quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Se o Brasil não fizer, alguém fará...

Ainda vão descobrir algum estrangeiro torturado nos porões da ditadura brasileira, ou ao menos em porões de outras ditaduras latino americanas (como a uruguaia, a chilena e a argentina). Aliás, estão chegando perto. Ou o Brasil (executivo e judiciário) trata disso ou será, constrangedoramente, instado a tratar. Se não for porque é o caminho mais correto, que seja para evitar a vergonha de não resolver o que deve por suas próprias pernas.

Leiam a matéria do El País:

España entrega a Italia a un ex fiscal de la dictadura chilena
EFE - Roma - 14/08/2008


El ex fiscal militar durante la dictadura chilena Alfonso Podlech Michaud fue entregado ayer a Italia desde España y se encuentra encarcelado en la prisión romana de Rebibbia, según confirmaron fuentes del centro penitenciario.


Podlech Michaud había sido detenido el pasado 27 de julio en el aeropuerto madrileño de Barajas, en cumplimiento de una orden europea de detención y entrega emitida por las autoridades italianas.
El ex fiscal militar será interrogado en los próximos días por el fiscal Giancarlo Capaldo, que se ocupa de la desaparición de 25 italianos durante la Operación Cóndor, como se denominó la acción de las dictaduras de Argentina, Paraguay, Uruguay, Chile, Brasil y Bolivia para acabar con los opositores en los años setenta y ochenta del pasado siglo XX.
La Operación Cóndor, en la que colaboraron varias dictaduras sudamericanas para eliminar a disidentes, fue la base de la investigación del juez Baltasar Garzón que propició la detención, en Londres, del ex dictador Augusto Pinochet en 1998.
Garzón pidió la detención y entrega de Pinochet para ser juzgado por genocidio y, aunque éste fue llevado finalmente a Chile, estuvo año y medio detenido en Londres en situación de arresto domiciliario.
En particular, el fiscal acusa a Podlech de la desaparición del ex sacerdote de origen italiano Omar Venturelli en 1973. El nombre de Podlech se encontraba entre las 140 órdenes de arresto y extradición emitidas por la justicia italiana a finales del año pasado contra ex militares y políticos de Argentina, Bolivia, Brasil, Chile y Perú.
Militar uruguayo
En los próximos días se espera también la extradición del ex militar uruguayo Antranig Ohannessian, detenido en marzo en el aeropuerto de Buenos Aires (Argentina), y acusado del secuestro y asesinato de cuatro ciudadanos italianos durante una operación contra el Partido para la Victoria del Pueblo (PVP) entre septiembre y octubre del año 1976.
El fiscal confió en que las declaraciones que efectúen ambos ex militares serán muy importantes para el futuro proceso judicial, que espera que se pueda iniciar antes de finales de año en Roma.

Americanismos grosseiros de ZéAgah


Zero Hora
14 de agosto de 2008 N° 15695
GUERRA NO CÁUCASO
EUA cobram trégua da Rússia
Ontem, Moscou teria desrespeitado o acordo de cessar-fogo

A guerra é na Geórgia, mas foram os Estados Unidos que ontem endureceram o discurso e atacaram a Rússia – reacendendo a tensão que assombrou o mundo durante os anos de Guerra Fria. Diante da suposta violação do acordo de cessar-fogo dos russos, o presidente americano, George W. Bush, deixou de lado a postura discreta e tomou partido no conflito.Ele fez um pronunciamento logo depois de receber a notícia de que os russos haviam rompido a trégua, ao realizarem novas investidas em território georgiano. Os EUA exigiram de Moscou o cumprimento do cessar-fogo assinado na terça-feira e acusaram suas tropas de estarem bloqueando as principais vias da Geórgia. Bush decidiu enviar a secretária de Estado, Condoleezza Rice, a Paris, na França, e a Tiblisi, capital da Geórgia, para tentar auxiliar a solucionar a crise na região do Cáucaso.
– Nós não estamos em 1968 e na invasão da Checoslováquia, onde a Rússia pode ameaçar um vizinho, ocupar uma capital e derrubar um governo. As coisas mudaram – disse Condoleezza.
...
Ontem falei disto aqui no Blog. Nenhuma novidade, ZéAgah é lento jornalismo. Lento e limitado, porque cego pelo viés.
Em algum lugar da matéria você encontra alguma informação sobre qual a diferença entre 68 e os dias atuais? Não. Porque os EUA aceitavam, em 68, a Rússia ameaçando um país vizinho e derrubando governos, como diz Condoleezza?
Dei a dica: naquela época o mundo estava, por acordo, o de Yalta, pós-segunda guerra, dividido em 2/3 sob o dominio dos EUA e 1/3 da União Soviética. Discursos e ideologias à parte, salvo algumas - importantes - tensões localizadas, Vietnam por exemplo, manteve-se assim por um longo período. É por isso que Condoleezza diz o que disse. Numa coisa ela está certa, não estamos em 68: Não há acordo agora. As coisas mudaram. Noutra, não: Se não há acordo, pode-se quase tudo. Ao ouvir isto, Putin deve ter pensado: e eles, podem invadir o Iraque, contra todas as opiniões?
Esta é mais uma tensão que poderá, ou não, levar a um acordo. O Iraque não levou. Sobram instâncias de coordenação, mas ainda nenhuma tem capacidade para estabelecer um acordo geral legítimo: G8, OTAN, Forum de Davos, etc. A segunda guerra, e muita coisa que aconteceu antes e durante, levou a Yalta. Mas havia, ao final desta, mais do que uma disputa entre países capitalistas imperialistas. E agora? O papel ideológico, não-capitalista, da União Soviética está vago... O conflito atual é "só" por melhores condições para a acumulação de capital para a Rússia ou para os Estados Unidos.
Mas este raciocínio, importante para entender o que está acontecendo, você não vê em ZéAgah. O que você vê? Vê os EUA no papel de disciplinador do mundo. Vê a possibilidade de retorno da Guerra Fria. Não vê porque o cessar-fogo não se cumpre integralmente, mesmo com os EUA levantando a voz. Não vê a guerra por gás e petróleo. Não vê porque Putin, quem verdadeiramente manda na Rússia, ainda não se pronunciou. Não vê que assim é porque está apenas começando.
No acordo de cessar-fogo não estão os principais elementos do conflito. Por isso ele é precário.
Embora tenha a informação, nas falas de Condoleezza e Sergei Lavrov, ZéAgah não informa. Usa como entrelinha da descrição dos fatos o viés do alinhamento ideológico/moralista pró-EUA: EUA=defesa dos bons valores (liberdade, etc.). Mas o fato é que no Iraque e na Geórgia, por dois caminhos diferentes, os EUA miram, exclusivamente, a preservação de seus interesses econômicos. Com governos legítimos (Georgia) ou ilegítimos (Iraque). E a Rússia, também.
Leia, a partir disto que disse, a declaração de Sergei Lavrov, chanceler russo, na mesma matéria de ZéAgah:
A liderança da Geórgia é um projeto especial para os EUA. Em algum momento, será necessário escolher entre apoiar esse projeto virtual ou então apoiar uma parceria real em questões que requerem uma ação coletiva – disse o chanceler russo, Sergei Lavrov.
Esta "parceria" estava fixada em Yalta. Não existe mais. Mas a Rússia, Putin, mandou avisar que está de volta ao palco. Em iguais condições...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Palco de guerra inter-imperialista


Basta olhar a zona de combate desde o final do século XX para perceber que o embate real não é entre potencias imperialistas, como Rússia e Estados Unidos, e pequenos países, como Iraque, Geórgia, Afeganistão ou, talvez em um futuro próximo, Irã. Não são guerras localizadas, de curto prazo.
O que estamos vendo - e, infelizmente, vivendo - é o ensaio geral de uma disputa imperialista entre Estados Unidos e Rússia por espaços vitais para sua reprodução econômica, regida, em ambos os casos, pelo sócio-metabolismo do capital. Ambas são as nações poderosas hoje com capacidade para agir, "autonomamente", no plano internacional. E agem na mesma zona: Oriente Médio e Ásia Central. Porque o controle destas regiões significa o controle de grande parte do estoque e/ou do fluxo mundial de petróleo e gás natural. E o maior acesso a estas duas fontes de energia gera diferenças significativas na capacidade de reprodução do capital na Rússia e nos EUA.
A China apenas observa. A Europa só observa e reage, alia-se, mas não lidera aliados. A China talvez esteja esperando o momento certo. Talvez por ainda não ter aliados orgânicos. É como alguém que espera o instante adequado para agir sem que suas ações transformem a todos em inimigos. A Europa assim está porque ainda não tem coesão suficiente para agir com rapidez, precisão de objetivos e eficiência. Ou, o que dá quase no mesmo, porque ainda não abandonou totalmente a pretenção de agir como União Européia.
Está em curso o desenho de uma nova ordem internacional, pós-Yalta. Com o agravante de não opor dois sistemas ideologicamente diferentes quanto ao sistema econômico (o que acontecia na Guerra Fria): Rússia e EUA são nações capitalistas.
Os acontecimentos atuais, perspectivas e incertezas das potências militares e econômicas direta ou indiretamente envolvidas no atual embate imperialista, têm imediata repercussão no mundo todo. Um exemplo, a insegurança quanto ao cenário resultante na Eurásia, fez os EUA reativarem a IV Frota; sem dúvida uma precaução para manter os fluxos de petróleo da América Latina sob seu domínio.
Vivemos e viveremos cada vez mais sob este contexto.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Em que águas navegam os barcos nesta eleição de Porto Alegre?


Há um certo consenso se formando quanto a atual campanha eleitoral: ela está morna. Um dos motivos apontados é a maior limitação de opções de campanha que a Justiça Eleitoral está operando, a partir de uma lei eleitoral mais restritiva. Também é apontado o fato de a maior parte dos candidatos ter outras agendas políticas fora da campanha: alguns estão "presos" as suas agendas em Brasília e Fogaça a sua agenda de prefeito.

Eu acrescentaria um terceiro: a homogeinização dos discursos. Tudo muito igual, na mesma linha. Mesmo quando aparece uma ou outra proposta nova, logo a seguir esta é contrabalançada por outra e assim por diante, em uma espécie de campeonato de quem inventa mais. Mas as invenções são, como já disse em uma postagem anterior a esta, sempre para criar mais do mesmo. Idéia nenhuma aparece tratando de questões ligadas a possibiidade de interferência da prefeitura do município no padrões de geração e distribuição de riqueza na cidade ou de socialização (O atual regramento do uso do solo em Porto Alegre está servindo para reduzir ou aumentar a segregação social? O regime tributário municipal é estruturado de forma justa, isto é, quem tem mais renda paga mais? O orçamento municipal é organizado e executado focando as zonas de menor renda?); mudanças estas que podem ser produzidas a partir da ação do prefeito usando suas prerrogativas fiscais e de planejamento urbano. Há um poderoso bloqueio neste sentido.

Há muitas consequências da ausência destas questões em processos políticos como a atual eleição. Uma delas é que as escolhas das pessoas, neste cenário, produz-se sobre critérios derivados de processos de socialização ocorridos em grupos menos verticalizados. São exemplos destes o grupo escolar (escolaridade), o grupo etário (idade) e o grupo de gênero. Grupos mais verticalizados, como classes sociais (renda), são secundarizados em contextos como o atual. No caso específico de Porto Alegre, as identidades que estão operando com mais força são escolaridade e idade. Um fato interessante é que a presença de três mulheres está anulando o fator gênero como produtor de critérios de escolha.

Os critérios de escolha de lideranças consensuados nestes grupos menos verticalizados - em especial escola e idade - são, em geral e principalmente, aqueles mais ligados aos atributos próprios do indivíduo, formados em sua trajetória pessoal, e não os relacionados diretamente as convicções político-ideológicas da liderança. Competência, inteligência, arrojo/capacidade de inovação, experiência, etc. - todos em sentido abstrato, sem definir a que lugar esta competência, inteligência, arrojo, experiência irá levar-nos, ou para quem trabalha, que interesses atendende, etc. - são exemplos destes atributos.
Estamos, até aqui, diante de uma eleição despolitizada, por mais paradoxal que pareça. Uma briga de egos. Se nada mudar, terá mais chances o candidato(a) que conseguir melhor atribuir-se, na média, qualidades pessoais como as que cito acima. Mas estas qualidades servirão para quê? Muitos eleitores só se darão conta muito depois de apertar a tecla FIM, para fazer referência a postagem do meu amigo do Diário Gauche.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O problema real III.

08 de agosto de 2008 N° 15688
Zero Hora
ENERGIA
Braskem planeja usina para tratar resíduos

Reduzir em 92% o lixo urbano de Porto Alegre e gerar energia para abastecer até 55 mil residências são os benefícios da primeira usina de tratamento térmico de resíduos sólidos em escala comercial do Brasil que a Braskem estuda implantar na Capital. Segundo a empresa, um estudo indica que seriam necessários R$ 100 milhões para implantar uma unidade capaz de processar 600 toneladas de lixo por dia.
Esta semana está cheia de surpresas. Tudo em Porto Alegre virou objeto de cobiça do mercado. Da paisagem do Guaíba, propriedade de todos, até o lixo. E o poder público municipal e estadual aplaude e incentiva.
Duas observações, caros amigos.
Um. Os empresários querem construir residências na área do Estaleiro porque a dois passos está o Guaíba e sua paisagem. Por isso fizeram o projeto para lá e não para outro lugar, porque a maravilhosa vista e o acesso impar ao Guaíba atribuem um valor sensívelmente maior para este projeto em relação a outras áreas. Vão transformar um bem público, a paisagem e o lago, em lucro privado sem pagar um centavo por isso. O que vale ali, mesmo, é o que é público e será privatizado. O resto é comum, é igual, é ferro e cimento.
Dois. O mesmo vale para o lixo. Você pagou por ele, ele é seu. Ele é a sobra do supermercado, teve valor antes do consumo e tem valor depois dele. Quando o poder público o armazena e/ou faz uso dele de alguma forma, você ainda é dono do seu lixo. Porque você é, mesmo com limitações, desvios e intermediações, parte do poder público. Além disso, seu uso pelo poder público deve obedecer a finalidade pública, isto é, reverter exclusivamente para a sociedade. neste caso, você estará doando um valor seu para a coletividade. Se, ao contrário, o lixo é transferido para uma empresa privada, ele deixa de ser seu e passa a ser de outro (dono ou donos da empresa). Alguém vai lhe pagar por isso? Não. O resultado da operação da empresa privada virá para você, sob a forma de serviço de energia, de graça, ou, ao menos, abatido do valor que ele tem antes de transformado em energia? Não, eles cobrarão uma tarifa integral.
Prá quem isso é bom negócio do jeito que está sendo proposto? Só para a Braskem. Existe outra forma de fazer? Existe. Com o poder público comandando o que é público. Uma Usina pública com parceria privada. A presença do ente público na gestão e comando garantirá a justa apropriação do valor do lixo como matéria prima e o retorno disso, na justa proporção, para todos os cidadãos de Porto Alegre. Ao mesmo tempo que, a empresa - ou empresas - interessadas nisso receberão seu retorno na exata proporção do capital ou da tecnologia que apropriarem.
Candidatos (a) a prefeito, com a palavra.

Monumento errado no lugar errado

"O conflito começou por uma operação policial absolutamente criminosa. Eles estavam prontos para deixar a Praça, acertados com o governador. Estavam conversando dentro do Palácio.Aí, a versão da polícia: fomos atacados. Um dia depois, o comandante da operação dizia: um soldado foi ferido na cabeça e daí foi impossível controlar. Como é que você bota um monte de soldados na rua que não conseguem controlar uma pedrada? Você tem um conflito localizado, quase terminando e você transforma a cidade inteira em uma praça de guerra?"

Delmo Moreira, que na época do episódio era subchefe da sucursal do conflito da Estado de S. Paulo, em Porto Alegre, citado em OS SILÊNCIOS DO CONFLITO DA PRAÇA DA MATRIZ de Débora Franco Lerrer.

O Comandante da Brigada Militar, Coronel Mendes, ao propor a colocação de um monumento próximo a Esquina Democrática, não quer homenagear o soldado Valdeci de Abreu Lopes, morto no conflito entre soldados da brigada e os sem-terra em 08 de agosto de 1990. Quer instrumentalizar ideológicamente sua morte - injustificável sob qualquer angulo. Quer fazer uso, mórbido, deste fato ocorrido a dezoito anos para seguir dando curso em sua - e de Yeda Cruzes -guerrinha - unilateral - particular com os movimentos sociais, em especial com o MST.
Para entender isto basta perguntar quantos outros soldados, mortos no estrito cumprimento do dever (sem nenhuma sombra de dúvida, o que não é o caso atual, como podemos ver pela citação acima), tem monumentos seus erigidos no centro de Porto Alegre. Nenhum. Então, porque este em especial?
Outra coisa seria se a proposta fosse um monumento em homenagem a TODOS os brigadianos que tombaram em ação, desde a fundação da Brigada. Na Av. Júlio de Castilhos, talvez. Um monumento que lembrasse porque a Brigada foi criada por Júlio de Castilhos, no curso dos acontecimentos revolucionários do século 19 no RS: Ela foi fundada para defender o Estado contra a oligarquia rural conservadora - maragata - que, desalojada por Castilhos do poder, queria retomá-lo para uso exclusívo (algo como um quintal da casa grande). Um monumento que registrasse a sua história institucional através dos que tombaram para construí-la: Seus atos dignos e também os indignos, pois todas as instituições humanas os tem. Lembrar não seletivamente , Coronel Mendes, é o que diferencia democratas de fascistas.
Lembrar a origem da Brigada Militar entristece mais ainda. Mais de cem anos depois de sua criação, uma instituição criada para conter o ímpeto elitista, exclusivísta, egoísta, de uma fração conservadora da oligarquia rural age agora, ideologicamente, a seu favor. Tenta criar um simbolo contra a luta pela reforma agrária. Tenta fincar um totem anti-democrático - porque parcial - em plena esquina democrática, ou próximo dela. Pobre Estado do Rio Grande do Sul, não são só as suas finanças que estão em estado terminal. Sua cultura e, em especial, suas instituições, que não resistem a provocação do Coronel, também...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A propósito


Prepare-se para qualquer coisa.


Você compra seu apartamento, informado que para a ocupação do terreno ao lado há duas limitações legais (estabelecidas no Plano Diretor Urbano) importantes: uma quanto a altura, recuos, uso do espaço, etc. que lhe garantirá uma vista perene e outra, quanto ao uso, que só permite ocupação residencial. , o que lhe garantirá um ambiente sem grandes sobressaltos.
Muda-se, com toda a familia, cachorro, papagaio, periquito. Alguns dias depois abre o jornal local e, bingo, este lhe informa que para o bem geral da nação - medido por uma tal de viabilidade economica - empresários que você nunca ouviu falar estão pedindo a alteração do Plano Diretor, para permitir a construção de um prédio 20 andares, colado ao seu (com menos recuo do que o exigido anteriormente, o que significa que o verão até...), com uma casa de espetáculos na altura de seu andar (a única do mundo desse jeito). Você teria comprado o apartamento se soubesse antes desta possibilidade?

Pois é o que vai virar regra se forem alteradas as regras para ocupação da área do Estaleiro Só. Basta haver interesse econômico poderoso e, abracadabra, mudam-se as regras.

Mais um agravante. Quando pagaram 7 milhões de reais pela área do Estaleiro Só, esta valia isto sob a restrição para uso somente comercial. Esta restrição, muito provavelmente, limitou o número de interessados no leilão e/ou reduziu o valor de venda. Se a Câmara de Veradores alterar a restrição vai estar, primeiramente, privilegiando os compradores em detrimento de quem vendeu. Tudo errado, qualquer que seja o aspecto analisado.

Senhores candidatos(as) a prefeito(a): com vocês a palavra. Porto Alegre vai virar terra de ninguém, onde podem somente os ricos e poderosos?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Problema real II

A propósito do mundo que não aparece nos debates e propostas dos candidatos a prefeito: ler o texto do RS Urgente "Porto Alegre sob o domínio da pedra". E há "gente fina classe média" de Porto Alegre achando que o problema é o Rio de Janeiro...

O problema real.

Enquanto os candidatos debatem o mesmo de sempre, o mercado segue fazendo das suas. Uma área que deveria ser pública será privatizada: o terreno do Estaleiro Só. Deveria ser pública como é a área contigua ao Parque Marinha do Brasil e a Usina do Gasômetro. Não será. Será ocupada por imensos prédios residenciais.
O problema da proposta ocupação residencial é que ela será destinada a pequena fração da população que possui gordas contas bancárias e costuma fechar-se em condomínios inacessíveis, com medo da violência. Alegar que haverá possibilidade de acesso para toda a população é quase uma piada de mau gosto. O que hoje se apresenta é, sim, um projeto que privatiza definitivamente uma área do Guaíba.
Alegam os "doutos" empresários que nenhum outro tipo de empreendimento é economicamente viável. E daí?
O Parque Marinha é economicamente viável? A Usina do Gasômetro é economicamente viável? A Redenção é economicamente viável? O Museu Iberê seria economicamente viável, não fossem os milhões de incentivo cultural dados pelo Estado brasileiro? O MARGS é economicamente viável?
O uso do espaço público não deve organizar-se exclusivamente - e nem principalmente - pelo principio do economicamente viável, mas do economicamente sustentável, do publicamente correto, do ambientalmente adequado...
Mas nenhum candidato contraria. Preferem discutir outras coisas. Deveriam estar dizendo se concordam ou não, oferecendo alternativas.
Vocês já imaginaram se na frente do Parque Marinha houvessem imensos aranha-céus a tapar o horizonte totalmente aberto ao por-do-sol? É mais ou menos isto que vai acontecer naquela ponta da Beira-Rio. E depois, o que virá, qual será o próximo projeto economicamente viável?
Não quero nem pensar...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A seguir deste jeito, vão escolher mais do mesmo...


Recomendo a leitura da postagem "Porto Alegre é Demais" do Marco W. no blog RSURGENTE. Um trechinho: "(...) Mas vendo Porto Alegre aqui de Buenos Aires, comparando o que há nas bancas de jornais, é assim que a cidade me parece. Porto Alegre é demais, diz a letra de conhecida música. Hoje, está conservadora demais, reacionária demais e medíocre demais."

Lendo-a lembrei-me do tempo que perdi assistindo ao debate na TV Bandeirantes, dia 31/07/08, entre os candidatos a prefeito (a) de Porto Alegre. Não é somente nas bancas de jornais que Porto Alegre mostra-se sem criatividade, sem disposição para inovar, mudar de fato, oferecer alternativas progressistas. Nenhum dos candidatos saiu da mesmice, do repeteco burocrático/administrativista: critica ao atual x "mais saúde, mais educação, mais segurança, mais...". Não houve diferenças marcantes entre os candidatos (as). Diferenças de desempenho retórico, de imagem, de segurança diante das cameras, talvez. Mas de conteúdo - ou de linha - não.

Cada um dos candidatos procurou mostrar-se mais capaz de resolver problemas temáticos da cidade: saúde (mais postos, mais agentes de saúde, etc.), segurança (mais guardas, etc.), etc. Todos adotaram a linha "melhorar", "aumentar", "fazer mais". Nenhum (a) adotou a linha inverter, revolucionar.
Nenhum apresentou uma alternativa paradigmaticamente (para não usar ideologicamente, palavra que parece estar sendo criminalizada em Porto Alegre) diferente, a altura da cidade que, no passado recente, erigiu uma das mais modernas, poderosas e profundas experiências de Democracia do século XX. Experiência que foi , não por acaso, capaz de referenciar Porto Alegre como a sede do movimento de alternativa ao modelo de mundo protagonizado por Mr. Bush e seus parceiros do Forum de Davos: o Forum Social Mundial.
Enquanto Mr. Bush e seus associados de Davos ofereciam ao mundo um modelo de redenção baseado na hiper-valorização do capital, na extensão sem limites da sua dinâmica a todas as dimensões da vida na terra, no mercado e no consumo como mecanismos organizadores de todos os valores humanos, em Porto Alegre surgia uma outra prática, propondo a recondução da política ao status de categoria organizadora de valores e ações humanas, através da democracia radical, participativa. Esse era o rumo que Porto Alegre seguia, suas políticas públicas eram organizadas a partir deste sentido, oferencendo resistência a vida subordinada a reprodução do capital, ao mercado. Até 2005 iniciar.

Neste sentido, entre os candidatos (as) não vi nada diferente, no sentido de radicalmente alternativo, do que ai está. Ao menos, nada organizado sob um claro conceito capaz de expressar uma alternativa. Porto Alegre podería até escolher continuar conservadora, medíocre, reacionária, mas, ao menos, teria opção. Não é o que estamos vendo...