventana y no por la puerta/
por una puerta se entra a muchos sitios/
al trabajo, al cuartel, a la cárcel,
a todos los edificios del mundo/
pero no al mundo/
ni a una mujer/ni al alma/
es decir/a ese cajón o nave o lluvia que llamamos así/
como hoy/que llueve mucho/
y me cuesta escribir la palabra amor/
porque el amor es una cosa y la palabra amor es otra cosa/
y sólo el alma sabe dónde las dos se encuentran/
y cuándo/y cómo/
pero el alma qué puede explicar/
por eso mi vecino tiene tormentas en la boca/
palabras que naufragan/
palabras que no saben que hay sol porque nacen y mueren la misma noche en que amó/
y dejan cartas en el pensamiento que él nunca escribirá/
como el silencio que hay entre dos rosas/
o como yo/que escribo palabras para volver
a mi vecino que mira la lluvia/
a la lluvia/
a mi corazón desterrado/

Juan Gelman*

*É uma das principais vozes da poesia latino-americana. Nasceu em Buenos Aires, em 1930, e publicou mais de 20 livros. Recebeu os prêmios Nacional de Literatura (Argentina, 1997), Juan Rulfo (2000) e José Lezama Lima (2003). Durante a ditadura militar, foi obrigado a abandonar a Argentina. Em 1976, seu filho Marcelo e a mulher, grávida, desapareceram no país. Somente em 1989 o poeta encontrou os restos mortais do filho. Em 2000, após uma busca de décadas, pôde encontrar sua neta, que tinha então com 23 anos e fora adotada pela família de um militar uruguaio. Uma campanha mundial ainda busca os restos mortais de sua nora, Claudia.



Tudo azul...


Essa fera está hoje em Porto Alegre. Prá quem não vai ao show, uma canja:

Magic Slim

sábado, 17 de novembro de 2007

Os interésses (assim mesmo, com o assento que lhe dava Brizola)

Em nome de que interesses age Yeda Rorato Crusius? Quem ajudou a eleje-la e ainda deposita confiança em seu governo? Quem ainda acha que, depois da derrota de sua fórmula fiscal no parlamento, certa é a governadora e errados são os que votaram contra o seu pacote? Quem age na política apontando sempre o mesmo culpado quando a sua vontade e a dos seus é contrariada? Quem?

Dou uma pista, leia o editorial de Zé Agah deste sábado...

Um trechinho:

"Por que a tragédia fiscal do Estado não pode ter o socorro de um aumento de alíquota se uma situação federal menos angustiante merece o socorro da prorrogação da CPMF? Que interesses poderiam explicar a presença numa mesma trincheira da bancada do PT, que prega uma crescente presença do Estado, e do vice-governador Paulo Feijó, que é adepto do Estado mínimo?"

Quem diria, a pouco tempo atrás Zé Agah acusava o PT de arrogante, de se achar dono da verdade, de não unir-se a ninguém que não fosse um seu igual...

Quem diria, a mesma Zé Agah militante contra a prorrogação da CPMF...

Agora aponta o dedo para a incoerência...

Moral de cueca, como diz o popular.

Convido-lhes, também, a comparar as declarações da governadora com o mencionado editorial: semelhanças não são mera coincidência. E a lembrar que um procer do tucanato, Pedro Parente é alto executivo de Zé Agah. Teoria da conspiração? Não, inferência estatística...

A propósito, antes da votação do pacote o governo Yeda afirmou com todas as letras que o financiamento de 1 bilhão do Banco Mundial só sairia com a aprovação do pacote. Hoje, a notícia é outra: mesmo sem o pacote virá o financiamento.

A comemorar: a sociedade gaúcha não caiu na chantagem destes dois personagens, Yeda e Zé Agah.

Agora estão voltando a fazer ameaças e chantagens: cortar compensação de créditos para exportação, reduzir verba dos outros poderes, apertar micro e pequenos empresários, enfim, prender e arrebentar. Cabe a sociedade, aos sindicatos de empresários e trabalhadores, aos partidos políticos de oposição e aos parlamentares que, mesmo na situação, mantiveram-se coerentes com as promessas de campanha, dar mais um não a isto. Chega de arrogância e surdez...

O sinal claro que foi dado é: esta proposta não serve, construa outra governadora. Sem chantagens e ameaças, sem aumentos de impostos ou restrições a atividade econômica gaúcha.

Por fim, uma resposta aos "por ques" de Zé Agah:
1. Porque existem, para o RS, outras alternativas que não o AUMENTO de impostos;
2. Os interesse em evitar que a economia do Estado sofra com um pacote equivocado não uniu só PT e Feijó, mas também alguns parlamentares de PTB, PMDB, PP, PSB, PC do B e outros. Mais de 50% do parlamento gaúcho votou contra e a Zé Agah só enxerga o PT e Feijó!!!!!



sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Propinoduto do DETRAN


Interessante não? Um dos envolvidos neste que é o maior escândalo de corrupção já registrado no Rio Grande do Sul, Antonio Dorneu Maciel, era, até hoje, Tesoureiro-geral do PP. Não era um membro qualquer da executiva, não era secretário-geral, secretário de organização, vice-presidente, funções estas normalmente mais organizativas. Não era um militante de base. Era Tesoureiro-geral!!! O responsável pela arrecadação de $$$ (dinheiro) para o seu partido!!! Caixa 2?

A Polícia Federal está cumprindo seu papel: indiciar Pessoas Físicas e Jurídicas envolvidas no Propinoduto do DETRAN. Cabe a Assembléia do Estado investigar possíveis vinculações do crime com os partidos políticos em que eram, ou ainda são, dirigentes os envolvidos: principalmente PP, PMDB e PSDB. Com a crise moral, ética, política em que estão chafurdando os partidos aliados dos governos do atual governo, Yeda, e do anterior, Rigotto, perderam toda a autoridade para fazer leis, especialmente as que transferem mais recursos do contribuinte para o Estado. Quem garante que não vão parar em outro propinoduto? A Assembléia deve parar tudo e investigar.

CPI já!!!

Como vingar-se dos "eficientíssimos" serviços das empresas de telefone, net, etc...


Essa veio do blog do Omar. Genial...

Toca o telefone..
- Alô.
- Alô, poderia estar falando com o responsável pela linha?
- Pois não, pode ser comigo mesmo.
-Quem fala, por favor?
- Edson.
- Sr. Edson, aqui é da Telefônica, estamos ligando para estar oferecendo a
promoção Telefônica linha adicional, onde o Sr. estará tendo direito...
-Desculpe interromper, mas quem está falando?
- Aqui é Rosicleide Judite, da Telefônica, e estamos ligando...
- Rosicleide, me desculpe, mas para nossa segurança, nós estaremos
conferindo alguns dados antes de continuar a conversa, pode ser?
- ... bem, pode.
- De que telefone você está falando? Minha bina não está identificando.
- 103
- Você está trabalhando em que área, na Telefônica?
- Telemarketing Pró Ativo.
- Você tem número de matrícula na Telefônica?
- Senhor, desculpe, mas não creio que essa informação esteja sendo
necessária.
- Então terei que estar deslingando, pois não posso estar tendo segurança
que falo com uma funcionária da Telefônica.
- Mas posso estar garantindo...
-Além do mais, sempre sou obrigado a estar fornecendo meus dados a uma
legião de atendentes sempre que tento falar com a Telefônica.
- Ok . Minha matrícula é 34591212.
- Só um momento enquanto estamos verificando...
Dois minutos depois :
- Só mais um momento.
- Cinco minutos depois :
- Senhor?
- Só mais um momento, por favor, nossos sistemas estão lentos hoje.
- Mas senhor...
-Pronto, Rosicleide, obrigado por estar aguardando. Qual é mesmo o assunto?
- Aqui é da Telefônica, estamos ligando para estar oferecendo a promoção de
uma linha adicional, onde o Sr. estará tendo direito a uma linha adicional.
O senhor está interessado, Sr. Edson?
- Rosicleide, vou estar tendo que transferir você para a minha esposa, por
que é ela quem está decidindo sobre alteração e aquisição de planos de
telefones. Por favor, não desligue, pois essa ligação é muito importante para mim.
(coloco o telefone em frente ao aparelho de som, deixo a música Festa no Apê
do Latino tocando no Repeat - eu sabia que um dia essa droga serviria para
alguma coisa!)
Depois de tocar a porcaria toda da música, minha mulher atende:
- Obrigado por estar aguardando .... pode estar me dizendo seu telefone pois
meu bina não identificou...
- "103!"
-Com quem estou falando, por favor?
- "Rosicleide!"
- Rosicleide de quê?
- "Rosicleide Judite" (já demonstrando certa irritação na voz)
- Qual sua identificação na empresa?
-34591212 (mais irritada ainda! )
- Obrigada pelas suas informações, em que posso estar lhe ajudando?
- Aqui é da Telefônica, estamos ligando para oferecer a promoção linha
adicional, onde a Sra. tem direito a uma linha adicional. A senhora está
interessada?
- Vou estar abrindo um chamado e em alguns dias estaremos entrando em
contato para dar um parecer, pode estar anotando o protocolo por favor ....
alô, alôoo!?
- TUTUTUTUTU...
-Desligou... nossa que moça impaciente!

Escandalo no DETRAN


Lembro-me, ao ler sobre o escandalo de corrupção no DETRAN, de uma pesquisa noticiada por Zé Agah em 02/09/2007. Nela, o referido jornal batia efusivas palmas a afirmação de um até então desconhecido sociólogo Alberto Carlos Almeida, responsável pela pesquisa. Dizia ele: “quanto maior a escolaridade do brasileiro menor a tolerância a arbitrariedades e à corrupção”. E concluía: neste sentido "população do Sul é ‘menos arcaica’”.


Os escolarizados corruptos do esquema DETRAN/FATEC (FUNDAE) que o digam... Baixíssima tolerância a corrupção e a arbitrariedade, não?


Deviam refazer a pesquisa e incluir a elite conservadora gaúcha, os resultados seriam outros, não é?

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Controlar as grandes empresas para libertar a democracia II

A propósito do tema apresentado na postagem anterior, sugiro a leitura do post de hoje do Diário Gauche, intitulado "Reich e o supercapitalismo"

Nele está a entrevista com Robert Reich, que foi secretário do Trabalho de Bill Clinton. Um trecho:

" Então o movimento de responsabilidade social é uma falácia?

Esse movimento distrai as pessoas do problema real e mais difícil, que é limpar e aperfeiçoar a democracia. Shows de responsabilidade corporativa levam os cidadãos a acreditar que os problemas sociais estão sendo endereçados e que eles não precisam se preocupar em fazer com que a democracia funcione e dê respostas para os dilemas. Eu não tenho objeções às ONGs pressionarem uma ou outra empresa para agir de certa maneira. O que elas não devem fazer é achar que essas pressões são substitutos para leis e regulamentações. As doações e os serviços sociais prestados pelas empresas, por exemplo, não devem substituir aqueles que os governos de nações que se julgam avançadas devem prover à população. Quando políticos louvam ou culpam companhias, eles dão ainda mais fôlego para essa noção equivocada."

O diagnóstico é preciso, embora a costura de um projeto de "aperfeiçoamento e limpeza" da democracia deva, como sugeri com a postagem anterior, ir além de fazer com que esta funcione e induza governos de nações a prover o que precisa a população. Um projeto que queira ser contemporâneo, atual, transformador, deve ter a democracia como categoria que organiza também o funcionamento da empresa privada, para além do restrito grupo de acionistas...

Lei a integra da entrevista do Diário Gauche

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Controlar as grandes empresas para libertar a democracia


Pode parecer deslocamento da conjuntura brasileira, do debate atual no Brasil, corretamente marcado pelo centro temático Estado/Governo (Reforma política, mecanismos de democratização e/ou "moralização" da política, etc.), mas acho que poderíamos dedicar um pouco do nosso tempo para a reflexão sobre possibilidades de desenhos novos para outro território: a economia privada. Deveríamos considerar que as decisões neste território configuram, em grande parte, os limites da ação do Estado. Neste território, decisões de alocação dos recursos gerados pelo trabalho humano (diretamente ou indiretamente) são tomadas a cada segundo por poucas pessoas, em geral sem levar em conta a maior parte dos impactos sociais (nível de emprego, salário, meio ambiente, etc.) que causarão. Existe alternativa a este modelo de gestão dos recursos produzidos pelo homem em sua atividade produtiva? Existem várias. Recomendo, prá começar, a leitura do artigo Controlar as grandes empresas, para libertar a democracia, do Le Monde Diplomatique edição brasileira. Recomendo-o por identificar como caminho a democracia como alternativa. Caminho do qual sou fã. Transcrevo uma parte, petisco de boa Utopia:




"Na vasta galáxia de temas que apaixonam e mobilizam os Fóruns Sociais, podem estar nascendo algumas novas estrelas, de grande magnitude. Nos Estados Unidos, movimentos sociais e think-tanks (centros de estudos) progressistas estão lançando um conjunto de propostas para estabelecer o controle social sobre as corporations – grandes empresas que atuam em muitos países, oligopolizam vastos setores da produção e exercem enorme influência sobre governos, parlamentos e instituições internacionais.
Apresentado em detalhes, na última edição da revista Yes! (inglês, castelhano) e baseado em estudos e consultas que se estenderam por dezoito meses, o projeto sugere três grandes linhas de ação. No plano político, quer a separação radical entre Estado e empresas – uma revolução equiparável à conquista do Estado laico, na Revolução Francesa. No terreno da economia, propõe transformar em Bens Comuns vastos setores da atividade humana, hoje tidos como mercadorias. A lista vai das florestas e vida selvagem aos oceanos, água doce, ciberespaço, espectro hertziano, conhecimento, gens, sementes. Finalmente, o projeto avança sobre a própria vida empresarial. Grupos sociais que não detêm ações, mas são diretamente afetados pelo comportamente das corporações (como os trabalhadores e as comunidades) deveriam ter assendo em seus conselhos. Além disso, as empresas deveriam ser submetidas a rankings, de acordo com o respeito que dedicam aos direitos sociais e ao ambiente. O Estado atuaria beneficiando as companhias éticas com incentivos e redução da carga tributária. As que pressionam os sindicatos e devastam a natureza seriam punidas com medidas de sentido inverso – e submetidas a um Tribunal Internacional para Crimes Corporativos."




Na sequência comento...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Porto Alegre





















Hoje, 29/10/2007, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre instalará uma Comissão Especial para iniciar a discussão da revisão do Plano Diretor de Porto Alegre. Por que falo disto?

O Plano Diretor estabelece as regras de ocupação do espaço na cidade. Com isto, define boa parte das condições da nossa existência. Ele define as diretrizes que orientarão a construção do prédio em que nós moraremos ou trabalharemos. Ele define onde e como serão as ruas e avenidas pelas quais circularemos. Ele define quais os locais apropriados - e o desenho deles - onde desfrutaremos nosso tempo livre, nosso tempo de lazer: os locais próprios para parques ( e seu tamanho), para restaurantes, bares, etc. Sobrou alguma área de sua vida sem a influência direta ou indireta deste Plano?

Ah, estas regras definem, economicamente falando, boa parte do que poderá lucrar o capital privado ao fazer investimentos na indústria da construção civil em Porto Alegre. Por exemplo, grosso modo, quanto maior o espaço de terreno - e/ou do espaço áereo (as "alturas" como chamam) - ocupado por um prédio (quanto maior a produtividade da área, tecnicamente falando), maior o lucro. Inversamente, quanto maior a área destinada a espaços públicos (praças, parques, etc), menor o lucro. São zonas de interesse vetorialmente diferentes, portanto há escolhas a serem feitas.

Poucas, pouquissímas, pessoas participam da discussão do Plano Diretor. Houve tentativas de discutí-lo publicamente, em assembléias abertas, mas ainda não há um processo estruturado de discussão participativa. Isto significa que a cidade continua sendo produzida, mais ainda atualmente, nesta proposta de revisão, a partir das escolhas feitas, fundamentalmente, pelo interesse privado. Escolhas que foram e são tensionadas, limitadas, pela mobilização popular, mas que condicionam muito do resultado final. Depois o poder público "corre atrás" para mitigar os efeitos negativos, como falta de saneamento, falta de avenidas, falta de praças e parques, isolamento e marginalização espacial das comunidades mais pobres, etc.. O Plano Diretor pode reduzir estes efeitos na sua origem.

Vou tentar discutir um pouco o tema, que me parece central para o futuro da cidade. Primeiro pitaco: a esquerda, na Câmara de Vereadores, poderia emendar esta revisão de Plano no sentido de criar um processo mais participativo, organizado e auto-regulamentado de discussão da ocupação espacial da cidade.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

1000

20 dias, 1000 "olhadas". Este é a marca que alcançou este modesto blog hoje. Registro como tributo ao simbolismo dos números, mas sobretudo como uma forma de agradecer a todos pela curiosidade, pela generosidade dos comentários, pela paciência de ler as opiniões aqui publicadas.

OBRIGADO!!!!


quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Tropa de Elite
















Muito tem se falado - quase todos os blogs, revistas e jornais que conheço falaram - sobre o filme Tropa de Elite. Alguns falaram bem, outros bastante mal. Ninguém ficou alheio. Não gostaria de falar tanto dele em sí, de sua forma ou conteúdo, mas da discussão em torno. Neste aspecto destaco dois problemas em boa parte das análises correntes, com honrosas exceções: 1) há um problema de ênfase na análise formal e do conteúdo vis a vis uma abordagem do impacto cultural/social do filme e 2) há um problema de mérito na análise formal.

Me chamou a atenção um ponto comum em praticamente todas as análises do filme. Discute-se o filme, sobretudo, no que ele constitui como linguagem em sí mesma. As questões são, em geral, se as colocações de sujeitos e objetos e sua sintaxe refletem, verdadeiramente, a “realidade” ou se constituem um projeto de alteração da mesma de tipo “progressista” ou “facista”. Assim, a "função sintática" do Capitão Nascimento ora é apresentada, pela crítica, como elemento cuja ação projeta a solução para a corrupção e a criminalidade, ora é tida como amplificadora da violência e da maldade pura e simples. Já nos playboys e "playgirls" de classe média apresentados no filme, algumas análises vêem o perfeito retrato do sujeito que sustenta, quase que absolutamente, toda a cadeia de tráfico/criminalidade e violência/sadismo associado, outros enxergam uma caricatura grosseira e simplificadora, uma expressão incompleta ou falsa. Assim, em um primeiro movimento, discutem-se as falhas ou acertos desta linguagem, em termos, por exemplo, de sua verossimilhança quanto as relações de causa e efeito que se propôs a representar: se o filme - a linguagem, sua sintaxe e sua gramática - situa os personagens (fenômenos ou sujeitos) em sua hierarquia causal "correta", como presente e como projeto.

Em um segundo movimento, de um extremo a outro, ainda dentro da análise formal e de conteúdo do filme em si, vemos a análise focada na tarefa de atribuir uma gramática e uma sintaxe naturais - contidas originalmente - ao filme. Praticamente todas as análises fixam-se na suposição de posições verdadeiras - impressas e fixadas no ato de criação da película por intenção do autor - para cada personagem e fenômeno apresentado no filme. É absolutamente necessária esta análise da linguagem explícita ou implícita no filme, de uma suposta codificação que, na falta de melhor palavra, “tipifica” (no sentido weberiano) a realidade. Ela pode revelar uma parte, razoável, da potência da obra, de sua possibilidade e vetor de impacto. Isto é, a análise deste tipo pode, bem feita, apresentar indicadores da capacidade de uma obra quanto a produção de significados e sua perenidade. Mas esta análise não deveria pretender-se completa.

Não pode pretender-se completa porque não é possível identificar em toda a extensão a potência da obra sem, ao mesmo tempo, analisar sua dinâmica, o impacto que produz. Não apenas em extensão quantitativa, mas também em qualidade, em termos de diversidade de significados. Creio que a riqueza de uma obra só pode ser plenamente identificada quando, ao lado de uma análise dela em si, de uma crítica da substância, da linguagem inerente, enfilera-se uma crítica dos efeitos que está a produzir sobre quem a observa. Uma obra é tão mais rica quanto atinge, sem perder conteúdo, um nível de abstração capaz de atrair e chamar a reflexão indivíduos ou grupos com formação cultural diversa.

Enfim, a análise está a destacar o elemento formal e de conteúdo do filme e só secundariamente fazendo uma análise do impacto social do mesmo. Além deste problema, creio que existe um problema de mérito nas análises do filme em si.

Tanto o tipo de análise dos que enxergam no filme um projeto de solução para a criminalidade via “pancada” como os que o classificam como “fascista”, dizem que o filme é uma linguagem com hierarquia, com elementos que precedem e suscedem, que são mais ou menos importantes. E é esta visão desta hierarquia que orienta, nestas análises, o julgamento para o bem ou para o mal do filme, que permite classificá-lo de um jeito ou de outro. No entanto, creio que o ponto de partida deveria ser a constatação de que Tropa de Elite adota uma linguagem que não hierarquiza personagens e fenômenos. Não há personagens mais ou menos culpados, mais ou menos frágeis. Todos os personagens têm uma estrutura de escolhas. Não há, também uma relação mais importante do que outra, um problema mais relevante do que outro. A “realidade explicativa” do filme é praticamente tautológica. Se assim é, e creio que é, não se pode ler Tropa de Elite como a defesa de um projeto, mas como a denúncia de uma situação inercial.

O que o filme é, ou melhor, manifestará deve ser entendido a partir de uma análise formal considerando a natureza não hierárquica da justaposição de seus personagens e, sobretudo por conta disto, da reação livre que produzirá em seus espectadores.

Sendo assim, o essencial para quem quer tratar do filme é, na verdade, elaborar um discurso diante dos TEMAS que põe em pauta. O filme é, sobretudo, a amplificação de uma agenda. Faça seu discurso, fale da violência, da corrupção, da polícia, porque esta é a pauta que o filme provocou em milhões de pessoas que o assistiram. E a impressão delas está em disputa. Mas não será hegemônico o discurso que negar relevância artística e legitimidade ao filme.

A arte tem destes maneirismos.


“O SENHOR VAI DORMIR 05?”

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Perca-se, encontre-se...

É preciso não esquecer nada
Cecília Meireles

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence.

domingo, 14 de outubro de 2007

Vai piorar...


Zé Agah publicou, neste domingo, 14.10.2007, matéria sobre o trânsito porto-alegrense. Sobre as dificuldades no trânsito porto-alegrense. Listam os pontos que identificam como críticos, de maior congestionamento. São 06 pontos: Ipiranga com Salvador França, Bento Gonçalves com Aparício Borges, Nilo Peçanha, Protásio Alves, Tunel da Conceição, Assis Brasil e Baltazar de Oliveira Garcia. Como sempre, nenhuma análise mais crítica sobre a responsabilidade do governo Fogaça, que nada fez de importante para melhorar o trânsito de Porto Alegre.

O que seria de esperar do governo Fogaça, que prometeu melhorar o que não está bom? Resolver isto, certo? Errado. Deixar como está. Pelo menos é o que afirma o responsável pelo trânsito do governo Fogaça.

Zero Hora, 14/10/2007

"Embora argumente que a situação da Capital é melhor do que a de outras metrópoles, como São Paulo, o diretor de Trânsito e Circulação da EPTC, José Wilmar Govinatzki, admite:

- Vai piorar."

Vou discordar, nobre diretor. Só vai piorar se o Fogaça continuar...



Comentários

Amigos (as),

Em um certo momento, nesta semana, vi que pararam os comentários. Já estava com saudade de ler os comentários de vocês quando meu amigo Diário Gauche avisou que não estava conseguindo inserir comentários aos meus posts. Vi, então, que estava com problemas de configuração no blog. Acho que já arrumei. Quem quiser comentar, acho que já está Ok.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Teoria econômica e pedágios


Fiquei uns dias fora do ar, quero voltar debatendo um tema que tem ocupado jornais e TVs regionais e nacionais. Não, não é o affair Renan, mas a questão das concessões de rodovias, os (im)populares pedágios.

Ouvimos, recorrentemente, durante as últimas décadas do século XX, que não havia alternativa à teoria que conferia ao mercado superioridade, em relação ao Estado principalmente, na gestão dos recursos econômicos. Alcunhou-se esta teoria, no ambiente político, de neoliberalismo e no ambiente econômico acadêmico de teoria econômica neoclássica. Seu pressuposto fundamental é o de que economias competitivas são levadas pelos mecanismos de livre mercado e livre competição, automaticamente, a melhor alocação possível de seus recursos. Em economia esta melhor alocação tem até um nome: "ótimo de Pareto". É o ponto em que não é possível mais melhorar a situação de um agente econômico sem piorar a situação de outro. Ou seja, os recursos estão alocados da melhor maneira possível, não é mais possível melhorar a situação de todos os agentes... Se o objetivo é beneficiar a economia como um todo, atingir o "ótimo de Pareto", o melhor seria, segundo esta teoria, apostar quase (para ser generoso) que exclusivamente no mercado.

Esta teoria fez-se diagnóstico e prescreveu remédios. O diagnóstico foi o de que as economias em que os recursos não estavam alocados da melhor maneira possível ("pareto-ineficientes"), menos competitivas, assim estavam em função da intervenção excessiva do Estado. Esta excessiva intervenção estaria aprisionando as forças da livre competição, do livre mercado. Mercado aprisionado, alocação ineficiente de recursos. A saúde seria recobrada quando o mercado votasse a comandar as relações econômicas. O remédio para isto veio sob a forma de recomendação de diversas políticas econômicas, entre elas:

a) Austeridade fiscal;
b) Juros altos;
c) Liberalização comercial;
d) Liberalização da conta de capital e dos mercados de capitais;
e) Privatização;

Austeridade fiscal e privatização como forma de reduzir o tamanho do Estado. Juros altos, liberalização da conta de capital e dos mercados de capital como forma de atrair dinheiro para o país. Liberalização comercial como forma de aumentar a competitividade da economia.

Todas estas políticas econômicas foram, em especial a partir do governo Collor, passando por Itamar, pelos dois mandatos de FHC e até o final do primeiro mandato de Lula, aplicadas no Brasil quase que ortodoxamente (no primeiro mandato do governo Lula paralisaram-se as privatizações). Mas será que estas políticas levam a mais eficiência alocativa, a mais capacidade competitiva, a ciclos virtuosos econômicos?

Vários economistas já disseram e dizem que não. Vou destacar um, porque a denúncia que faz dos erros da teoria neoclássica não pode sofrer ataque do preconceito que invalida qualquer leitura de mundo por partir de uma posição anti-capitalista. É Joseph Stiglitz, economista americano (ex-conselheiro para assuntos econômicos do Gov. Clinton e ex-economista-chefe do Banco Mundial (1997-2000)) ganhou o Premio Nobel em economia pela elaboração dos fundamentos de uma teoria econômica intitulada "teoria dos mercados com informações assimétricas".

Segundo os estudos de Stiglitz, os mercados são, via de regra, "pareto-ineficientes", ou seja, não levam a melhor alocação possível dos recursos econômicos, não levam a situações de organização mais eficiente da economia. Além disso, os mesmos estudos apresentaram situações em que a intervenção do Estado pode melhorar a economia toda. Vou recorrer a um bom texto da Wikipédia, apresentado abaixo em itálico, para resumir as conclusões de Stiglitz:

Todas as decisões econômicas precisam de informação. Stiglitz demonstrou que, em economias de mercado, a aquisição de informação está longe de ser perfeita (uns a obtém com mais facilidade que outros), bem como demonstrou que a maior parte dos ganhos obtidos através da obtenção de informação é composto por "rents", ou seja, ganhos de uns às custas de outros, o que não beneficia a economia como um todo. Isto é exatamente o contrário do "ótimo de Pareto".

Um dos argumentos mais usados para justificar a existência de mercados financeiros liberados (grifo meu, lembrar a letra d, acima, do receituário neoclássico) é que isso favoreceria a competição para a obtenção de melhores informações; se alguém descobrir, por exemplo, que uma ação é mais valiosa do que sua cotação indica, poderia comprá-lá antes que os demais descobrissem essa informação relevante, e realizar assim um ganho de capital. Mas a questão fundamental aqui não é saber se um investidor individual, por descobrir uma informação valiosa um nano-segundo antes dos demais, vai ficar mais rico. A questão que interessa saber é se a economia e a sociedade, como um todo, vão se beneficiar com isso: se essa obtenção de informação por um investidor esperto, um nano-segundo antes dos demais, não levar à uma mudança de decisões (por exemplo, de decisões relativas a investimentos reais) então esse ganho terá sido meramente redistributivo, isto é, os ganhos dos que obtiveram a informação sendo realizados às custas dos outros.

Para melhor ilustrar as conclusões desses estudos
[que demonstraram que os ganhos obtidos por informação antecipada são realizados as custas dos outros perderem], Stiglitz lança mão de um simples exemplo de sala de aula.

"Suponha que durante uma aula, como por milagre, 100 notas de 50 reais caíssem do forro, cada uma exatamente no pé esquerdo de cada aluno. Evidentemente os alunos poderiam esperar a aula terminar para apanhar o dinheiro a seus pés. Essa espera não alteraria em nada seus benefícios. Mas isso não seria um "equilíbrio de Nash": se todos os alunos fizessem isso, poderia ser beneficiado qualquer "espertinho" se agachasse imediatamente e apanhasse todas as notas que conseguisse do chão. Cada aluno individualmente, percebendo essa possibilidade, se abaixa para apanhar as notas ao mesmo tempo. O equilíbrio assim obtido não coloca nenhum dos alunos, nem a classe toda, em uma situação melhor do que se tivessem todos aguardado o fim da aula para apanhar o dinheiro - mas criou um "custo social imenso"; nesse exemplo, representado pela interrupção da aula. Existem potencialmente muitas outras ineficiências geradas pela aquisição da informação." Stiglitz, "Aula Magna"

Stiglitz descreveu, em seus primeiros trabalhos, como a existência de "assimetrias de informação" (i.é, uns saberem mais do que outros) pode destruir os mercados. Estes estudos preliminares provaram que quando os mercados estão ausentes, ou são imperfeitos, o equilíbrio de mercado pode ser "forçosamente Pareto ineficiente", o que equivale a dizer que, nessas circunstâncias, se não houvesse um "mercado", todos os participantes da economia seriam beneficiados.

Entregar ao mercado a tarefa de alocar recursos, no mais das vezes, não levará sempre a melhor situação alocativa.
Os estudos de Stiglitz revelaram que determinadas intervenções (governamentais) nos mercados poderiam beneficiar a economia como um todo e, por conseqüência, todos os indivíduos nela envolvidos.

A suposição da maior eficiência alocativa do livre mercado, erodida por Stiglitz, foi a base de sustentação teórico/ideológica dos programas de privatização no Brasil. Inclusive do de estradas...

Será que não está na hora de parar de fazer eco ao receituário econômico da eficiência alocativa superior dos mercados? Parar de achar que privatizar é sempre, em qualquer momento, a melhor escolha? Para, após, ao menos ouvir as recomendações de economistas como Stiglitz que, mesmo crendo no mercado como instrumento de alocação de recursos em alguns casos, sabem que antes de entregar áreas econômicas inteiras ao seu domínio é preciso contar com instituições fortes, com um Estado organizado e capaz de corrigir as imperfeições do mercado. Nosso Estado é capaz de fazer isto, que é o mínimo? Creio que, infelizmente, não.

A prova disso são os problemas como os que apareceram na CPI dos Pedágios aqui no Rio Grande do Sul: as concessionárias estabelecem a tarifa de pedágio que quiserem. O que não tem nada a ver com alocação econômica mais eficiente...

Em nível federal é, no mínimo, ingenuidade - perigosa ingenuidade - achar que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) terá a capacidade de conter as demandas futuras por aumento nas tarifas de pedágio. Não consegue sequer fazer, com autonomia em relação as empresas privadas, bons orçamentos para os leilões de concessão de rodovias, quanto mais fiscalizar depois...

Qual alternativa? Se você fez esta pergunta, atingi meu objetivo. A partir daí podemos começar a pensar...







terça-feira, 9 de outubro de 2007

O Pacotaço e a sociedade gaúcha III


"ACLAMANDO" o Pacotaço dos chefes...


Volto ao assunto do pacote. Retomo o tema tratado no final do primeiro post sobre o assunto, editado semana passada.

Lembram que falei da ausência de manifestação da classe média, em especial de um de seus auto-eleitos porta-vozes: A Associação da Classe Média (ACLAME). Pois manifestou-se. E não seguiram a mesma linha de 2006 (ou de quando o ex-governador Rigotto aprovou o seu tarifaço), quando distribuíram a rodo o adesivo "Chega de Imposto". Desta vez estão mais complacentes...

Confesso que já esperava isto. E esperava porque membros importantes de seu staff são hoje secretários estaduais e municipais. Uma óbvia pista do que estava por vir. Mas como não sou tido a profecias, preferi esperar. O tal do mérito da dúvida.

A opinião da ACLAME, transcrita abaixo, é de um malabarismo/oportunismo impressionante. Ei-la, publicada, na coluna de Rosane Oliveira de hoje, como seria de se esperar:
ZH, 09/10/07
página 10

"Lista dos Favoráveis

Os nomes dos deputados federais que votaram a favor da manutenção da CPMF estampam a nova campanha da Associação da Classe Média (Aclame) em 20 outdoors espalhados por Porto Alegre.

Em 2005, a Aclame adotou a mesma tática para criticar os parlamentares que aprovaram o tarifaço do governo de Germano Rigotto.

A Aclame ainda não sabe o que fará se os deputados estaduais aprovarem o aumento de impostos proposto por Yeda Crusius, mas o presidente, Fernando Bertuol, se mostra bem mais tolerante com Yeda do que foi com Rigotto ou é com o governo federal.

- Há muito mais chances de se tirarem recursos do governo federal do que do estadual, que está no sufoco. Para a sociedade, o fim da CPMF teria um impacto maior e mais benéfico do que a retirada do aumento estadual - compara Bertuol."

Ah tá. E porque foram contra o tarifaço do Rigotto? O Estado não estava em dificuldades?

Prezados (as), uma pista: não havia diretores e conselheiros administrativos da ACLAME no secretariado estadual ou municipal do Rigotto... Agora há, três, para ser mais exato (se quiser saber quem são, veja o primeiro post da série "o Pacotaço e a sociedade gaúcha", neste blog).

Depois os partidos políticos é que são fisiológicos...

Deviam mudar o lema para: "Chega de impostos de governos em que não participam membros da ACLAME".

Como diz o macaco Simão: "Nóis sofre mas nóis goza"...