quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Eleições de 2008 I - polarização

Sobre a pesquisa DataFolha, divulgada este final de semana passado.

Primeira observação. Dividindo os partidos em blocos, tendo como referência o posicionamento em relação ao atual governo muncipal, há uma certa estabilidade de preferências no eleitorado porto-alegrense: metade vota PT, PCdoB e PSol, oposição clara ao atual governo municipal, e a outra metade PMDB, PP, PSDB, DEM e PDT, apoiadores diretos ou indiretos da situação. Não há transferência significativa de votos de um bloco para outro em caso de alteração de cenários de candidaturas. No único cenário em que acontece migração de um bloco para outro, esta é menor que a margem de erro, 5%, portanto não tem relevância para efeito de análise.

Segunda observação, neste nível de abstração, a fotografia atual é mais favorável a oposição do que foi o resultado do primeiro turno de 2004. Naquele, o atual bloco de oposição obteve 38,75% dos votos totais contra 54,30% dos votos do atual conjunto de partidos que sustentam o governo Fogaça. A melhor situação atual, materializada em uma situação de equilibrio em relação aos votos totais, deve-se a uma maior quantidade de votos brancos e nulos, comparada a eleição de 2004. Na eleição de 2004, houve 6,35% de votos em branco e nulos. A pesquisa aponta de 11% a 16%, dependendo o cenário. O destino destes votos é decisivo para situação e oposição. Aparentemente, a má avaliação do governo Fogaça retirou eleitores dos partidos que sustentam seu governo, mas isto não foi suficiente para a oposição capturá-los.

Terceira, imagine que os discursos de oposição e situação anulem-se, não sendo suficientes para alterar o percentual de brancos e nulos (ou que a situação os ganhe, com em 2004), imagine, também, os indecisos como abstenções (na pesquisa são cerca de 10 a 12%, na eleição de 2004 tivemos 13,63% de abstenções); mantida a divisão da oposição em três candidaturas com percentuais próximos esta poderá ser a primeira eleição em 20 anos em que corre-se o risco de dois candidatos de partidos apoiadores da situação (direita) estarem no segundo turno: Fogaça e Onix Lorenzoni.

Que estratégia deveria a oposição adotar para evitar que cerca de 40% da população, em função da pulverização de candidaturas de oposição com contingentes de votos similares, fique sem a possibilidade de escolha ótima (dentro de seu bloco de preferências) no segundo turno? Há uma estratégia possível para isso?

Fica para o próximo post.










5 comentários:

Anônimo disse...

Não gosto destas pesquisas eleitorais e me preocupa que os partidos a levem tão a sério. É claro que FOgaça, sendo prefeito, tendo a máquina pública a seu favor e blindado pela mídia, esteja no segundo turno (diferente do Rigotto que foi defenestrado, mais pela incompetência dos seus aliados políticos ao tentarem alijar o PT do segundo turno, e se deram mal).
Apontar o Olívio como preferência do eleitorado é o óbvio, pois se sabe que ele não é pré-candidato. Assim, este percentual não vale.
Manuela e Lu Genro: mais uma versão do "novo".
Rosário e Rossetto: afirmar que a primeira tem a preferência do eleitorado me cheira a vontade pautar qual a candidatura petista que mais se adequa aos interesses da direita guasca. Se dá Rosário, é bom desconfiar da associação Datafolha/RBS: esta tem mais chance de perder num confronto FogaçaXRosário.
Quanto a ter dois candidatos representantes da direita, FogaçaXOnyx, só se a campanha dos partidos oposicionistas forem muito ruins. E mais, tentaram no estado e não colou.
Além disso, pesquisa por amostragem pode ser tendenciosa. Basta escolher quais bairros, quais categorias sociais, quais faixas etárias e "temos as respostas que desejamos".
Sou favorável às pesquisas eletorais, mas àquelas realizadas pelos próprios partidos políticos, jamais por empresas de comunicação.
Abraço!!!

Andre Passos disse...

Cláudia,

Primeiro, também não sou fã incondicional de pesquisas, mas servem de referência para o debate. Nunca devem ser tomadas ao pé da letra, inclusive as feitas pelos partidos políticos, mas tem, no mínimo, impacto na formação de opinião.
Deves ter notado que a anáise que fiz não "pessoaliza", como diria o Olívio. É porque o que me interessa é a situação apresentada na pesquisa: divisão da oposição, pela primeira vez com candidaturas com apelo eleitoral semelhantes. Se isto é uma "verdade" ou é fabricado pela mídia, acho que o que importa é que o eleitor informa-se por elas. A realidade política para o eleitor médio é, em grande medida, a das folhas de jornal, das ondas de rádio e da imagem televisada. E as pesquisas são parte central desta "realidade", ou a mídia não as usaria...
Segundo, há um evidente estímulo a uma desgastante briga dentro do PT, depois a uma disputa eleitoral dentro do bloco de oposição.
Por fim, também pode ser pensado que a situação conservadora não prefere nem Miguel Rossetto nem Maria do Rosário. Prefere estimular um tipo de briga que desgasta qualquer que seja o vencedor das prévias. Sabe que Rossetto tem maioria interna no PT e que apresentá-lo bem nas pesquisas evitaria a prévia. Sabe que Rosário não tem e a sua disposição para a prévia depende muito do bom posicionamento nas pesquisas. Tanto faz quem seja, interessa é o conflito interno...
O que eles preferem mesmo é enfrentar uma oposição rachada e desgastada por brigas internas.Preferem dois de seu bloco conservador no segundo turno. Ah, se o PT não moderar no seu debate interno, não ganham só as candidaturas conservadoras, ganham as outras candidaturas da oposição (Manuela, principalmente...)
Não te parece razoável?
Obrigado pela contribuição, são hipóteses verdadeiramente tão ou mais válidas do que as minhas.

Abraço

Anônimo disse...

Em suma, André, se POA está ruim hoje, pode certamente piorar mais ainda em 2008/2009/2010....

Carlos Eduardo da Maia disse...

Acho a vantagem do Fogaça muito pequena, o que vem a mostrar que faz um governo pífio (é o que considero), mas como sempre acontece no RS, a eleição vai ser decidida e polarizada no segundo turno. Boa luta.

Omar disse...

Faz assim: entrevista 1000 pessoas. Decida o resultado que gostaria que desse. Escolha, das 1000, menos de 500, distribuídas proporcionalmente e que concordam com o resultado previamente escolhido. Coloque uma margem de erro de 5 para cima e 5 para baixo...