sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Monumento errado no lugar errado

"O conflito começou por uma operação policial absolutamente criminosa. Eles estavam prontos para deixar a Praça, acertados com o governador. Estavam conversando dentro do Palácio.Aí, a versão da polícia: fomos atacados. Um dia depois, o comandante da operação dizia: um soldado foi ferido na cabeça e daí foi impossível controlar. Como é que você bota um monte de soldados na rua que não conseguem controlar uma pedrada? Você tem um conflito localizado, quase terminando e você transforma a cidade inteira em uma praça de guerra?"

Delmo Moreira, que na época do episódio era subchefe da sucursal do conflito da Estado de S. Paulo, em Porto Alegre, citado em OS SILÊNCIOS DO CONFLITO DA PRAÇA DA MATRIZ de Débora Franco Lerrer.

O Comandante da Brigada Militar, Coronel Mendes, ao propor a colocação de um monumento próximo a Esquina Democrática, não quer homenagear o soldado Valdeci de Abreu Lopes, morto no conflito entre soldados da brigada e os sem-terra em 08 de agosto de 1990. Quer instrumentalizar ideológicamente sua morte - injustificável sob qualquer angulo. Quer fazer uso, mórbido, deste fato ocorrido a dezoito anos para seguir dando curso em sua - e de Yeda Cruzes -guerrinha - unilateral - particular com os movimentos sociais, em especial com o MST.
Para entender isto basta perguntar quantos outros soldados, mortos no estrito cumprimento do dever (sem nenhuma sombra de dúvida, o que não é o caso atual, como podemos ver pela citação acima), tem monumentos seus erigidos no centro de Porto Alegre. Nenhum. Então, porque este em especial?
Outra coisa seria se a proposta fosse um monumento em homenagem a TODOS os brigadianos que tombaram em ação, desde a fundação da Brigada. Na Av. Júlio de Castilhos, talvez. Um monumento que lembrasse porque a Brigada foi criada por Júlio de Castilhos, no curso dos acontecimentos revolucionários do século 19 no RS: Ela foi fundada para defender o Estado contra a oligarquia rural conservadora - maragata - que, desalojada por Castilhos do poder, queria retomá-lo para uso exclusívo (algo como um quintal da casa grande). Um monumento que registrasse a sua história institucional através dos que tombaram para construí-la: Seus atos dignos e também os indignos, pois todas as instituições humanas os tem. Lembrar não seletivamente , Coronel Mendes, é o que diferencia democratas de fascistas.
Lembrar a origem da Brigada Militar entristece mais ainda. Mais de cem anos depois de sua criação, uma instituição criada para conter o ímpeto elitista, exclusivísta, egoísta, de uma fração conservadora da oligarquia rural age agora, ideologicamente, a seu favor. Tenta criar um simbolo contra a luta pela reforma agrária. Tenta fincar um totem anti-democrático - porque parcial - em plena esquina democrática, ou próximo dela. Pobre Estado do Rio Grande do Sul, não são só as suas finanças que estão em estado terminal. Sua cultura e, em especial, suas instituições, que não resistem a provocação do Coronel, também...

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