sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Cenas da disputa presidencial 2010: a desistência de Aécio Neve

Destaque do artigo abaixo:

De maneira diferente, mas com os mesmos fundamentos, repete-se, nas eleições do ano próximo, o problema registrado em 1930. Os paulistas estavam convencidos de que a sua supremacia econômica significava, necessariamente, seu predomínio político sobre a Federação. Em razão disso, vetaram a candidatura do então governador de Minas, Antonio Carlos – o que acabou conduzindo o gaúcho Getulio Vargas ao poder.


A decisão de Aécio Neves

17/12/2009
Por Mauro Santayana, no Jornal do Brasil

Quando, instado por importantes personalidades da sociedade brasileira, entre elas líderes políticos regionais, a candidatar-se à sucessão presidencial, Aécio Neves sugeriu consultas prévias às bases partidárias. Seria a forma mais democrática de escolha. Não deveria o partido, que surgiu da dissidência do PMDB, em oposição ao mando do governador de São Paulo, Orestes Quércia, ficar submetido à vontade de duas ou três personalidades paulistas, como vinha ocorrendo desde a Presidência de Fernando Henrique.

Em uma Federação, os diretórios regionais devem ter o direito de expor suas ideias e suas preferências, de acordo com as condições políticas locais. Não podem transformar-se em caudatários resignados de um diretório em particular. O problema não houve em 1995, porque o PSDB não elegeu o sociólogo; quem o elegeu foi Itamar Franco. O PSDB não o elegeria, sem o claro apoio do presidente da República, que dispunha de prestígio equivalente ao do atual chefe de Estado.

Os paulistas, com Fernando Henrique à frente, se opuseram às prévias, ao perceber que o governador mineiro as venceria facilmente. Aécio, nas visitas esporádicas aos estados, reunia poderosas alianças regionais, em torno dos diretórios de seu partido. Se realizadas, as consultas confirmariam a tendência já registrada. Por isso, Serra, Fernando Henrique e Geraldo Alckmin não aceitaram a consulta.

Não aceitaram a consulta, nem tiveram a coragem de dizer ao governador de Minas que pretendiam impor a candidatura paulista. Interessava-lhes manter as coisas bambas até o prazo final para a filiação partidária, de maneira a impedir que, se o desejasse, Aécio aceitasse disputar a Presidência por outras legendas, que lhe eram oferecidas – entre elas, a do próprio PMDB. Mas ele preferia que sua candidatura se fizesse de baixo para cima, e contava com as prévias.

Não convinha ao governador de São Paulo, nem a seus aliados paulistas, assumir a posição de anti-Lula, conforme percebeu argutamente o senador Pedro Simon, no momento em que o presidente dispõe de altíssimo índice de popularidade, registrado por todos os institutos de pesquisa. Serra preferia fazê-lo no ano próximo, já que previa dificuldades na economia nacional, que trouxessem problemas políticos para o presidente – e de eventuais denúncias contra o PT, tão comuns em tempo de eleição. Ao recusar as prévias, e diante do pronunciamento de Aécio, José Serra já é, na percepção do povo brasileiro, o candidato da oposição, o anti-Lula.

O senador Sérgio Guerra, que manifestara a convicção de que Aécio dispunha de maior capacidade de ampliação de alianças regionais, voltou a elogiar a coragem moral do mineiro, reafirmando que ele será um grande presidente da República se vier a ocupar o cargo. Se o quadro se mantiver, com a candidatura de Serra, o grande beneficiário será Ciro Gomes. Relembre-se que as mesmas pesquisas que dão, hoje, preferência a Serra atribuem a uma chapa Aécio-Ciro 35% de intenções de voto.

De maneira diferente, mas com os mesmos fundamentos, repete-se, nas eleições do ano próximo, o problema registrado em 1930. Os paulistas estavam convencidos de que a sua supremacia econômica significava, necessariamente, seu predomínio político sobre a Federação. Em razão disso, vetaram a candidatura do então governador de Minas, Antonio Carlos – o que acabou conduzindo o gaúcho Getulio Vargas ao poder.

Cabe ao partido decidir em convenção nacional se ratifica o nome de Serra, ou se aceita outra postulação. O tempo é curto, mas ainda não se esgotou. E só a convenção partidária é soberana.

O governador de Minas tem seu prestígio político nacional robustecido pela coragem da decisão de ontem. Minas terá grande peso no pleito do ano que vem, e acompanhará a sua liderança, na hipótese de que não seja candidato à Presidência da República, e sim ao Senado. A leitura atenta da carta que enviou ao partido não o compromete em favor de qualquer candidatura. Como registrou a imprensa, ele não mencionou o nome do governador de São Paulo. A nota de Serra, nos termos em que foi redigida, era esperada. Ele tentou, com os elogios a Aécio, e em atitude diplomática, convencer os diretórios regionais do PSDB de que a agremiação é “democrática”.

O anúncio de Aécio não encerrou a questão, nem decidiu o pleito. É mais um movimento do processo sucessório, que promete ainda fortes surpresas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cesar Benjamim

O único comentário que farei sobre o já famoso artigo do Cesár Benjamim sobre o Lula não será sobre o artigo, mas sobre ele. E, já me desculpando, não encontrei outro jeito de caracterizá-lo...

Em todo grupo há o sujeito que faz a diversão da turma nas piadas. O Césinha é do tipo que cai em todas as pegadinhas do tipo:

1. Que time é teu?

2. Você está num navio com seu cachorrinho chamado Nabunda. O barco afunda. Você leva Nabunda ou deixa Nabunda?

3. Qual é o aumentativo de dacueba?

4. Meu pai está pensando em fazer um churrasco. Com 30 quilos de carne dá pra 20 comer?

5. Você chegou há pouco de fora?

Não dá prá levar a sério.

Golpe em Honduras II: vejam o que os norte-amenricanos recoheceram como eleições democráticas

Eleitor hondurenho indo por vontade própria em direção a urna


Professor do Departamento de História da Universidade Estadual do Centro-oeste do Paraná e diretor do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES-SN, Hélvio Henrique Mariano, que está em Tegucigalpa participando de uma missão de observadores internacionais convocada para acompanhar o pleito:

"Existem mais de oito mil mesas eleitorais espalhadas por Honduras, e os votos ainda são em cédulas impressas em papel. Após o fim da votação, cada seção eleitoral apura seus votos e o presidente da mesa eleitoral informa o resultado final por telefone celular a uma central de processamento de dados que fica na capital Tegucigalpa", esclarece, acrescentando que é o próprio exército golpista que guarda urnas e cédulas.

Para o relato completo vá ao site da ANDES.



E a história continua, o Governo Norte-americano continua produzindo golpes

Eleições não são sinônimo de democracia. Nós brasileiros sabemos bem: durante mais de duas décadas, de 1964 a 1985, eleições foram realizadas no Brasil sob ditadura militar. Democracia não existe sem eleições, mas eleições existem sem democracia. Isto porque, para serem democráticos, processos eleitorais precisam, no mínimo, além de eleições, incluir escolhas reais para os eleitores (liberdade e, ao menos relativa, igualdade de organização e articulação para todas as forças políticas) e liberdade de expressão e manifestação. Alguém tem coragem de dizer que isto existiu em Honduras? Do golpe a eleição meios de comunicação foram fechados quando manifestavam contrariedade com o golpe e sindicatos, organizações e manifestações populares foram reprimidas.

Para o governo norte-americano, no entanto, isto não tem a menor importância, quanto mais pasteurizado o processo eleitoral, melhor. É isto que está contido nas manifestações recentes do governo dos EUA:

Em um comunicado, o Departamento de Estado elogiou os hondurenhos por "exercer pacificamente seu direito democrático de escolher seus lideres" (Washigton Post, 01.12.2009)

A questão não é saber quem vai ser o próximo presidente", Arturo Valenzuela, o novo secretário de Estado adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, disse a jornalistas em Washington. "O povo hondurenho decidiu isso. A questão é se o legítimo presidente de Honduras, que foi derrubado em um golpe de Estado, será devolvido ao posto. " (New York Times, 30.11.2009)


A questão, na verdade, é que não ocorreram eleições democráticas em Honduras.

A cortina de fumaça é produzida quando se igualam democracia e eleições. As aparências enganam...


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Esta deveria ser a resposta do PT a FHC

Do Valor Econômico

Autoritarismo popular pelo voto direto

Maria Inês Nassif

05/11/2009

Ao final de sete anos de governo e à véspera de uma eleição em que a sua simples presença de um lado da disputa pode definir a sua sucessão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está dando um nó na cabeça da oposição. Não só pela sua popularidade, mas pela forma como conseguiu usar essa popularidade para mudar completamente uma agenda política e econômica à qual, no primeiro mandato, parecia amarrado.

À direita e à esquerda, essa mudança de agenda está sendo colocada como autocrática. Todavia, como definir historicamente uma mudança de agenda política e econômica num regime democrático sem a suposição de que existe apoio popular a ela? O apoio é a um presidente ou a um outro projeto de poder? Como desvincular o presidente Lula do seu partido político, o PT, quando a história política de ambos é a mesma (e isso é um fato mesmo se constatando que, depois de quase dois mandatos como presidente num regime presidencialista, Lula tornou-se maior que o PT)? Se projetos políticos não se sucederem no poder, em alternância, o que se pode querer de uma democracia? É personalismo ou projeto político diferenciado uma inversão completa de agenda em relação aos governos anteriores?

A definição – ou acusação – imputada a Lula pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo recente publicada em dois jornais paulistas (”Folha de S. Paulo” e “Estado de S. Paulo”), e reiterada em entrevista ao colunista Vinicius Torres Freire, ontem, na “Folha”, de exercer uma “Presidência imperial”, ou ser o artífice de um estado de “apatia com autoritarismo popular”, não parece plausível. Não dá para “acusar” alguém de ser popular. FHC também o foi no seu primeiro mandato e venceu as eleições para a reeleição no primeiro turno, em 1998. Não dá para “acusar” alguém por estar no poder, se essa pessoa foi eleita. FHC também foi, duas vezes. E, como Lula, também tentou, embora não com tanto empenho, fazer o seu sucessor.

Como Lula, Fernando Henrique Cardoso foi vitorioso como principal articulador de uma nova agenda política e econômica – no seu caso, o discurso vitorioso foi o de rompimento com a agenda nacional-populista de Vargas que ainda estava entranhada na sociedade. Como Lula, FHC teve que fazer valer o seu projeto num regime presidencialista com forte dispersão partidária. Ninguém o acusou de autoritário por isso. E não existe nenhuma objetividade numa acusação de autoritarismo se a pessoa que está sendo acusada se submeteu às urnas e mantém-se estritamente no jogo político institucional (ainda anteontem, Michael Bloomberg se elegeu, pela terceira vez, prefeito de Nova York).

A grande arte do Brasil democrático foi a de conseguir criar, mesmo após longo período de ditadura militar, uma cultura democrática. Foi arte, não foi sorte. Um único presidente, Fernando Collor, tinha um perfil que tendia ao autoritarismo mas, salvo a edição do Plano Collor numa conjuntura de hiperinflação no primeiro dia de seu governo – que enxugou drasticamente a liquidez com o confisco de poupança -, o autoritarismo não conseguiu passar de um discurso forte com cores nazistas. Collor mais ladrou do que mordeu: aceitou sem reações um processo de impeachment que acabou se tornando um símbolo da democracia brasileira. O presidente Itamar Franco, eleito como seu vice, governou por dois anos, tinha tradições democráticas e não as negou no poder.

Antes deles, o primeiro presidente civil depois do golpe de 1964 e último a se eleger pela via indireta, José Sarney, teve muitos defeitos, mas seu governo foi fundamental para a consolidação da democracia. Foi nesse período que funcionou a Assembleia Nacional Constituinte. Não consta que Sarney, mesmo com o pecado original de ter antes vivido à sombra do regime autoritário, tenha cometido atentados contra a então tenra democracia. Como vice do presidente eleito pelo Colégio Eleitoral, Tancredo Neves, Sarney ascendeu ao poder pela morte de um dos grandes articuladores da transição para a democracia. Estava comprometido com as forças democráticas, já majoritárias na sociedade, e não conseguiria sobreviver no poder sem o apoio delas.

Os governos do presidente Fernando Henrique Cardoso tiveram grande conteúdo democrático. FHC vinha da oposição institucional ao regime militar, o MDB, ingressou no PMDB e ascendeu pelo PSDB, partido surgido de um racha do PMDB. FHC, assim como Lula, esteve presente nos grandes movimentos pela democracia no pré-85. No governo, foi um hábil, e democrata, articulador de forças econômicas que emergiam num Brasil que se abria para o capitalismo financeiro internacional. Não houve autoritarismo nessa mudança de agenda: ele articulou forças que se moviam no cenário democrático a partir de mandato ao qual foi investido pelo voto popular. FHC foi bastante popular no final do primeiro governo, quando o Plano Real produziu um ganho de distribuição de renda incomum num país de renda concentrada como o Brasil. Perdeu esse legado no segundo mandato, quando a renda voltou a se concentrar.

O presidente Lula não foi nem mais, nem menos democrático que os outros civis. Foi igualmente democrata. Com mandato popular, articulou forças que se moviam no território da democracia para mudar a agenda política e econômica. A interpretação de que é a figura central de um “autoritarismo popular” não leva em conta a origem do mandato de Lula – o voto, como os dois mandatos de FHC -, mas o fato de que o atual presidente articula outras esferas da sociedade que foram incorporadas ao projeto de poder tucano apenas durante o Plano Real, e dele foram apartadas por sucessivas crises e um modelo de acumulação que se tornou excludente, passado o efeito desconcentrador do êxito anti-inflacionário.

A designação de “autoritarismo” não leva em conta o voto; a “acusação” de popular não faz justiça a quem vota.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Mais sobre a Viração...

Do Blog vivapalestinaniteroi.blogspot.com:

NORUEGA ROMPE COM EMPRESA QUE PARTICIPA DA CONSTRUÇÃO DO MURO DO APARTHEID



No início deste mês, o governo norueguês anunciou a retirada de todos os seus investimentos da Elbit Systems, que fabrica o sistema de vigilância instalado em várias partes do muro de separação na Cisjordânia. O ministro das Finanças da Noruega, Kristin Halvorsen, disse que a decisão foi baseada na recomendação do Conselho de Ética de seu ministério. "Nós não pretendemos financiar empresas que contribuem diretamente para a violações do direito internacional . Halvorsen, segundo o jornal israelense Haaretz,explicou que a barreira de separação afeta a liberdade de circulação dos residentes da Margem Ocidental.

Porto Alegre vai deixar seu prefeito Fogaça financiar?

E o Vento Negro fez a viração em Porto Alegre: do humanitarismo à indústria da guerra



A Porto Alegre do Forum Social Mundial está cada vez mais distante. Liderada por José Fogaça, a cidade caminha a passos largos para alinhar-se com o que de mais desumano há no mundo: a indústria da guerra. E, dentro desta indústria, com o que de pior há: empresas que constróem máquinas para assassinato seletivo. Estou falando desta matéria, escondida na página 26 de ZéAgah:

Grupo de Israel investe no RS

Gigante do setor militar aplicará US$ 50 milhões em projeto em sua subsidiária em Porto Alegre

A Elbit Systems anunciou ontem em Haifa, Israel, a ampliação dos seus negócios no Rio Grande do Sul. A gigante da tecnologia militar vai entregar à subsidiária Aeroeletrônica, com sede em Porto Alegre, um contrato de US$ 50 milhões para a modernização de 70 aviões militares.

O vice-presidente executivo da Elbit, Ran Hellerstein, manifestou ainda a intenção de construir na Capital uma nova sede e ampliar o número de funcionários dos atuais 150 para até 500 nos próximos anos. O projeto do novo edifício já tramita na prefeitura. Além disso, o braço gaúcho da Elbit vai absorver a manutenção dos helicópteros argentinos Pampa.

As novidades foram reveladas durante a visita da missão gaúcha que está em Israel. A comitiva foi recebida com bandeiras do Brasil e até chimarrão. Depois da apresentação dos produtos e dos projetos da Elbit, os visitantes conheceram de perto a linha de aviões de vigilância e de combate que voam sem pilotos.

Hellerstein disse que a decisão de investir mais no Brasil foi baseada em fatores como custos atrativos, qualidade da linha de produção e eficiência da mão de obra do Estado.

Nos próximos dias, o Executivo municipal encaminhará à Câmara de Vereadores a proposta de redução da alíquota do ISSQN da Elbit de 5% para 2%. Pela proposta, a empresa se comprometeria a arrecadar o mesmo valor de hoje após a implantação dos novos projetos. A aprovação do incentivo é fundamental para garantir a totalidade do investimento. A direção da Elbit deve estar em Porto Alegre no dia 17 de novembro para um encontro com o prefeito José Fogaça.


O que a mátéria não diz é o seguinte:

A Elbit Systems Group, empresa privada, está implicada na construção de um dos trechos do famigerado Muro do Apartheid, na Cisjordânia. Fornece ao Exército sionista de Israel veículos não-tripulados, manipulados por controle remoto, conhecidos como Drones. De acordo com organizações de solidariedade ao povo palestino, cerca de 100 palestinos morreram em decorrência destes veículos na recente Operação Chumbo Derretido e é muito utilizado nos assassinatos seletivos de lideranças da Resistência Palestina. Além da palestina, esses Drones estão sendo usados no Iraque e no Afeganistão.

Enquanto o governo norueguês, por exemplo, tomou a decisão de retirar o seu investimento da empresa israelita Elbit Systems Ltd, pelo seu papel central na construção do muro de apartheid na Palestina, ao propor reduzir o ISSQN de 5% para 2%, o Prefeito José Fogaça ajuda a financiar esta empresa e associa o cidadão porto-alegrense - e a imagem de Porto Alegre - a essa empresa e as mortes produzidas por suas armas. É esse o futuro que Porto Alegre quer ajudar a construir?

P.S.: Os vereadores de Porto Alegre, especialmente os de oposição, tem a chance - diria, a obrigação - de tomar para sí este debate. Não permitam que o atual prefeito passe isso como a simples atração de empresas e investimentos para Porto Alegre, porque não é. Eis um tema a altura do que aqui já debatemos em outros momentos nesta cidade.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Alguém ai acha que Serra, FHC ou outros de pelagem tucana têm essa alfabetização político-econômica?

Transcrevo esta passagem da entrevista de Lula à Folha de São Paulo, especialmente porque no Rio Grande do Sul a escolaridade de nosso presidente sempre foi muito discutida (até objeto de adesivos em carros), prá ser educado...

"O câmbio sempre foi uma preocupação nossa. Se um dia você for presidente da República e sentar naquela cadeira, vai entrar na sua sala uma turma reclamando que o dólar está baixo, porque ele é exportador e está perdendo. Quando sai, entra a turma dos compradores, importadores, que acham que o dólar está maravilhoso, que é preciso manter assim. Aí entra o ministro da Fazenda, o presidente do Banco Central e dizem que é maravilhoso o dólar baixo porque controla a inflação.
Agora, antes que aconteça, uma superentrada de dólares no Brasil, reduzindo muito o valor do dólar em relação ao real, criando problema na balança comercial, e com algumas empresas exportadores tendo problema, nós demos um sinal com o IOF [Imposto sobre Operações Financeiros, que passou a ser cobrado no ingresso de capitais]. Demos um sinal para ver se a gente equilibra."

...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Da série Bye Bye Serra 2010

A partir de hoje filio-me ao conjunto da obra inciada por Paulo Henrique Amorim no seu blog Conversa Afiada. Trata-se da reunião de notícias que monstram a tendência ao sepultamento da candidatura de José Serra. A mais recente saiu hoje, agora, as 23 horas, e o jornal da globo anunciou rápida e sucintamente, como um ataque cardíaco fulminante. Vejam a manchete:


PT e PMDB fecham acordo para candidatura de Dilma em 2010

PMDB indicará vice, mas apenas no ano que vem.
Partidos tentarão repetir dobradinha nos estados.

O que foi que restou para o Serra? O PSDB de São Paulo ( vejamos o que fará o Alckmin depois de ser proclamado candidato ao governo de SP...)? O DEM declinante? O baronato midiático, certamente. Mas isto é suficiente?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Serra poooode?

Matéria da Folha de SP de hoje, 04/08/09:

"Apesar do discurso rechaçando a pré-campanha para 2010, o presidenciável tucano José Serra definiu ontem em reunião com líderes de PSDB e DEM, em São Paulo, mais dois destinos para visitar no Nordeste, informa o "Painel" da Folha, editado interinamente por Vera Magalhães (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL).

Segundo a coluna, Serra vai à Bahia no dia 10, e depois ao Rio Grande do Norte, em setembro."

A propósito, discutindo palanque em dia útil? Dia 10/08/09, segunda feira? Com $ do erário paulista?

Vão chamar o Virgílio, o Simon, o Jarbas Vasconcelos?

terça-feira, 28 de julho de 2009

O melhor que li sobre a negociação Brasil/Paraguai sobre Itaipu


Do Blog do Nassif:

28/07/2009 - 14:59

Um Plano Marshall para o Paraguai

Por emerson

A crítica sobre Lugo e Lula deveria ser sobre o atraso na implementação de ações focando a industrialização do Paraguai, da consolidação do agronegócio naquele pais.

O Paraguai tem uma população de 6 milhões, com PIB per capita de 4.000 dolares, o que dá um PIB total de 24 bilhoes de dolares por ano (Brasil tem 190 milhoes e PIB per capita de 8700 dolares e PIB de 1,6 trilhão de dolares).

Fica claro que o Paraguai nunca teria condições de financiar uma obra como Itaipu, portanto dizer que o Paraguai não contribuiu com a obra é inútil. A garantia da obra foi a demanda brasileira. A fração de energia que o Paraguai cede ao Brasil é equivalente a 4 usinas Angra 2. Acho que mesmo que todas as termoeletricas implantadas funcionassem a toda carga, ainda não cobririam a fração paraguaia de Itaipu.

O Paraguai possui uma segurança energetica unica na America do Sul, portanto seria o melhor local para se instalar uma industria eletro-intensiva. POr outro lado, o agronegócio no Paraguai é bastante arcaico. Se o Paraguai conseguir nos próximos 15 anos avançar em quatro direções principais i) soja para alimentação animal e exportaçao ii) cana-de-açucar para produção de etanol, iii) borracha natural e iv) madeira para celulose, possibilitaria a implementação de outros setores relacionados como v) produçao de carne (aves, bovinos com valor agregado do processamento local), vi) etanol para abastecer o Brasil e expandir o mercando flex para o mercosul, vii) industria de borracha, principalmente pneus e viii) papel, além de ix) uma grande industria de bens de consumo para o agronegocio. Não falo do biodiesel porque ainda é uma tecnologia em consolidação no Brasil.

Para isso é necessário a) abastecer Assuncion com energia, b) envolver a embrapa e universidades brasileiras para desenvolver tecnologia e capacitar mão-de-obra, c) o BNDES financiar esta industrializaçao baseada no agronegocio e d) incentivar o empresario brasileiro a investir pesado no Paraguai.

Precisamos parar de pensar no Paraguai como uma país distante. O Paraguai é um problema brasileiro tambem. A estabilidade economica e social do Paraguai reflete diretamente na sociedade brasileira, principalmente na faixa de fronteira. Temos que trazer o Paraguai para a mesma condiçao socio-economica do Brasil se quisermos manter nossa sociedade estavel, e isso nao tem nada a ver com a herança moral da Guerra do Paraguai. O problema não é reforçar a fronteira, mas elevar o Paraguai a um novo nivel de desenvolvimento.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Saindo antes da crise

"Mercado está melhor no Brasil e no exterior"

Este é o título da matéria que foi ao ar no jornal da globo de ontem, 23/07/2009, cujo conteúdo é uma análise de Carlos Sardenberg sobre os dados de emprego e desemprego divulgados pelo IBGE para o Brasil. De onde ele tirou a conclusão de melhora inequívoca no exterior talvez nem Deus saiba... O que ele cita na matéria, quanto ao exterior, são referências sem apresentar números. O fato é que se procurasse emprego nos EUA, por exemplo, Sardenberg, estatisiticamente, teria mais dificuldade do que no Brasil.

Se quisesse entender a real posição do Brasil na crise, teria comparado o mercado de trabalho no Brasil com o dos EUA.

Os números abaixo, sobre desemprego aqui e nos EUA, retirados do site do Banco Central Brasileiro e do IBGE são parte da prova de que o Brasil entrou depois e está saindo antes da crise.

O estadunidense começou a sentir a crise, na forma de perda acelerada de empregos, de setembro para outubro. E até agora não parou de sentir, aumentando a dor mês após mês . O brasileiro sentiu-a, no mesmo aspecto, a partir de janeiro. A dor parou de aumentar em abril e começou a diminuir de maio para junho. Nos EUA já são, pelo menos, 10 meses de crise no mercado de trabalho, sem um mês de recuperação. No Brasil, quando muito, são 6 meses e em junho o emprego recuperou-se.

O título da matéria deveria ser: Mercado está melhor no Brasil e ponto.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Senhores da Elite Branca Brasileira, babem de raiva ( e de inveja)

Deu na BBC:

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta quinta-feira em Londres que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o "político mais popular da Terra".

Obama fez o comentário em uma roda de líderes mundiais, pouco antes do início da reunião do G20, em uma sala de conferência do Excel Center, em Londres.

O encontro foi registrado em vídeo pela BBC, que mostra a cena em que os dois se cumprimentam.

Obama troca um aperto de mãos com o presidente brasileiro, olha para o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, e diz, apontando para Lula: "Esse é o cara! Eu adoro esse cara!".

Em seguida, enquanto Lula cumprimenta Rudd, Obama diz, novamente apontando para Lula : "Esse é o político mais popular da Terra".

Rudd aproveita a deixa e diz : "O mais popular político de longo mandato".

"É porque ele é boa pinta", acrescenta Obama.

Prá quem quiser ver o video: aqui


Resolução do G-20: The era of banking secrecy is over

Foto extraída do Site Vi o Mundo, abaixo da qual está o seguinte comentário:
"Recebi do Márcio Assis. É genial. Quando o FHC souber o que o Obama falou do presidente Lula terá um troço."

Alguém se candidata a avisar o SAMU?



Em poucos momentos o Brasil fez história, estamos vivendo um deles.

Prá refrescar a memória, vou lembrá-los, coisa que a imprensa do PIG não faz, que foi o Brasil, foi a estratégia diplomática do Governo Lula que criou o G-20. Definitivamente a crise atingiu o Brasil: sua estratégia ofereceu o instrumento político para a solução da crise. Entre outras coisas, isto explica o respeito dos principais governantes mundiais.

Matéria do Jornal Estado de São Paulo 24/11/2006:

"O G-20, criado em 2003, foi a mais bem-sucedida iniciativa diplomática do Brasil nos últimos quatro anos. O grupo reuniu e coordenou economias emergentes interessadas na reforma das políticas agrícolas do mundo rico. Seu grande objetivo é conseguir a abertura dos mercados mais desenvolvidos e a eliminação - ou redução significativa - dos subsídios aos produtores e exportadores, principalmente dos Estados Unidos e da Europa."

Abaixo a resolução do G-20

The official communique issued at the close of the G20 London Summit.

Read the Leaders' statement

1. We, the Leaders of the Group of Twenty, met in London on 2 April 2009.

2. We face the greatest challenge to the world economy in modern times; a crisis which has deepened since we last met, which affects the lives of women, men, and children in every country, and which all countries must join together to resolve. A global crisis requires a global solution.

3. We start from the belief that prosperity is indivisible; that growth, to be sustained, has to be shared; and that our global plan for recovery must have at its heart the needs and jobs of hard-working families, not just in developed countries but in emerging markets and the poorest countries of the world too; and must reflect the interests, not just of today’s population, but of future generations too. We believe that the only sure foundation for sustainable globalisation and rising prosperity for all is an open world economy based on market principles, effective regulation, and strong global institutions.

4. We have today therefore pledged to do whatever is necessary to:

  • restore confidence, growth, and jobs;
  • repair the financial system to restore lending;
  • strengthen financial regulation to rebuild trust;
  • fund and reform our international financial institutions to overcome this crisis and prevent future ones;
  • promote global trade and investment and reject protectionism, to underpin prosperity; and
  • build an inclusive, green, and sustainable recovery.

By acting together to fulfil these pledges we will bring the world economy out of recession and prevent a crisis like this from recurring in the future.

5. The agreements we have reached today, to treble resources available to the IMF to $750 billion, to support a new SDR allocation of $250 billion, to support at least $100 billion of additional lending by the MDBs, to ensure $250 billion of support for trade finance, and to use the additional resources from agreed IMF gold sales for concessional finance for the poorest countries, constitute an additional $1.1 trillion programme of support to restore credit, growth and jobs in the world economy. Together with the measures we have each taken nationally, this constitutes a global plan for recovery on an unprecedented scale.


Restoring growth and jobs

6. We are undertaking an unprecedented and concerted fiscal expansion, which will save or create millions of jobs which would otherwise have been destroyed, and that will, by the end of next year, amount to $5 trillion, raise output by 4 per cent, and accelerate the transition to a green economy. We are committed to deliver the scale of sustained fiscal effort necessary to restore growth.

7. Our central banks have also taken exceptional action. Interest rates have been cut aggressively in most countries, and our central banks have pledged to maintain expansionary policies for as long as needed and to use the full range of monetary policy instruments, including unconventional instruments, consistent with price stability.

8. Our actions to restore growth cannot be effective until we restore domestic lending and international capital flows. We have provided significant and comprehensive support to our banking systems to provide liquidity, recapitalise financial institutions, and address decisively the problem of impaired assets. We are committed to take all necessary actions to restore the normal flow of credit through the financial system and ensure the soundness of systemically important institutions, implementing our policies in line with the agreed G20 framework for restoring lending and repairing the financial sector.

9. Taken together, these actions will constitute the largest fiscal and monetary stimulus and the most comprehensive support programme for the financial sector in modern times. Acting together strengthens the impact and the exceptional policy actions announced so far must be implemented without delay. Today, we have further agreed over $1 trillion of additional resources for the world economy through our international financial institutions and trade finance.

10. Last month the IMF estimated that world growth in real terms would resume and rise to over 2 percent by the end of 2010. We are confident that the actions we have agreed today, and our unshakeable commitment to work together to restore growth and jobs, while preserving long-term fiscal sustainability, will accelerate the return to trend growth. We commit today to taking whatever action is necessary to secure that outcome, and we call on the IMF to assess regularly the actions taken and the global actions required.

11. We are resolved to ensure long-term fiscal sustainability and price stability and will put in place credible exit strategies from the measures that need to be taken now to support the financial sector and restore global demand. We are convinced that by implementing our agreed policies we will limit the longer-term costs to our economies, thereby reducing the scale of the fiscal consolidation necessary over the longer term.

12. We will conduct all our economic policies cooperatively and responsibly with regard to the impact on other countries and will refrain from competitive devaluation of our currencies and promote a stable and well-functioning international monetary system. We will support, now and in the future, to candid, even-handed, and independent IMF surveillance of our economies and financial sectors, of the impact of our policies on others, and of risks facing the global economy.

Strengthening financial supervision and regulation

13. Major failures in the financial sector and in financial regulation and supervision were fundamental causes of the crisis. Confidence will not be restored until we rebuild trust in our financial system. We will take action to build a stronger, more globally consistent, supervisory and regulatory framework for the future financial sector, which will support sustainable global growth and serve the needs of business and citizens.

14. We each agree to ensure our domestic regulatory systems are strong. But we also agree to establish the much greater consistency and systematic cooperation between countries, and the framework of internationally agreed high standards, that a global financial system requires. Strengthened regulation and supervision must promote propriety, integrity and transparency; guard against risk across the financial system; dampen rather than amplify the financial and economic cycle; reduce reliance on inappropriately risky sources of financing; and discourage excessive risk-taking. Regulators and supervisors must protect consumers and investors, support market discipline, avoid adverse impacts on other countries, reduce the scope for regulatory arbitrage, support competition and dynamism, and keep pace with innovation in the marketplace.

15. To this end we are implementing the Action Plan agreed at our last meeting, as set out in the attached progress report. We have today also issued a Declaration, Strengthening the Financial System. In particular we agree:

  • to establish a new Financial Stability Board (FSB) with a strengthened mandate, as a successor to the Financial Stability Forum (FSF), including all G20 countries, FSF members, Spain, and the European Commission;
  • that the FSB should collaborate with the IMF to provide early warning of macroeconomic and financial risks and the actions needed to address them;
  • to reshape our regulatory systems so that our authorities are able to identify and take account of macro-prudential risks;
  • to extend regulation and oversight to all systemically important financial institutions, instruments and markets. This will include, for the first time, systemically important hedge funds;
  • to endorse and implement the FSF’s tough new principles on pay and compensation and to support sustainable compensation schemes and the corporate social responsibility of all firms;
  • to take action, once recovery is assured, to improve the quality, quantity, and international consistency of capital in the banking system. In future, regulation must prevent excessive leverage and require buffers of resources to be built up in good times;
  • to take action against non-cooperative jurisdictions, including tax havens. We stand ready to deploy sanctions to protect our public finances and financial systems. The era of banking secrecy is over. We note that the OECD has today published a list of countries assessed by the Global Forum against the international standard for exchange of tax information;
  • to call on the accounting standard setters to work urgently with supervisors and regulators to improve standards on valuation and provisioning and achieve a single set of high-quality global accounting standards; and
  • to extend regulatory oversight and registration to Credit Rating Agencies to ensure they meet the international code of good practice, particularly to prevent unacceptable conflicts of interest.

16. We instruct our Finance Ministers to complete the implementation of these decisions in line with the timetable set out in the Action Plan. We have asked the FSB and the IMF to monitor progress, working with the Financial Action Taskforce and other relevant bodies, and to provide a report to the next meeting of our Finance Ministers in Scotland in November.

Strengthening our global financial institutions

17. Emerging markets and developing countries, which have been the engine of recent world growth, are also now facing challenges which are adding to the current downturn in the global economy. It is imperative for global confidence and economic recovery that capital continues to flow to them. This will require a substantial strengthening of the international financial institutions, particularly the IMF. We have therefore agreed today to make available an additional $850 billion of resources through the global financial institutions to support growth in emerging market and developing countries by helping to finance counter-cyclical spending, bank recapitalisation, infrastructure, trade finance, balance of payments support, debt rollover, and social support. To this end:

  • we have agreed to increase the resources available to the IMF through immediate financing from members of $250 billion, subsequently incorporated into an expanded and more flexible New Arrangements to Borrow, increased by up to $500 billion, and to consider market borrowing if necessary; and
  • we support a substantial increase in lending of at least $100 billion by the Multilateral Development Banks (MDBs), including to low income countries, and ensure that all MDBs, including have the appropriate capital.

18. It is essential that these resources can be used effectively and flexibly to support growth. We welcome in this respect the progress made by the IMF with its new Flexible Credit Line (FCL) and its reformed lending and conditionality framework which will enable the IMF to ensure that its facilities address effectively the underlying causes of countries’ balance of payments financing needs, particularly the withdrawal of external capital flows to the banking and corporate sectors. We support Mexico’s decision to seek an FCL arrangement.

19. We have agreed to support a general SDR allocation which will inject $250 billion into the world economy and increase global liquidity, and urgent ratification of the Fourth Amendment.

20. In order for our financial institutions to help manage the crisis and prevent future crises we must strengthen their longer term relevance, effectiveness and legitimacy. So alongside the significant increase in resources agreed today we are determined to reform and modernise the international financial institutions to ensure they can assist members and shareholders effectively in the new challenges they face. We will reform their mandates, scope and governance to reflect changes in the world economy and the new challenges of globalisation, and that emerging and developing economies, including the poorest, must have greater voice and representation. This must be accompanied by action to increase the credibility and accountability of the institutions through better strategic oversight and decision making. To this end:

  • we commit to implementing the package of IMF quota and voice reforms agreed in April 2008 and call on the IMF to complete the next review of quotas by January 2011;
  • we agree that, alongside this, consideration should be given to greater involvement of the Fund’s Governors in providing strategic direction to the IMF and increasing its accountability;
  • we commit to implementing the World Bank reforms agreed in October 2008. We look forward to further recommendations, at the next meetings, on voice and representation reforms on an accelerated timescale, to be agreed by the 2010 Spring Meetings;
  • we agree that the heads and senior leadership of the international financial institutions should be appointed through an open, transparent, and merit-based selection process; and
  • building on the current reviews of the IMF and World Bank we asked the Chairman, working with the G20 Finance Ministers, to consult widely in an inclusive process and report back to the next meeting with proposals for further reforms to improve the responsiveness and adaptability of the IFIs.

21. In addition to reforming our international financial institutions for the new challenges of globalisation we agreed on the desirability of a new global consensus on the key values and principles that will promote sustainable economic activity. We support discussion on such a charter for sustainable economic activity with a view to further discussion at our next meeting. We take note of the work started in other fora in this regard and look forward to further discussion of this charter for sustainable economic activity.

Resisting protectionism and promoting global trade and investment

22. World trade growth has underpinned rising prosperity for half a century. But it is now falling for the first time in 25 years. Falling demand is exacerbated by growing protectionist pressures and a withdrawal of trade credit. Reinvigorating world trade and investment is essential for restoring global growth. We will not repeat the historic mistakes of protectionism of previous eras. To this end:

  • we reaffirm the commitment made in Washington: to refrain from raising new barriers to investment or to trade in goods and services, imposing new export restrictions, or implementing World Trade Organisation (WTO) inconsistent measures to stimulate exports. In addition we will rectify promptly any such measures. We extend this pledge to the end of 2010;
  • we will minimise any negative impact on trade and investment of our domestic policy actions including fiscal policy and action in support of the financial sector. We will not retreat into financial protectionism, particularly measures that constrain worldwide capital flows, especially to developing countries;
  • we will notify promptly the WTO of any such measures and we call on the WTO, together with other international bodies, within their respective mandates, to monitor and report publicly on our adherence to these undertakings on a quarterly basis;
  • we will take, at the same time, whatever steps we can to promote and facilitate trade and investment; and
  • we will ensure availability of at least $250 billion over the next two years to support trade finance through our export credit and investment agencies and through the MDBs. We also ask our regulators to make use of available flexibility in capital requirements for trade finance.

23. We remain committed to reaching an ambitious and balanced conclusion to the Doha Development Round, which is urgently needed. This could boost the global economy by at least $150 billion per annum. To achieve this we are committed to building on the progress already made, including with regard to modalities.

24. We will give renewed focus and political attention to this critical issue in the coming period and will use our continuing work and all international meetings that are relevant to drive progress.

Ensuring a fair and sustainable recovery for all

25. We are determined not only to restore growth but to lay the foundation for a fair and sustainable world economy. We recognise that the current crisis has a disproportionate impact on the vulnerable in the poorest countries and recognise our collective responsibility to mitigate the social impact of the crisis to minimise long-lasting damage to global potential. To this end:

  • we reaffirm our historic commitment to meeting the Millennium Development Goals and to achieving our respective ODA pledges, including commitments on Aid for Trade, debt relief, and the Gleneagles commitments, especially to sub-Saharan Africa;
  • the actions and decisions we have taken today will provide $50 billion to support social protection, boost trade and safeguard development in low income countries, as part of the significant increase in crisis support for these and other developing countries and emerging markets;
  • we are making available resources for social protection for the poorest countries, including through investing in long-term food security and through voluntary bilateral contributions to the World Bank’s Vulnerability Framework, including the Infrastructure Crisis Facility, and the Rapid Social Response Fund;
  • we have committed, consistent with the new income model, that additional resources from agreed sales of IMF gold will be used, together with surplus income, to provide $6 billion additional concessional and flexible finance for the poorest countries over the next 2 to 3 years. We call on the IMF to come forward with concrete proposals at the Spring Meetings;
  • we have agreed to review the flexibility of the Debt Sustainability Framework and call on the IMF and World Bank to report to the IMFC and Development Committee at the Annual Meetings; and
  • we call on the UN, working with other global institutions, to establish an effective mechanism to monitor the impact of the crisis on the poorest and most vulnerable.

26. We recognise the human dimension to the crisis. We commit to support those affected by the crisis by creating employment opportunities and through income support measures. We will build a fair and family-friendly labour market for both women and men. We therefore welcome the reports of the London Jobs Conference and the Rome Social Summit and the key principles they proposed. We will support employment by stimulating growth, investing in education and training, and through active labour market policies, focusing on the most vulnerable. We call upon the ILO, working with other relevant organisations, to assess the actions taken and those required for the future.

27. We agreed to make the best possible use of investment funded by fiscal stimulus programmes towards the goal of building a resilient, sustainable, and green recovery. We will make the transition towards clean, innovative, resource efficient, low carbon technologies and infrastructure. We encourage the MDBs to contribute fully to the achievement of this objective. We will identify and work together on further measures to build sustainable economies.

28. We reaffirm our commitment to address the threat of irreversible climate change, based on the principle of common but differentiated responsibilities, and to reach agreement at the UN Climate Change conference in Copenhagen in December 2009.

Delivering our commitments

29. We have committed ourselves to work together with urgency and determination to translate these words into action. We agreed to meet again before the end of this year to review progress on our commitments.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Retornando

Retorno depois de um longo período de repouso para reciclar as idéias. Agora, os desdobramentos da crise vão ficando mais claros. Como era de se esperar sob o capitalismo, estão socializando as perdas. Como era de se esperar, ganham - ou não perdem - os que detinham o poder político, o Estado: a finança e seus intelectuais orgânicos. Como diz Michael Hudson, no texto abaixo: "Há duas perguntas que se tem de fazer quando se vê em andamento uma campanha política. Primeiro: qui bono – quem se beneficia? E, segundo: por que agora? Minha experiência ensina que a oportunidade, o timing, é quase sempre o fator-chave para que se entenda a dinâmica de uma campanha política.". O mesmo método pode ser empregado para entender as "causas" da crise. Crise que tem um componente de negócio. Leiam, recomendo.



AIG: a verdadeira conspiração

Michael Hudson, em 18/3/2009, no site Counterpunch – http://www.counterpunch.org/

Por que, afinal, a 'mídia' mostra-se tão surpresa com a descoberta de que há ganância sem limites no setor financeiro? Todos os canais de televisão e todos os jornais dos EUA, de esquerda e de direita, só falam desses bônus, em todas as manchetes, há dois dias. Pode soar estranho, mas a indignação dos cidadãos contra os bônus de 135 milhões de dólares devidos pela AIG é presente caído dos céus para Wall Street, incluídos os canalhas.

Algo soa falso, nesse ultraje generalizado. Não parece haver alguma coisa super inflada na vociferante indignação do Senador Charles Schumer e do Deputado Barney Frank, dois garotos-propaganda muito ativos, ao longo de todo o ano passado, a favor de dar-se aos bancos tudo que os bancos pedissem? E o presidente Obama não parece estar encontrando algo que afinal parece poder criticar abertamente, como se aí estivesse algo que sinceramente considera mal feito por Wall Street (embora não tudo)? Até o Wall Street Journal entrou na dança da indignação.

O Estado, ao salvar a AIG, disse o WSJ, "está usando essa empresa como sistema de vasos comunicantes pelo qual salvará outras empresas.” É verdade: há muito mais ganância envolvida aí do que alguma específica ganância 'pessoal' dos diretores da AIG.

A AIG deve muito mais a outros agentes – em Wall Street e em todo o mundo – do que o valor de seu patrimônio. Isso levou a empresa à insolvência.

E a oposição popular começa a aumentar, porque muitos começam a perceber que Obama e McCain podem ter operado juntos para apoiar a injeção de dinheiro nos bancos que, em retrospecto, já chega a trilhões e trilhões e trilhões de dólares jogados pelo ralo. Não, de fato, completamente pelo ralo, é claro – mas dólares dados aos especuladores financeiros que apostavam no lado "mais esperto" das jogadas financeiras erradas da AIG.

“O pessoal de Washington deseja focar a questão nos bônus, porque assim a ira popular atinge atores privados,” o Journal acusou em editorial, dia 17/3. Mas, em vez de explicar que assim se salvam os especuladores de Wall Street, que receberam mil vezes mais do que o valor dos bônus hoje contestados, o jornal culpa os suspeitos de sempre: o Congresso.

Esquerda e direita nada veem. Só diferem quanto ao alvo contra o qual induzem os cidadãos a dirigir sua ira!

O problema verdadeiro, que se oculta sob a indignação generalizada contra os 135 milhões de dólares dos bônus da AIG é outro: essa soma é menos que 0,1% – é um milésimo! – dos 183 BILHÕES que o Tesouro dos EUA deu à AIG como meio para que o dinheiro chegasse a outras empresas.

Essa soma, mais de mil vezes superior ao total dos bônus para os quais a atenção dos cidadãos está sendo convenientemente desviada pelos lobbystas de Wall Street, não ficou com a AIG.

A verdade é que há seis meses a imprensa independente e muitos congressistas tentam descobrir para onde esse dinheiro REALMENTE foi. Bloomberg abriu um processo para investigar e tentar descobrir. E, mesmo assim, foi detida por um muro de silêncio.

Finalmente, domingo à noite, dia 15/3, o governo, afinal, liberou os detalhes – terrivelmente embaraçosos. O maior credor da AIG é exatamente o mesmo que os boatos já indicavam: Goldman Sachs, o banco de Paulson. Tem 13 bilhões de dólares a receber, em nome de outras empresas credoras. Assim, o quadro começa a esclarecer-se.

Em setembro passado, Paulson, Secretário do Tesouro, funcionário do banco Goldman Sachs, ofereceu um plano de três páginas, rascunhado, com sua proposta de "resgate". O plano especificava que, fizessem o que fizessem o próprio Paulson e três outros altos funcionários do Tesouro (incluindo, portanto, também subordinados de Paulson, todos do banco Goldman Sachs), nenhum deles poderia ser acusado de crime ou conduta inidônea; evidentemente, tampouco poderiam ser processados. Essa exigência enfureceu o Congresso, que rejeitou a primeira encarnação do plano de "resgate".

O que se vê hoje é que Paulson tinha boas razões para incluir a cláusula que impedia qualquer bloqueio de fundos que o Tesouro viesse a injetar na AIG. A indignação popular deveria focar exatamente nesse ponto.

Em vez disso, as vacas-madrinhas do Congresso, que conduziram todo o processo de aprovação da legislação de resgate – Obama incluído; ninguém esqueça que, na noite do debate de campanha, o da 6ª-feira, Obama manifestou-se fortemente a favor do terrível plano de Paulson – aí estão, hoje, na televisão, a chamar a atenção do público para os "bônus dos executivos"... não para tudo que a própria AIG recebeu.

Há duas perguntas que se tem de fazer quando se vê em andamento uma campanha política. Primeiro: qui bono – quem se beneficia? E, segundo: por que agora? Minha experiência ensina que a oportunidade, o timing, é quase sempre o fator-chave para que se entenda a dinâmica de uma campanha política.

Quanto a quem se beneficia: o que ganham Obama, o sen. Schumer, o dep. Frank e outros patrocinadores de Wall Street, com essa indignação popular inflada pela imprensa? Para começar, quanto mais indignados se mostrem, mais aparecerão como moralizadores do setor financeiro e bancário, não como seus agentes lobbystas, inventando alternativas e mais alternativas que resolvam os problemas imediatos dos bancos. Por isso a AIG cuidou de agitar a água, para que não se pudesse ver onde apostava as fichas de sua lealdade política. Assim, hoje, ainda posa como "parceiro honesto" e assim continuará, quando, dentro de algum tempo, outra vez fizer desaparecer mais alguns poucos trilhões de dólares, consumidos nas campanhas eleitorais de seus candidatos e nas empresas de outros grandes doadores de campanha.

Quanto ao timing, acho que está respondido. A onda de indignação contra os bônus da AIG já distraiu a atenção popular. Ninguém está pensando nas demais empresas às quais chegou o dinheiro que a AIG recebeu (183 BILHÕES de dólares, em repasses do Tesouro).

Há quem diga que a soma "final" que chegará às empresas através da AIG chega a 250 bilhões, se o sen. Schumer, o deputado Frank e Obama prestarem todos os muitos serviços que Wall Street ainda espera deles, no próximo ano e, provavelmente, adiante.

Para que tudo funcione – ao mesmo tempo em que mitigam a indignação popular que cresce contra as operações de 'resgate' – é preciso que mantenham exatamente a pose em que estão hoje. É um exigente exercício de fingimento.

A moral da história é: quanto maiores as lágrimas de crocodilo que chorem sobre os bônus individuais pagos pela AIG (que são legais, explicáveis e declarados ao fisco e estão, portanto, do lado saudável dos negócios da AIG, e nada têm a ver com os esquemas-Ponzi & outros), mais efetivamente desviarão a atenção pública para bem longe dos 183 BILHÕES; e mais bem posicionados estarão, todos, para torrar mais dinheiro público (bônus do Tesouro e depósitos do Fed) em suas caridades financeiras favoritas.

Temos de ir atrás do dinheiro DE VERDADE que foi dado à AIG – os 183 BILHÕES!

Sei perfeitamente que esse dinheiro já desapareceu e que não haverá meio de o vermos outra vez, e que ninguém o extrairá das empresas que sabiam que Alan Greenspan e George Bush e Hank Paulson estavam empurrando a economia dos EUA, montanha abaixo, numa montanha de hipotecas irrecebíveis, derivativos e uma balança de pagamentos inequilibrável, tudo junto numa só bola de neve rolando ladeira abaixo, com obrigações e dívidas (CDOs), um completo cassino... cujas apostas eram seguradas e resseguradas pela AIG.

Esse dinheiro já foi sifonado para bem longe do Tesouro. Para fazer esse trabalho, lá estavam, em todos os postos-chave do governo, os representantes dos mesmos bancos e AIGs, todos com funções específicas.

Mas... mesmo assim, temos de tentar. Vamos lá, recuperar esse dinheiro!

O Sen. Schumer disse aos que recebam bônus da AIG, que o fisco os perseguirá e acabará por arrancar-lhes o dinheiro de um modo ou de outro. De fato, se decidir ir, o fisco pode também perseguir todos os demais beneficiados pelos 183 BILHÕES de dólares, de que ninguém fala.

Basta, para tanto, reinstituir o imposto sobre a propriedade e subir as taxas sobre lucros marginais e sobre a riqueza, repondo-as no nível (já reduzido) em que estavam na era Clinton [orig. re-instate the estate tax and raise the marginal income and wealth-tax rates to the (already reduced) Clinton-era levels].

Todo o dinheiro pode ser recuperado. Isso, exatamente, é o que Schumer, Frank e outros não querem que a opinião pública discuta e descubra. Por isso oferecem-lhe hoje, o circo dos bônus da AIG. É a mesma história de sempre: fazer as pessoas falarem sobre tudo o que não interessa a elas... e apagar, de todas as discussões, tudo o que é realmente importante.

Michael Hudson foi economista de Wall Street. É pesquisador da University of Missouri, Kansas City (UMKC). Escreveu, dentre outros livros, Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire (new ed., Pluto Press, 2002).

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Evolução do quadro eleitoral para 2010 II

E eis que está acontecendo, na medida em que passa o tempo, em que a corrida eleitoral vai afunilando e selecionando os reais candidatos, vão começando a operar as forças orientadoras da decisão do eleitor. Em especial uma delas, a identificação partidária. E Dilma começa a subir, em direção aos 24% da preferência eleitoral cativa do PT. Vai atingir este patamar ainda este ano, talvez já nas pesquisas de abril/maio. E o Serra vai cair (aliás, pela CNT/SENSUS desta semana já caiu). E a cobra vai fumar.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Você acha que a vida foi ou será boa com os tucanos? Parte II

Leia esta reportagem, na Veja, ilustrativo manual tucano sobre "como usar o governo para perseguir aqueles que nos fazem oposição para viabilizar uma candidatura sem base social ampla". Sintese: elimine os adversários, sem concorrência ganha-se por WO.

Aqui: http://veja.abril.com.br/070404/p_038.html

Você acha que a vida foi ou será boa com os tucanos?

Superávit comercial (em bilhões de dólares):
FHC (1995/2002): - 8,7 (déficit)
Lula (2003/2005): 103,0

Risco país (em pontos):
FHC (em 2002): 1.445
Lula (em fevereiro de 2006): 230 (menor índice da história)

Juros:
FHC (em 2002): 25%, tendo chegado a 46% na crise de janeiro de 1999
Lula (em fevereiro de 2006): 16% e deve chegar a 12% até o final do ano

Inflação:
FHC (em 2002): 12,5%
Lula (em 2005): 5,7%

Conversão de dólar em reais:
FHC (2002): 3,53
Lula (em Fevereiro de 2006): 2,15 (menor índice desde 2001)

Ranking no PIB mundial (em trilhões de dólares):
FHC (2002): 1,340 (10º país)
Lula (2004): 1,492 (9º país)

Índice Bovespa (em pontos):
FHC (2002): 11.268
Lula (em janeiro de 2006): 35.223 (recorde histórico)

Dívida externa (em bilhões de dólares):
FHC (2002): 210
Lula (2005): 165 (agora em fevereiro, amortizou mais 20 bilhões de dólares)

Dívida com o FMI (em bilhões de dólares):
FHC (2002): U$14,7 bilhões
Lula (2005): zero (pagou a dívida antecipadamente)

Dívida com o Clube de Paris (em bilhões de dólares):
FHC (2002): U$5 bilhões
Lula (2005): zero (pagou a dívida antecipadamente)

Salário mínimo (em dólares):
FHC (2002): 56,50
Lula (2005): 128,20

Desemprego:
FHC (2002): 12,2%
Lula (2005): 9,6%

Empregos com carteira assinada:
FHC (1995 a 2002 - oito anos) - 700 mil
Lula (2003 a 2005 - três anos) - 4 milhões

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O que Porto Alegre perdeu... O que Porto Alegre ganhou?

A postagem abaixo é do blog RSUrgente, do Marco W.. Uma perfeita descrição da inversão de sinais na polaridade ideológica mundial. E, também, do que Porto Alegre perdeu: o intercâmbio que antecipa tendências. E quem não antecipa tendências, é levado, muitas vezes prejudicado, por elas...
O que Porto Alegre ganhou? Ontem fomos protagonistas, hoje somos observadores.
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Belém vive, de um modo muito peculiar, o ambiente que Porto Alegre conheceu em 2001, quando recebeu pela primeira vez o Fórum Social Mundial. Há, por certo, diferenças importantes. Uma delas não é um detalhe: o mundo mudou. Quando o FSM nasceu, como contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, a globalização ainda era cantada em prosa e verso e, seus críticos, taxados de anacrônicos, inimigos da tecnologia e malucos. Na época, o então presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a escrever um artigo chamando os organizadores e participantes do Fórum de “ludistas” (numa alusão ao movimento dos trabalhadores ingleses no início do século XIX, que destruíam máquinas por temer perderem o emprego para elas).
Os supostos avanços da globalização dos mercados eram apresentados como inevitáveis e necessários para a prosperidade das nações. Oito anos depois, os mantras neoliberais não só perderam força como estão cobertos hoje por pesadas nuvens de suspeição e descrédito. De 2001 a 2009, o otimismo e a euforia dos mercados transformaram-se em angústia e lamento.
Há, portanto, um ambiente de novidade que cerca o FSM 2009. O mundo mudou, afinal. E há uma grande novidade também para os paraenses que recebem pela primeira vez o Fórum. Pelos hotéis, ruas e restaurantes de Belém, começa-se a ouvir o inglês, o francês, o alemão, entre outras línguas. Essa polifonia, porém, não chega a ser novidade em um Estado em que se falam 60 idiomas. A Amazônia poliglota vai se encontrar com as outras línguas e pedaços do mundo. E vice-versa.
Vozes conservadoras da cidade, assim como ocorreu em Porto Alegre, em 2001, falam na possibilidade do caos tomar conta de Belém. Há, sem dúvida, uma dimensão caótica no FSM, mas se trata de um caos extremamente criativo. Uma das maiores expressões dessa criatividade é a capacidade que o Fórum teve, desde 2001, de antecipar diagnósticos e análises que acabaram sendo confirmadas pela realidade. O descontrole dos mercados, a enlouquecida e enlouquecedora livre circulação do capital financeiro, a destruição ambiental pela mercantilizaçao do mundo, a crise energética e a crescente militarização da agenda política das nações são alguns exemplos.
Belém terá a oportunidade de presenciar e formular algumas das primeiras grandes sínteses da esquerda mundial sobre as crises que marcam o início de 2009: crises econômica, política, ambiental e energética. E isso num ambiente mundial bastante diferente daquele que marcou o nascimento do Fórum. Essa novidade, por si só, já representa um grande desafio para o movimento que, ao recusar as políticas e princípios da globalização neoliberal, lançou idéias e propostas que hoje já não recebem o rótulo de anacrônicas. O anacronismo, hoje, se mudou para as montanhas frias de Davos.