segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fogaça e o hino do Rio Grande do Sul

Quando você votar para governador estará escolhendo um líder para o Rio Grande do Sul. Líder é o sujeito que aponta um caminho, entre os vários possíveis. Líder é o sujeito que tem força suficiente para conduzir, ao menos, o seu grupo. E, com o seu grupo, assumir a direção da sociedade. Apontar um norte para mim, para você, para o RS.

Fogaça tem dito que governará bem o Rio Grande do Sul qualquer que seja o presidente eleito, que se relacionará bem com qualquer um. Tudo bem, até dá prá acreditar. Mas só isto não basta. Qual o melhor Brasil para o Rio Grande do Sul? O proposto por Dilma? O proposto por Serra? Ou o apresentado por Marina? E se o eleito não for o melhor cenário para o Rio Grande do Sul progredir? Não existirá bom relacionamento que ajude...

Fogaça não quer revelar qual cenário acha melhor (embora eu supeite que ele acha que é o proposto por Serra) porque está submetido as exigências de seu grupo político, o PMDB gaúcho. Parte do PMDB gaúcho é serrista, a maioria, e parte é Dilma. Fogaça não quer assumir a posição da maioria, porque sabe que perderia votos de quem está votando nele e na Dilma: especialmente os eleitores do seu aliado PDT. Fogaça, que se propõe ser o lider maior dos gaúchos, está sendo comandado pelas circunstâncias...

E quem é comandado pelas circunstâncias não é lider. Como lembra o hino do Rio Grande do Sul:

Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra

A neutralidade passiva de Fogaça não cabe aqui, não é verdade?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O debate da Band

Este debate de ontem, 05/08, não valeu nada. 

Não valeu nada em sí. Média de 3 pontos no IBOPE (isto é, 165 mil pessoas assistindo, uma vez que cada ponto do IBOPE significam 55 mil espectadores). Baixíssima audiência. No pico foram 5,5 pontos (menos de 302 mil pessoas). Para comparar, a audiência total do debate Lula x Collor (realizado em pool de emissoras: Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT) foi de 66 pontos (3,6 milhões de pessoas).

Não valeu nada como repercussão. Aspecto fundamental para sedimentar o ocorrido no debate como fato político relevante. A Bandeirantes não possui midia impressa (jornais, revistas, etc.) para catalisar o debate, isto é, para garantir o debate sobre o debate. Também a audiência de seus telejornais e sistema de rádio é baixa. Por sua vez, os jornais de outros grupos de comunicação (O Globo, Estado de São Paulo, Folha de São Paulo), do dia posterior ao debate, 06/08, construiram matérias burocráticas. O mesmo exemplo do parágrafo acima pode ser utilizado para ilustrar este aspecto: o famoso Jornal Nacional do dia posterior ao último debate presidencial de1989 entre Collor e Lula, ancorado na edição deste evento político, teve audiência de 3,4 milhões de pessoas (61 pontos no IBOPE).


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O QUE IMPORTA É A LÓGICA ECONÔMICA, do blog www.econobrasil.blogspot.com

Por Enéas de Souza

1) O nome decisivo em economia é lógica – lógica do capital. E no caso presente, lógica do capital financeiro. Portanto, ao contrário do que pensam certos economistas, a matemática não é uma lógica econômica, e só pode funcionar subordinada a esta. Fazer equações e modelagens só tem sentido se forem construídas em torno de proposições oriundas da economia. Ao mesmo tempo que não se pode aplicar uma teoria já preparada para a compreensão da realidade, um modelo ou uma visão a priori. O meu ex-professor de filosofia, católico, apostólico, romano, Armando Câmara, sempre dizia como Lênin – e eu sempre me lembro desta frase quando falo sobre o assunto – “nada tão prático como uma boa teoria”. Só que a boa teoria é o resultado apurado de idéias que se envolvem com a práxis. E que neste face a face com a realidade confirma aspectos verdadeiros, mas permite a correção de outros. E arma, por aprendizado, novas figuras intelectuais que o real vai exaltando e desenvolvendo. Portanto, o decisivo numa situação econômica é sempre saber por que a dinâmica da conjuntura é essa; que estrutura está presidindo essa correnteza histórica.

2) E porque razão? Já que esta razão não nos é dada antes dos acontecimentos, de modo a priori. Sabe-se igualmente que uma concepção também não é um apanhado e uma amálgama de variáveis que se pegou para descrever uma presente situação analítica. O que parece decisivo é saber por que se está numa situação como se está. E construir com a interação da teoria e da realidade uma teoria sempre em ato, uma concepção que está sempre aberta à elaboração de novas proposições que nos dêem a inteligibilidade do desenvolvimento econômico. E essa abordagem só existe se, por trás dessa presença de conhecimento, aparecem forças sociais suficientes para sustentar determinadas posições. Então, tomamos três pontos – um: uma teoria é o que permite compreender uma determinada realidade em movimento, o que significa entender a dupla história, da teoria e da realidade; dois: a teoria precisa ser sempre apreciada pela capacidade de incorporar novidades da realidade que ela mesma é incapaz de antecipar; e, por último, três: uma teoria só pode avançar para a transformação da prática se tiver grupos sociais que estejam apoiando tal direção da teoria sob formas de ações políticas. Uma política econômica tem a sua gênese da economia política.

3) Esses pontos estão envolvidos na lógica que vai compondo a compreensão da dinâmica capitalista numa certa direção. Sem esta lógica, o que temos é a vacuidade insignificante dos números usados a bel prazer por qualquer um. No fundo, hoje, existe um bom número de economistas e de gente que se autodenominam de gestores, cuja vocação é furtar a interpretação, já tendo eles próprios uma interpretação confusa, para que possam servir ao conservadorismo como se estivessem servindo ao bem público. Esta é mais uma das banalidades da contemporaneidade, a adoração dos números. O que significa que não sabem o que está acontecendo. Não pensam, passam a vida a calcular. A grande nudez destas posições apareceu nitidamente na incapacidade que tiveram de entender a crise quando ela estava estourando no mundo, quando não havia sinais de fogo, mas quando, em verdade, o fogo já estava grassando a olho nu. O número é cego, só a teoria proporciona a fala deste número. Na ocasião, estes analistas, continuavam seu triste destino ideológico e a dizer: tudo vai bem. E tudo vai bem por quê? Simplesmente porque um número, uma equação, uma modelagem não tem uma lógica que perceba a dinâmica de uma lógica econômica instalada. Uma variável tem que ter sociedade, classe social, teoria para sustentá-la. Sem essa condição, nenhum analista é capaz de entender minimamente o que está acontecendo.

4) O capitalismo vai se reerguer, mas não teremos de volta este capitalismo indecente que já passou. Que ele deu? Como disse na sua palavra simples, um chofer de táxi de Buenos Aires: “Los ricos continuán a ganar más plata, y los pobres siguén más pobres que antes”. Tradução: o neoliberalismo piorou em toda a parte a distribuição de renda. Tudo por uma única razão. Conseguiram passar para a sociedade que retirar o Estado da economia iria permitir o desenvolvimento social de todos. Como isso se mostrou uma balela, inventaram a idéia de que o sistema promove vencedores. E que para orgulhar um cara ante todos, existe, entre milhões de pessoas, alguém que é sempre um vencedor: você. Mas, se você não é um vencedor, o problema é seu e não do sistema Que pobreza de espírito, que maluquice mais estúpida! No entanto, o inusitado e o chocante é que esse besteirol colou. Agora que as derrotas das forças populares nos anos 90 foram assimiladas, partes equivocadas das teorias políticas e econômicas foram descortinadas, novas apostas podem ser feitas, principalmente, porque o neoliberalismo mostrou todo o fracasso de sua proposta, como nos disse o motorista de táxi de Buenos Aires. Pois o que se viu foi uma distribuição de renda mais desgastante e um Estado que agiu a serviço dos bancos – sobretudo dos bancos. E veja o milagre da repartição dos pães. Quem os salvou da bancarrota? O Estado. E mais: com o dinheiro da população, com “o nosso dinheiro” como gostam de dizer os donos do mundo, quando é para pagar algo que vai para os pobres, como a Bolsa Família, por exemplo.

5) 2007 destapou o subterrâneo da economia: aquela volúpia financeira através do abuso vigoroso e quase virtuoso da securitização. Claro que se esta só tivesse títulos financeiros de base, a crise teria ficado no reino das finanças. Mas, as hipotecas imobiliárias vinculavam o setor financeiro e o setor produtivo. Então, aconteceu o irreversível, não apenas a superacumulação de direitos financeiros, mas a superacumulação de bens e produtos. Resultado: hecatombe – que poderia ser um nome de fantasia para a crise econômica. E, claro, seguindo o baile, a pergunta se faz: onde é que a crise mundial se resolveu razoavelmente? Resposta: nos lugares onde o Estado estava menos endividado como no Brasil, onde o Estado estava no comando da economia, como na China. E começou-se, então, a sentir que, primeiro, para salvar os bancos e as instituições não-bancárias e as entidades não-financeiras, o que se precisava era de dinheiro público, o tal do “nosso dinheiro”. E, de repente, como um deslizamento mágico, o “nosso” virou dinheiro “deles”. E pior, riram da nossa cara, nos Estados Unidos, os recursos do Estado serviram inclusive para pagar o bônus de alguns dirigentes financeiros. Deboche absoluto. E mais, o Estado, o americano para termos uma idéia, foi longe, foi bastante longe, gastou e se endividou mais ainda, contudo somente para “la pátria financiera”, como dizem os argentinos. Porque, como migalha, só houve uma beirada miúda, quase desprestigiada, para o setor produtivo, automobilístico em especial. E um troquinho, muito mixa, para os trabalhadores, os part times e os desempregados.

6) Já faz no mínimo dois anos que os cantores do sistema dizem que agora sim, a coisa vai virar. E lá vêem eles com atléticos números estatísticos, que são plasmados para dizer o que as finanças querem. E aí está o nosso ponto: mesmo que a aparência mostre que a economia está se recuperando, o inverso é que é verdadeiro. Por quê? Isto está parecendo aquela história do Nelson Rodrigues, que ao ser alertado que tal partida de futebol não tinha sido como ele analisara, respondeu, altivo e triunfante: pior para os fatos. Pois é quase: o setor X cresceu, o banco Y recuperou a lucratividade, a empresa Z bateu o último semestre do ano anterior, etc., etc. Isto tudo são números vazios. O que temos que fazer é botar os números no interior da lógica econômica. Sim, porque a lógica econômica que presidiu o mundo anterior (a dinâmica aplicações financeiras-rendas financeiras-consumo-investimento) levou um tombo, caiu e não se levanta mais. Por quê? Porque não se fazem mais alavancagens como antigamente; os bancos não se emprestam como se emprestavam em outros tempos; as ações não estão rendendo para os investidores como rendiam nos anos 90; a securitização não tem espaço para crescer, nem para retornar ao mesmo nível anterior. A lógica econômica é submetida ao tempo. E o tempo é irreversível. Os ativos financeiros de ontem não são mais negociados como antes e a produção empaca na sua expansão: houve uma superacumulação de capital. O que está havendo é queima de capital. Não adianta dizer que em um mês cresceu um pouco mais aqui, um pouco mais ali. A economia como um todo não está crescendo. O investimento não aumentou, o emprego desabou – e, obviamente, não há horizontes para recuperação. Logo, a economia não é mais a mesma, perdeu a cabeça, perdeu o braço, perdeu o pé. Tem que nascer outra economia. Não adiantam números, não adiantam equações, não adiantam previsões numéricas. Há que mudar a lógica da razão econômica, o que significa dizer: estrutura, funções, dinâmica. E esta transformação não se dá porque um mercado cresceu bem hoje. Este crescimento só é representativo se e somente se ele está integrado numa nova lógica, porque cada período histórico é organizado por uma lógica distinta que se altera conforme a época e a etapa da sociedade. Esta é a plasticidade da lógica do capital e do capitalismo.

7) Então, quando é que os números vão se apresentar significativamente? Quando a economia se transformar; quando dinamicamente, ou seja, quando a finance led growth deixar de ser o movimento fundamental; quando o Estado tiver poder de decisão, como na China, por exemplo, e voltar a realizar uma política econômica não-liberal. Para isso, o Estado tem que ter planejamento, planejamento macro-econômico. Minimamente. Nos Estados Unidos, seja colocado em pauta, a Finantial Regulatory Reform possibilitou, via o Conselho de reguladores, um caminho irregular, mas caminho de controle da descabelada finanças. Ou seja, Obama pode tentar formatar uma direção financeira e começar a cuidar da economia produtiva. Uma vez que é preciso reposicionar a indústria automobilística, o que já começou a fazer desde o início do seu governo, substituindo diretores, impondo determinados tipos de linhas e carros a serem produzidas, etc. Ou seja, há que botar a referida indústria no seu lugar. Por quê? Por causa das necessidades de transformações do setor de energia, principalmente o petróleo. Estamos numa esfera decisiva, a mudança no setor energético: novas fontes de petróleo, o desenvolvimento do pré-sal e dos biocombustíveis, bem como a preparação de novas indústrias energéticas como a eólica, a solar e a do hidrogênio. Tudo isso vai ter que provocar novas relações, não só entre elas, mas com todo o conjunto de indústrias novas e velhas se misturando numa reformulação profunda de posições. Portanto, não adianta só falar em números, tem que mudar o Estado, tem que mudar as políticas econômicas; tem que mudar os setores produtivos; tem que mudar a liderança do setor industrial e tem que construir e conectar as cadeias produtivas que expressam esta nova realidade.

8) E, para isso, há que alterar o básico, há que alterar o financiamento. Ou seja, o sistema financeiro tem que se organizar em função dos setores produtivos, tem que haver crédito público e privado para as novas indústrias, principalmente às indústrias que vão entrar na maturidade, como as novas tecnologias de comunicação e informação, como às indústrias novas que entrarão em processo incremental de instalação, como os produtos das ciências médicas, etc. Portanto, a tal de finance led growth, vai ter que se inverter: o crédito para a especulação teve os seus anos dourados nos anos 2000. Agora não adianta dizer que os grandes bancos tiveram um semestre bom ou ruim. Não, não adianta dizer, eles vão ter que se transformar, vão ter que passar do financiamento para a especulação ao financiamento da produção. Isso não quer dizer que a especulação vai desaparecer. O que vai acontecer na nova lógica econômica é, possivelmente, uma cisão nas finanças: uma parte se dedicará ao desenvolvimento industrial, comercial e de serviços e a outra parte dará cobertura aos delírios especulativos. E cabe aos governos, através de políticas monetárias financeiras e fiscais, impedir a fusão desses dois mercados. Será a forma de desdobrar o perigo destes bancos “to big do fail” e deixarem, portanto, de serem prisioneiros desses gigantes da era neoliberal.

9) Finalmente, o Estado vai ter que planejar o desenvolvimento associado do setor público com o setor privado, com a finalidade não só de fazer a metamorfose da estrutura econômica, mas com a finalidade de destinar novas funções para o setor financeiro. Na viagem dessa aventura, corre uma remodelação do setor produtivo de tal modo que se possa substituir um processo de acumulação das finanças por um processo de acumulação produtiva que comande a expansão financeira. Se isso ocorrer, poderá haver uma forte criação do emprego e a economia pode retornar ao comando do investimento, com efeitos evidentes no consumo. Por outro lado, o que for excessivo para o financiamento do setor produtivo pode ser aproveitado pelo setor financeiro numa outra dimensão do que a atual. Esta nova economia exigirá, inclusive, o aumento de emprego no Estado, já que com características totalmente diferentes da economia de hegemonia financeira, não pode funcionar com a burocracia de hoje, estrutural e funcionalmente. O leitor sabe que o que é decisivo a partir da crise recente é a emergência de uma nova lógica econômica. 
 
10) Desta forma a economia mundial terá que recomeçar, na verdade já está começando, pela expansão chinesa, organizando a Ásia e a recolocando a América Latina e a África no campo da recuperação. Mas, a economia chinesa não tem cimento para construir toda a economia planetária. A renovação americana será importante, porque não só os Estados Unidos continuarão dominantes, mas reorganizarão a Europa e a Inglaterra, consolidando igualmente, as economias latino-americanas e africanas. Mas essa recomposição, para países como o nosso, só acontecerá no momento em que as dinâmicas das corporações e das nações unirem novamente os Estados Unidos e a China, constituindo, então, uma outra economia mundial. Só ai é que esta voltará a empurrar e a construir o novo círculo virtuoso do conjunto das economias. E isso não será feito como a construção do mundo pelo Senhor, ou seja, em sete dias. Os homens, coitados, são mais demorados. Tem que organizar as forças sociais capitalistas e forças sociais dos trabalhadores, bem como frações de classes apêndices em torno de um novo projeto da economia mundial. E isso não se faz sem fortes e profundas lutas, nem sem poderosos acordos. Enquanto a nova lógica se constrói, a velha desaba. Esta é a versão econômica daquela antiga sabedoria de botequim de Ibrahim Sued: “enquanto a caravana passa, os cães ladram”.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

Um dia sem a Globo

Texto circulando na internet (Twitter):

Junte se a nós e participe do #DiaSemGlobo em apoio a Dunga.

O técnico da seleção brasileira abriu fogo contra a Rede Globo.Dunga deu na
canela do comentarista Alex Escobar, da Globo. Poucas horas depois, um dos
apresentadores do programa Fantástico, Tadeu Schmidt, da África leu um
editorial da emissora detonando Dunga.

Tudo tem um porque, antes do ataque ao Dunga no Fantástico, o Jornal O Globo
já havia descido  a lenha na seleção e principalmente no seu treinador.

Qual a razão dessa súbita mudança de comportamento ?

Vamos aos fatos :

Segunda feira, véspera do jogo de estréia da seleção brasileira contra a
Coréia do Norte, por volta de 11 horas da manhã, hora local na África do
Sul.

Eis que de repente, aportam na entrada da concentração do Brasil, dona
Fátima Bernardes, toda-poderosa Primeira Dama do jornalismo televisivo,
acompanhada do repórter Tino Marcos e mais uma equipe completa de filmagem,
iluminação etc.

Indagada pelo chefe de segurança do que se tratava, a esposa do poderoso
William Bonner sentenciou :

" Estamos aqui para fazer uma REPORTAGEM EXCLUSIVA para a TV Globo, com o
treinador e alguns jogadores..."

Comunicado do fato, o técnico Dunga, PESSOALMENTE dirigiu-se ao portão e
após ouvir da sra. Fátima o mesmo blá-blá-blá, foi incisivo, curto e grosso,
como convém a uma pessoa da sua formação:
" Me desculpe, minha senhora, mas aqui não tem essa de "REPORTAGEM
EXCLUSIVA" para a rede Globo. Ou a gente fala pra todas as emissoras de TV
ou não fala pra nenhuma..."

Brilhante !!! Pela vez primeira em mais de 40 anos, um brasileiro peitava
publicamente a Vênus Platinada !!!

" Mas... - prosseguiu dona Fátima - esse acordo foi feito ontem entre o
Renato ( Maurício Prado, chefe de redação de esportes de O Globo ) e o
Presidente Ricardo Teixeira. Tenho autorização para realizar a matéria".

Dunga: - " Não tem autorização nem meia autorização, aqui nesse espaço eu é
que resolvo o que é melhor para a minha equipe. E com licença que eu tenho
mais o que fazer. E pode mandar dizer pro Ricardo ( Teixeira ) que se ele
quer insistir com isso, eu entrego o cargo agora mesmo!"

O treinador então virou as costas para a supra sumo do pedantismo e saiu sem
ao menos se despedir.

Dunga pode até perder a classificação, a Copa , seu time pode até tomar uma
goleada, qualquer fiasqueira na África, mas sua atitude passa à história
como um exemplo de coragem e independência frente a uma das instituições
privadas mais poderosas no País e que tem por hábito impor suas vontades,
eis que é líder de audiência e por isso se acha acima do bem e do mal.

Em linguagem popular, o Dunga simplesmente mijou na Vênus Platinada ! Sugiro
uma estátua para ele!!!

Após a poderosa Globo a mesma que levou o Collorido ao poder e depois o
detonou por seus interesses, agora difama o Dunga, tá certo que o cara é
meio Ogro, mas não teve o direito de se defender dos ataques em momento
algum.

Falar mal do cara é liberdade de imprensa

Ouvir o cara não pode?

A reação do povo foi imediata.O editorial lido no programa "Fantástico", da
Rede Globo, deu repercussão no mundo virtual. E pela primeira vez na
história o Brasil inteiro apóia o técnico da Seleção. Só a Globo para
conseguir isso...

Dentre os assuntos mais comentados no Twitter nesta segunda-feira (21), a
frase "Cala boca, Tadeu Schmidt" era líder absoluta --superou até a
antecessora "Cala Boca, Galvão", que liderou por dias seguidos os Trending
Topics.

E não parou por ai. Em apoio ao técnico da seleção brasileira, os twiteiros
lançaram o "DiaSemGlobo", que será nessa sexta-feira, quando o Brasil vai
jogar   com a seleção de Portugal, no encerramento da primeira fase da copa.

Todo mundo na Band, ou em outra emissora, não vamos sintonizar a Globo na
sexta-feira, temos que começar a deixar de ser gado manso, mostrar que não
somos trouxas manipuláveis

terça-feira, 25 de maio de 2010

Só por cima do meu cadáver!!!


Faço minhas as palavras de Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania. Golpe aqui não!!!

Só por cima do meu cadáver

Vamos chamar pelo que é esse ensaio da próxima linha de ataque da direita brasileira: tentativa de golpe contra a vontade popular. Simples assim. Com base em interpretação dúbia de leis, a direita quer fazer a Justiça Eleitoral tirar da disputa pela Presidência da República a sua principal adversária exatamente no momento em que vai ficando claro que a eleição dela é vontade da maioria do eleitorado brasileiro.

E não é porque a lei eleitoral trata os brasileiros como burros que eles são, pois todos sabemos que vantagem ilegal tem, sim, o PSDB, pois tem toda mídia, inclusive  as concessões públicas de rádio e tevê, do lado dele, dizendo que Dilma “cometeu gafe”, que sua campanha “vai mal”, que ela está “empacada”, que um de seus marqueteiros é uma besta etc.

É de estranhar uma justiça eleitoral que não enxerga o abuso de poder econômico que são as propagandas do governo de São Paulo em todas as rádios e tevês durante toda a programação de todas as emissoras abertas e até fechadas à razão de pelo menos umas 10 peças publicitárias por hora, às vezes mais.

E essa, acima, é apenas uma das incoerências dos tucanos, que atacam adversários pelo que fazem desabridamente em termos de campanha eleitoral antecipada e de vantagem injusta sobre o adversário.

O PT teve o programa dele de dez minutos e os tucanos terão o seu. Podem aproveitar para difundir Serra ou não, mas já aproveitaram antes e há várias provas gravadas, a maioria das quais não vieram a público, sem falar que a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, ao dizer que há mais provas contra o PT, contra o PSDB não disse que não há, mas que há menos, apenas.

O que é estranho é que a procuradora disse que há menos provas contra o PSDB porque ele não tem a máquina pública, sendo que, até algumas semanas, teve apenas o segundo orçamento do país nas mãos, o de São Paulo, e continua tendo, como se vê nas exaltações do governo tucano paulista em programas caríssimos em todos os horários de rádio e tevê.

Enfim, quero crer, ainda, que a Justiça Eleitoral deverá funcionar e que a doutora Sandra saberá explicar o grande número de posições contra o PT e o número zero de posições contra o PSDB que tem adotado, pois a aceitação da representação do Movimento dos Sem Mídia foi totalmente apartidária, para investigar institutos de pesquisa dos dois lados, se é que algum deles tem lado…

Mas, enfim, acho que chegou a hora de a onça beber água. Acho que a sociedade civil deve começar a se mobilizar já e os partidos da aliança governista que sustenta Dilma Rousseff devem pedir explicações à Justiça Eleitoral.

Quanto a mim, já me considero engajado em qualquer forma de resistência a um golpe análogo ao de Honduras, que a mídia brasileira carinhosamente chamou de “constitucional” – ou seja, um golpe de Estado, uma ruptura ilegal da democracia por definição, passa a ser compatível com a mesma Constituição que proíbe golpes, na visão da direita brasileira.

E também comunico que o Movimento dos Sem Mídia já se mobiliza para analisar e agir contra essa possibilidade de ruptura “constitucional” do processo eleitoral legal e democrático no qual somente o povo tem poder para decidir, pois considera que cassar uma candidatura que vem crescendo com intensidade devido ao amplo apoio popular, é golpe.

O próximo passo do MSM virá no momento oportuno, pois. Mas o da sociedade civil deveria começar já, na impossibilidade de ter começado ontem.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mauro Santayana escreve sobre o affair Irã: uma luta entre o bom senso e a barbárie

De como exercer a ousadia moral

Por Mauro Santayana, em JBOnline.

Velha teoria explica as guerras generalizadas como inevitável irritação da História: as situações envelhecem e se tornam insuportáveis, para estourar nos conflitos sangrentos. Alguns as veem como autorregeneração do mundo, ao contribuir para o equilíbrio demográfico. Outros a atribuem à centelha diabólica que dorme no coração dos homens e incendeia o ódio coletivo. O mundo finará sem que entendamos a fisiologia do absurdo. Para os humanistas, são repugnantes os massacres coletivos tanto como os assassinatos singulares.

De qualquer forma, a História tem como eixo a tensão permanente entre guerra e paz; entre a competição e o entendimento; entre o egoísmo que se multiplica no racismo e a solidariedade internacional. Uma coisa é inegável: quando os mais fortes querem, não lhes faltam argumentos trôpegos para justificar a agressão. La Fontaine soube reduzir esse comportamento no diálogo entre o lobo e o cordeiro. Quando o lobo quer, os filhos são responsáveis por falsas culpas dos pais e as águas sobem os rios.

É interessante registrar, no episódio da questão do Irã, algumas dúvidas que assaltam o homem comum. A primeira delas – e devo essa observação a um amigo – é a do direito de os possuidores das armas atômicas decidirem quem pode e quem não pode desenvolver a tecnologia nuclear. Mais ainda, quando o árbitro maior é o governo do país que a usou criminosamente, ao arrasar, sem nenhuma razão tática ou estratégica, duas cidades inteiras e indefesas do Japão. Reduzidas as dimensões do absurdo, podemos aceitar como lícitas as associações criminosas, como as dos narcotraficantes dos morros. Possuidores de bom armamento, impõem sua lei às comunidades e constroem sua própria legislação, cobram tributos e exigem obediência, sob a ameaça dos fuzis e da tortura. Chegaremos assim a uma sociologia política, abonada indiretamente por Weber e outros, que admite todo poder de facto, sem discutir sua legitimidade ética.

O momento histórico é de grande oportunidade para a Humanidade – e de grande perigo, também. A República dos Estados Unidos é um lobo ferido em suas entranhas. Por mais disfarcem o choque, a eleição de Barack Hussein Obama lanhou as glândulas da tradição conservadora da Nova Inglaterra. A águia encolheu suas asas. A maioria dos estados e, neles, a maioria dos eleitores, decidiu por um homem mestiço, filho de pai negro e mãe branca, nascido em uma colônia dissimulada em estado, o Havaí; e que passou o período mais importante da formação, o da adolescência, na Ásia: na Indonésia muçulmana e no arquipélago em que nasceu.

No inconsciente coletivo, os Estados Unidos já sentem a decadência, que se acelerou com o neoliberalismo. Eles poderão administrá-la com inteligência, integrando-se em uma Humanidade que necessita, com urgência, de novos parâmetros e de nova tecnologia, capazes de preservar a natureza, hoje em acelerada erosão, ou entrar em desespero. Se entrarem em desespero, conduzirão o mundo a nova guerra, mas isso não parece provável, diante da crescente consciência antibélica de seu povo.

Por enquanto os falcões parecem contar com a Europa e com a China, no caso do Irã. Mas não há, nos horizontes movediços de hoje, país suficientemente forte, capaz de impor-se aos demais. A Europa desce a ladeira, com sua bolsa de euros de barro, e a União Europeia se encontra ameaçada de fragmentação. A China é uma nebulosa impenetrável. O capitalismo financeiro descolou-se de qualquer compromisso ético, se é que o teve um dia. O sistema se torna mais selvagem quando se vale dos instrumentos tecnológicos de operação universal e instantânea.

É nesse momento que a presença do Brasil começa a impor-se no cenário internacional. Não temos armas atômicas, não dispomos de exércitos numerosos e bem equipados, mas somos chamados a manter o bom-senso, e manter o bom-senso é exercer a ousadia moral.

Digam o que disserem os quislings domésticos, o Brasil ganhou o respeito do mundo ao buscar a paz no Oriente Médio. Se contribuirmos para evitar o conflito, nosso será o mérito; se não houver o êxito, fica, na História, o testemunho de um esforço destemido e honrado – e não menos meritório.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A mistura de crise de hegemonismo, agressividade, hipocrisia e autismo auto-induzido da proposta de sanções do Governo Obama ao Irã


A leitura da proposta de sanções que madame Clinton quer ver aprovada no Conselho de Segurança da ONU não deixa sombra de dúvida: é uma dobradinha entre a estratégia de guerra permanente e o receio de perder o controle sobre a condução da política internacional. Controle, porque hegemonia já perderam...

O autismo auto-induzido, por exemplo, pode ser visto no parágrafo 34. Nesse, o governo do nobel Obama (sim, ele é o responsável), tal qual criança que pensa ter desaparecido ao tapar os olhos com as mãos, desconhece o fato de o Irã ter concordado com a transferência para outro país - Turquia - de 1,2 t de seu estoque de urânio em troca de 120 quilos do mesmo material, enriquecido, para seu Reator de Pesquisas. Quantidade esta que é exatamente a mesma proposta pela AIEA (Agencia Internacional de Energia Atômica). Diz este parágrafo que o Conselho de Segurança:

34. Elogia o Diretor Geral da AIEA pela sua proposta de um projeto de acordo entre a AIEA e os governos da República da França, da República Islamica do Irã e da Federação Russa para Assistência na Obtenção de Combustível Nuclear para o Reator de Pesquisas de Teerã, lamenta que o Irã não tenha respondido construtivamente a esta oferta, e encoraja a AIEA a continuar explorando essas medidas para construir confiança consistente com e em prol das resoluções do Conselho de Segurança;

Não repondeu a oferta cara-pálida? Respondeu dizendo que aceita os termos, mas que não confia seu urânio a França e a Russia e sim a Turquia. Uai, além de não confiarem no Irã, os EUA não confiam na Turquia? Só confiam em  países ocidentais (ou meio, como a Russia)?

Jeito de agir estadunidense: "ou jogam como eu quero ou eu levo a bola prá casa...". Mais cedo ou mais tarde o resto dos jogadores vai arranjar outra bola.

Para quem quiser ler o texto completo da proposta de sanções: Iran Resolution

terça-feira, 18 de maio de 2010

NOS EUA A SENHORA DA GUERRA MOSTRA SUAS GARRAS

Contra os fatos, os Estados Unidos insistem em manter a estratégia de sanções contra o Irã. Não há uma só prova de que o Irã desenvolve armamento nuclear. O Irã assinou um acordo aceitando enriquecer urânio fora de suas fronteiras. Mas o que interessa ao EUA não é nada disso, é, sim, a subordinação de uma nação soberana a seus interesses econômicos e geopolíticos. E sabem que essa só virá com uma vitória militar. Só que precisam debilitar economicamente o Irã para depois organizar uma ofensiva bélica.
A senhora da guerra, sucessora de Bush, mostra suas garras...

domingo, 16 de maio de 2010

Brasil, Turquia e Irã fecham acordo histórico: E Lula subiu a montanha...

Do Blog do Luis Nassif:

 Irã, Turquia e Brasil chegam a acordo, diz chanceler turco



da Reuters
colaboração para a Folha

O ministro de Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, disse neste domingo que foi alcançado um acordo entre Irã, Turquia e Brasil sobre a troca de combustíveis nucleares, decisão que pode por fim à disputa com o Ocidente sobre o programa nuclear do Irã. Quando questionado por jornalistas em Teerã se haveria um acordo sobre a troca de combustível, ele respondeu: “Sim, isso foi alcançado após quase 18 horas de negociações”.

Segundo o chanceler turco, o anúncio oficial pode ser feito na segunda-feira pela manhã, após revisão pelos presidentes brasileiro e iraniano e o primeiro-ministro turco, que chegou à capital iraniana neste domingo.

Os presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, falaram neste domingo em entrevista coletiva sobre o interesse de incrementar as relações comerciais entre seus países. Porém, eles não tocaram na questão nuclear, ponto central do encontro, como já havia acontecido mais cedo, na nota oficial divulgada no site do governo iraniano.

Os EUA e alguns de seus aliados acusam o Irã de desenvolver um programa nuclear com fins militares, mas Teerã defende que a finalidade é pacífica e se recusa a negociar. Os EUA pressionam por uma quarta rodada de sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) contra o país do Oriente Médio.

Segundo o site da TV iraniana Alallam, os chanceleres de Irã, Turquia e Brasil mantiveram um encontro trilateral neste domingo para discutir, entre outros assuntos, a troca de urânio iraniano.

O porta-voz da chancelaria iraniana, Ramin Mehmanparast, tinha dito que Teerã chegou a um acordo sobre a quantidade de urânio a ser trocada e a modalidade da troca –simultaneamente ou em lotes–, informa a Alallam. “Há um acordo sobre o momento e o volume de combustível a ser trocado”, disse ele. “Mas ainda falta decidir o local e, se houver garantias concretas, o Irã está disposto a negociar.”

Proposta

A proposta de Brasil e Turquia era pressionar os líderes iranianos a rever uma proposta sob a qual o Irã enviaria urânio baixamente enriquecido a outro país e, em retorno, receberia urânio altamente enriquecido — um plano que fracassou em outubro do ano passado.

Um acordo apresentado pela ONU em outubro oferecia ao Irã que enviasse 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento –o suficiente para a fabricação de uma bomba se enriquecido no patamar necessário– para a França e para a Rússia, onde seria convertido em combustível para um reator de pesquisas em Teerã.

O Irã afirmou na época que só trocaria o seu material por urânio em níveis maiores de enriquecimento e somente no seu próprio território, condições que as outras partes envolvidas no acordo consideraram inaceitáveis.

O acordo foi interrompido na época. O Brasil e a Turquia, ambos membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), ofereceram-se para mediar as negociações e tentar convencer o Irã a rever a oferta.

Os Estados Unidos e países aliados estão em negociação para impor uma quarta rodada de sanções da ONU ao Irã. Washington acusa Teerã de tentar ganhar tempo ao aceitar a proposta de mediação de Lula.

O Brasil já apresentou uma proposta segundo a qual o Irã trocaria urânio pouco enriquecido por combustível nuclear na Turquia, país que tem estreitos laços tanto com Ocidente como com o Oriente Médio. O Irã enviaria urânio ao exterior e o receberia de volta enriquecido a 20%, nível suficiente para fins pacíficos.

Segundo a imprensa iraniana, Ahmadinejad tinha dito que aceitava “em princípio” a proposta de Lula durante uma conversa telefônica com o líder venezuelano, Hugo Chávez.

Viagem surpresa

O primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan viajou a Teerã neste domingo para se reunir com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e com o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.

“Estou indo ao Irã porque uma cláusula será acrescentada ao acordo que diz que a troca será feita na Turquia”, disse o premiê. “Teremos a oportunidade de começar o processo em relação à troca”, disse Erdogan. “Eu garanto que encontraremos a oportunidade para superar esses problemas, se Deus quiser.”

Roda de apostas

Durante visita oficial à Rússia, em entrevista concedida no Kremlin, Lula disse que há 99% de chances conquistar um acordo com o Irã durante sua passagem pelo país. Ao seu lado, o presidente russo, Dmitri Medvedev, não foi tão otimista: afirmou que as chances são de 30%.

“Se não chegarmos a um acordo, volto para casa feliz, porque ao menos não fui negligente”, disse o presidente.

Considerado um carismático negociador, Lula conta com o apoio da França, Turquia e da Rússia, ainda que comedido, mas os EUA já advertiram que o Irã não leva o encontro a “sério”.

Para a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, Lula enfrenta uma “montanha a ser escalada” para tentar persuadir o Irã a limitar suas ambições nucleares.

“Eu disse a meus colegas em muitas capitais do mundo que eu acredito que não teremos nenhuma resposta séria dos iranianos até que o Conselho de Segurança aja”, disse ela, referindo-se aos esforços liderados pelos EUA para a imposição de uma quarta rodada de sanções da ONU contra o Irã.

O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, P.J. Crowley, disse que se o Irã não mudar seu comportamento após a visita de Lula, o país deverá pagar o preço.

“Neste ponto acreditamos que deverá haver consequências por um fracasso em responder”, disse Crowley.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Novos tempos, novas formas


Hoje li a seguinte notícia, no blog do Eduardo Guimarães, o Cidadania.com:

Justiça e PF investigarão pesquisas

A quem possa interessar:

Conforme informações obtidas pelo Departamento Jurídico do Movimento dos Sem Mídia — MSM – na tarde desta 3a. feira, 11/05/2010, em Brasilia – DF, a Vice-Procuradora Geral Eleitoral do Ministério Publico Eleitoral Federal, Dra. Sandra Cureau, acolheu a representação de nossa Organização no sentido de que as pesquisas feitas e por fazer em 2010 pelos institutos de pesquisa Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi, sejam auditadas.

A Procuradoria determinou em despacho que “se extraiam cópias na íntegra da Representação Eleitoral do MSM e da lista de adesões dos cidadãos brasileiros que a apoiaram, remetendo os documentos à Superintendência da Polícia Federal em Brasília – DF, para que a Polícia Federal proceda a Abertura de inquérito Policial para apurar suposta prática de Crime Eleitoral de Realização e Divulgação de Pesquisa Eleitoral Fraudulenta”.

O processo junto à Procuradoria Geral Eleitoral – DF recebeu o número 4559.2010-33

Atenciosamente,

Eduardo Guimarães

Movimento dos Sem Mídia

Presidente

O que este fato revela, junto com inúmeros outros que poderíamos listar aqui, é que a blogosfera (como é conhecido o universo habitado pelos blogueiros) mais do que uma mídia, uma forma de informar-se, organizar informação e produzir opinião, é um movimento social. O mais recente movimento social, sobretudo mas não somente, urbano. Com potencial para induzir e sustentar, em aliança com outros movimentos e com o devido apoio institucional,  processos de mudança social e política.

Em um passado não muito distante, décadas de 80 e 90, em Porto Alegre, os movimentos sociais comunitários cumpriram o papel de indutores e base de sustentação de um projeto de mudança social, articulados em um processo de participação que ficou conhecido como Orçamento Participativo. Este processo resultou, entre outras coisas, na amplificação da agenda destes movimentos:  assegurou que esta saísse do nicho clientelista e tornou-a amplamente conhecida e legitimada na sociedade local. Esta amplificação foi feita através da construção de uma relação democrática, direta e autonoma deste movimento com o Estado.


Um programa de governo de esquerda deveria, prioritariamente, pensar em estruturas e processos que permitissem a participação democrática, permanente e direta, mantendo autonomia, deste movimento social no processo de reorientação do Estado para uma estratégia de mudança social. As que foram construídas até aqui não me parecem dar conta, uma vez que não lidam com o mundo dito "virtual" (aliás, virtual apenas quanto a forma).

A formação de uma rede, reconhecida por este movimento e pelo Estado, onde fossem discutidos e decidos formatos de politicas públicas poderia ser um bom começo...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Hoje estreiou Sul21: para quem tem este espirito

Dilma: "Tem gente que passou a vida inteira querendo ser Presidente. Eu era mais modesta. Fui para a atividade pública porque queria servir."

Dilma Rousseff
Entrevista a Revista Isto É. (www.istoe.com.br)
(07.05.2010)




Com um calhamaço de fichas repletas de dados sobre realizações do governo Lula sempre ao alcance das mãos, a candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, falou por quase quatro horas sobre seus planos para o Brasil, numa entrevista exclusiva a editores e articulistas de ISTOÉ. Em poucos momentos ela consultou a papelada. Mas seguidamente procurou com os olhos um contato com sua equipe de assessores que lhe passava, sempre, sinais de aprovação. Dilma não refugou assuntos. Falou sobre questões pessoais e afetivas com a mesma naturalidade com que abordou temas da política e da economia. Emocionou-se quando relembrou seus dias de luta contra o câncer.
Vestida com um terninho clássico, de tecido leve e claro, penteada e maquiada com discrição, Dilma Rousseff parece à vontade na condição de candidata. Já suavizou a postura de gerente técnica que ostentava como ministra do governo Lula. Mesmo que jamais tenha buscado votos em sua vida pública, faz promessas de candidata e demonstra apetite para contrapor-se ao candidato da oposição, José Serra. Diz que a missão de seu governo é erradicar a pobreza, mas não estabelece prazos. Anuncia ainda mudanças na condução do Banco Central e a intenção de criar um fundo federal para compensar perdas regionais na reforma tributária que se compromete a implementar. A seguir, os principais trechos de sua entrevista:
ISTOÉ – Por que a sra. acha que o presidente Lula a escolheu para sucedê-lo e quando exatamente se deu isso?
Dilma Rousseff – O presidente Lula me escolheu quatro vezes. A primeira foi na transição do governo de Fernando Henrique para o governo Lula, em 2002. O presidente me chamou para fazer a coordenação da área de infraestrutura porque me conhecia das reuniões do Instituto de Cidadania. Depois ele me escolheu para ser ministra de Minas e Energia. E, em 2005, para ser ministra da Casa Civil. Por último, me escolheu para ser pré-candidata para levar à frente o projeto de governo. Acho que me escolheu porque acompanhei com ele a construção de todos os grandes projetos. O presidente sabe que nós conseguimos, juntos, fazer estes projetos.
ISTOÉ – Ser presidente era uma ambição pessoal da sra.?
Dilma – É um momento alto da minha vida, talvez o maior. Tem gente que passou uma vida inteira querendo ser presidente da República. Eu era mais modesta. Fui para a atividade pública porque queria servir. Pode parecer uma coisa falsa, mas acho que se pode servir à população brasileira no setor público. Sempre acreditei que o Brasil podia mudar, mas isto era uma questão longínqua. Quando o Lula me chamou para a chefia da Casa Civil, ele pretendia que o governo entrasse na trilha do crescimento e da distribuição de renda para que o Brasil desse um salto, e vi nisso uma grande oportunidade.
ISTOÉ – A sra. se considera preparada para o cargo?
Dilma – Tenho clareza, hoje, de que conheço bem o Brasil e os escaninhos do governo federal. Então, sem falsa modéstia, me acho extremamente capacitada para o exercício desse cargo. E acredito que o fato de não ser uma política tradicional pode incutir um pouco de novidade na gestão da coisa pública. Uma novidade bem-vinda. Na minha opinião, critérios técnicos se combinam com políticos. Escolher onde aplicar é sempre um ato político. Por exemplo, eu acho que a grande missão nossa é erradicar a pobreza e que é possível erradicá-la nos próximos anos. Isto é um ato político. Outra pessoa pode escolher outra coisa.
ISTOÉ – No horizonte de um governo, é possível erradicar a pobreza?
Dilma – Tem um estudo do Ipea mostrando que até 2016 é possível erradicar a pobreza extrema, a miséria. Mas o empresário Jorge Gerdau costuma dizer que “meta que se cumpre é meta errada”. Metas não são feitas para cumprir, mas para estabelecer um objetivo, criar uma força. Assim, acredito que o prazo de 2016 é viável, mantido o padrão do governo Lula. Nossa meta pode ser ainda mais ousada. Só não vou dizer qual porque, se passar dois dias sem cumpri-la, vão dizer: “Não cumpriu a meta”, como fazem com o PAC. Atrasar uma obra de engenharia em seis meses é a catástrofe no Brasil.
ISTOÉ – O presidente Lula também trabalhou com metas quando foi candidato. Ele falava em dez milhões de empregos...
Dilma – Acho que a gente fecha em 14 milhões. Falei com a área econômica de dois bancos e ambos consideram que o crescimento do PIB será de 6,4%, podendo chegar a 7%, o que dá condições para se chegar a estes 14 milhões de empregos. Os dados da produção industrial que fechamos em março apontam um crescimento muito robusto e sustentável porque são os bens de capital que estão puxando esse desempenho.
ISTOÉ – O Banco Central está preocupado com este crescimento...
Dilma – Não, o Banco Central está preocupado com outra coisa. Ele não pode estar preocupado com a expansão dos bens de capital porque isso é virtuoso.
ISTOÉ – Parece que há uma visão dissonante entre o Banco Central e a Fazenda sobre o desempenho da economia. Como a sra. vê essa questão?
Dilma – Os dois trabalham em registros diferentes. O BC faz uma análise necessariamente de curto prazo, porque ele trabalha com questões inflacionárias conjunturais, mais imediatas. Ele olha a pressão na hora que ela acontece. Já a Fazenda tem uma visão de mais médio e longo prazo. É outro registro. A Fazenda tem consciência de que o Brasil está em uma trajetória de estabilidade e de sustentabilidade. Agora, isso não é incompatível com o fato de você ter pressões inflacionárias imediatas. Acho que foi importante o aumento dos juros na última reunião do Copom.
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“Tem gente que passou uma vida inteira querendo ser presidente
da República. Eu era mais modesta”
ISTOÉ – Isso não dá munição para os seus adversários?
Dilma – Nós já tivemos duas experiências muito ruins de, durante a eleição, fingir que é uma coisa e, depois, virar outra. Uma na virada do primeiro para o segundo mandato do Fernando Henrique Cardoso e outra no Plano Cruzado. Hoje somos perfeitamente capazes de elevar a taxa de juros e assumirmos as consequências, sem que isso signifique uma perda. Temos integral compromisso com a estabilidade.
ISTOÉ – A sra. concorda com a política de juros do BC?
Dilma – Concordo. Acho que, da ótica do BC, ele fez o que precisava fazer. Nos Estados Unidos, onde há um histórico maior de estabilidade, o Federal Reserve tem dois olhos: um que olha a inflação e outro o emprego.
ISTOÉ – O nosso só olha a inflação.
Dilma – No meu governo acho que, mais para o final, teremos condições de olhar as duas coisas: inflação e emprego.
ISTOÉ – Teremos um BC diferente?
Dilma – Teremos uma política e uma realidade diferentes. Porque, para o BC fazer isto, é preciso uma redução da dívida líquida em relação ao PIB. O Brasil converge para condições monetárias de estabilidade que permitirão a combinação de outras variáveis. Criamos robustez econômica suficiente para fazer isso.
ISTOÉ – A sra. vai enfrentar um candidato que também se apresenta como um pós-Lula. O que a diferencia dele?
Dilma – Só se acredita em propostas para o futuro de quem cumpriu suas propostas no presente. O que nos distingue é que nós fizemos, nós sabemos o que fazer e como fazer. Mais do que isso, os projetos dos quais eu participei – 24 horas por dia nos últimos cinco anos – são prova cabal de que somos diferentes.
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“Sou católica, mas antes de tudo cristã.
Tive minha formação no Sion”
ISTOÉ – A sra. não acha importante o fato de o PT ter assumido o governo com um quadro de estabilidade da moeda?
Dilma – Eu não queria fazer isso, mas, se vocês insistem, vamos lá: recordar é viver. Nós assumimos o governo com fragilidades em todas as áreas. Taxas de inflação acima de dois dígitos, déficit fiscal significativo e, sobretudo, uma fragilidade externa monstruosa. Tínhamos um empréstimo com o FMI de US$ 14 bilhões. A margem de manobra nessa situação é zero. Você se coloca de joelhos junto aos credores internacionais. Quem fala com você é o sub do sub do sub. Isso não foi momentâneo. Foi uma década de estagnação, de desemprego e desigualdade. Nós tivemos, claro, coisas boas. Uma delas é a Lei de Responsabilidade Fiscal.
ISTOÉ – Mas já cogitam mudá-la. A sra. é favorável a isto?
Dilma – Depende. Acho que para mexer em coisas que têm dado certo é recomendável caldo de galinha e muita calma. Mas, voltando ao recordar é viver, o Plano Real também teve mérito. Já em outros pontos fomos salvos pelo gongo. O País deve dar graças a Deus por não terem partido a Petrobras em pedaços, não terem privatizado o setor elétrico, Furnas, Eletronorte, Eletrosul. A privatização da telefonia foi correta, mas não acho hoje muito relevante. Hoje a banda larga é mais importante que a telefonia.
ISTOÉ – A sra. acha que Serra seria a continuidade de FHC?
Dilma – Não tenho nenhum comentário a fazer sobre a pessoa José Serra. Tenho respeito por ele. Mas nós representamos projetos políticos distintos. Nós temos uma forma diferente de olhar o Estado.
ISTOÉ – Ele também se apresenta como um economista da linha desenvolvimentista.
Dilma – Acho muito significativa essa tentativa de borrar diferenças. Duvido que estariam borrando diferenças se o governo do presidente Lula tivesse menos que 76% de aprovação. Duvido. Há, neste processo, a tentativa de esconder o fato de que somos dois projetos. Tenho orgulho de ter sido ministra do presidente Lula. Devemos comparar as experiências de cada um. Eles diziam que não sabíamos governar, que só tivemos sorte. A gente gosta muito de ter sorte. Graças a Deus não somos um governo pé-frio. Mas quando chegou essa crise, muito maior que a de 1929, mostramos enorme competência de gestão, capacidade de reação e ousadia.
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“Lula é uma pessoa extremamente afetiva. Ele
não te olha como se fosse um instrumento dele”
ISTOÉ – O governo FHC foi incompetente?
Dilma – O governo FHC representa um processo em que não acredito. Não acredito num projeto de privatização de rodovias que aumenta o custo Brasil por causa dos pedágios, que embute taxas de retorno de 26% ao ano. Em estradas federais, a qualidade melhorou muito com pedágios bem menores por uma razão muito simples: nós não cobramos concessão onerosa. Logística é igual a competitividade na veia.

STOÉ – O que a sr. faria diferente do atual governo?
Dilma – Nós tivemos que trocar o pneu do carro com ele andando. Algumas coisas concluímos, em outras não conseguimos avançar. Acho imprescindível, para o patamar de crescimento atingido, fazer a reforma tributária. Não é proposta, é uma exigência. Se quisermos aumentar nossa produtividade e, consequentemente, nossa competitividade, precisamos acabar com coisas absurdas como a tributação em cascata.
ISTOÉ – O governo atual também diz que tentou fazer isto.
Dilma – Não deu agora porque reforma tributária significa conflito federativo. Aprendemos que é inviável fazer reforma tributária sem compensações porque ela tem tempos diferentes. Para neutralizar o efeito negativo da perda de arrecadação, vamos criar um fundo de compensação. Este é o único mecanismo negociável.
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“Depois que minha filha nasceu, tive uma gravidez
tubária. Eu não podia mais ter filho”
ISTOÉ – Os acordos políticos resultarão ainda em loteamento de cargos?
Dilma – Não. O apoio político é totalmente legítimo. Em todos os países há uma composição política que governa. O que você tem que exigir é padrões técnicos. Lutei muito para implantar isso no governo.
ISTOÉ – Está satisfeita com o que foi feito?
Dilma – Acho que podemos melhorar.
ISTOÉ – A sra. será avó, em breve. E provavelmente seu neto nascerá num hospital privado e se educará numa escola particular. Em que momento a sra. acha que o Brasil estará pronto para mudar isso?
Dilma – Quero muito que isso aconteça porque me esforcei muito para estudar numa excepcional escola pública, que era o Colégio Estadual de Minas Gerais. A gente fazia um vestibularzinho para passar ali. Era difícil. Este é o grande desafio do Brasil. Para a educação ser de qualidade, não é só prédio, laboratório, banda larga nas escolas. É, sobretudo, professor bem remunerado e com formação adequada.
ISTOÉ – Seu neto vai ter uma superavó, moderna, talvez presidente da República. Essa avó moderna também namora?
Dilma – Olha, eu não namoro atual­mente, apesar de recomendar para todo mundo. Acho que faz bem para a pele, para a alma, faz todo o bem do mundo.
ISTOÉ – Uma vez eleita, a sra. assumiria um relacionamento? A sra. casaria no meio do mandato?
Dilma – A vida não é assim, tem que se confluírem os astros...Eu não sou uma pessoa carente propriamente dita, tive uma vida afetiva muito boa, muito rica. Mas nos relacionamentos há uma variá­vel que é estratégica, que é com quem eu vou casar. Essa variável estratégica eu tenho que saber, porque assim, no genérico, isso não existe. Agora, vamos supor que a pessoa seja maravilhosa e eu esteja apaixonadíssima...
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“Não sou uma pessoa carente propriamente
dita. Tive uma vida afetiva muito boa, muito rica”
ISTOÉ – A sra. está fechada para isso?
Dilma – Não, ninguém pode estar na vida. Mas para mim é uma coisa muito distante. E depende dessa variável: que noivo é esse?
ISTOÉ – Qual a sua posição em relação ao aborto? A sra. passou pela experiência de fazer um aborto?
Dilma – Eu duvido que alguma mulher defenda e ache o aborto uma maravilha. O aborto é uma agressão ao corpo. Além de ser uma agressão, dói. Imagino que a pessoa saia de lá baqueada. Eu não tive que fazer aborto. Depois que minha filha nasceu, tive uma gravidez tubária, eu não podia mais ter filho. E antes disso só engravidei uma vez, quando perdi o filho por razões normais. Tive uma hemorragia, logo no início da gravidez, sem maiores efeitos físicos.
ISTOÉ – Isso foi antes de sua filha nascer?
Dilma – Foi antes. Tanto é que eu fiquei com muito medo de perder minha filha, quando fiquei grávida. Mas todas as minhas amigas que vi passarem por experiências de aborto entraram chorando e saíram chorando. Eu acho que, do ponto de vista de um governo, o aborto não é uma questão de foro íntimo, mas de saúde pública. Você não pode hoje segregar mulheres. Deixar para a população de baixa renda os métodos terríveis, como aquelas agulhas de tricô compridas, o uso de chás absurdos, de métodos absolutamente medievais, enquanto as mulheres de renda mais alta recorrem a clínicas privadas para fazer aborto. Há muita falsidade nisto.
ISTOÉ – A sra. defende uma legislação que descriminalize o aborto?
Dilma – Que obrigue a ter tratamento para as pessoas, para não haver risco de vida. Como nos países desenvolvidos do mundo inteiro. Atendimento público para quem estiver em condições de fazer o aborto ou querendo fazer o aborto.
ISTOÉ – A Igreja Católica se opõe a isto.
Dilma – Entendo perfeitamente. Numa democracia, a Igreja tem absoluto direito de externar sua posição.
ISTOÉ – A sra. é católica?
Dilma – Sou. Quer dizer, sou antes de tudo cristã. Num segundo momento sou católica. Tive minha formação no Colégio Sion.
ISTOÉ – A sra. passou por um tratamento para curar um câncer e precisa submeter-se a revisões periódicas. O que deu sua revisão dos seis meses?
Dilma – Agora faço de seis em seis meses. Fiz há pouco, em abril, e deu tudo perfeito.Existe na sociedade e em cada um de nós uma visão ainda muito pesada sobre a questão do câncer. E isso provoca nas pessoas muita dificuldade em tratar a doença Eu tive a sorte de descobrir cedo. Estava fazendo um exame no estômago e resolveram ver como estavam minhas coronárias. Eu fui para fazer um exame de coronária e descobri um linfoma.
ISTOÉ – Como a sra. reagiu?
Dilma – A notícia é impactante. Na hora eu não acreditei, estava me sentindo tão bem. Há uma contradição entre o que você sente e o que te falam. Para combater o câncer você precisa encontrar forças em você mesma. Tem que se voltar para você, não pode, de jeito nenhum, se entregar. Depois, você combate porque conta com apoio. Eu tive uma sorte danada, recebi apoio popular. Chegavam perto de mim e falavam que estavam rezando. A gente se comove muito. E também tive apoio dos amigos, do presidente, de meus colegas no governo.

“Eu quero Neymar e o Ganso na Seleção.
Eles trouxeram alegria de volta para o futebol”
ISTOÉ – A sra. rezava?
Dilma – Ah, você reza, sim. E reza principalmente porque não é o câncer que é ruim, é o tratamento.
ISTOÉ – A sra. tem medo que o câncer volte?
Dilma – Hoje não.
ISTOÉ – Como a sra. encara a vida depois disso?
Dilma – A gente dá mais valor a coisas que costumam passar despercebidas. Você olha para o sol e fica pensando se você vai poder continuar vendo esta coisa bonita. Você fica mais alerta. Só combate isso se tiver força interna. Vou contar uma coisa. Eu não conhecia a Ana Maria Braga e um dia ela me ligou e conversou comigo explicando como tinha vencido o câncer dela, que o dela era mais difícil, diferente, e que superou. Vou ter sempre uma dívida com ela, porque, de forma absolutamente solidária e humana, ela me ligou naquele momento.
ISTOÉ – Mudando de assunto, o Lula é um bom chefe?
Dilma – Sim. O Lula é uma pessoa extremamente afetiva. Ele não te olha como se você fosse um instrumento dele. Te olha como uma pessoa, te leva em consideração, te valoriza, brinca. Ele tem uma imensa qualidade: ele ri, ri de si mesmo.
ISTOÉ – A sra. também será assim como chefe? Porque dizem que a senhora é o contrário disto, durona...
Dilma – Você não pense que o Lula não é duro não, hein. É fácil até para você cobrar, em função disto. Basta dizer: amanhã tem reunião com o Lula. Simples...
ISTOÉ – As reuniões são muito longas?
Dilma – A busca de um consenso é um jeito que criamos no governo. Algumas vezes o presidente chamava isto de toyotismo. Não é a linha de montagem da Ford, onde cada um vai olhando só uma parte. É aquele método de ilha da Toyota, porque você faz tudo em conjunto. Outra coisa é que a gente sempre discute com os setores interessados. Sabe como saiu o Minha Casa, Minha Vida? Porque nós sentamos com eles (empresários da construção civil) e conversamos. Eles criticando o que se fazia, os 13 grandes mais a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil. Se você não fizer isso, se não for absolutamente exaustivo no debate do detalhe, o projeto não fica em pé. Na curva ele cai.
ISTOÉ – Hoje todo mundo comenta, inclusive dentro do partido, que, a partir da entrada do presidente na campanha, suas chances de vitória aumentam. A sra. traz essa expectativa também?
Dilma – Do nosso ponto de vista já é dado que o presidente participa. Nós nunca achamos que ele vai chegar um dia e participar depois. O presidente é a maior liderança do PT, a maior liderança da coligação do governo, uma das maiores lideranças do País, uma das maiores lideranças do mundo...
ISTOÉ – O fato de ter duas mulheres pela primeira vez concorrendo dará um tom diferente à campanha?
Dilma – Acho que as mulheres estão preparadas para pleitear as suas respectivas candidaturas e o Brasil está preparado para as mulheres agora. Penso que é muito importante que haja um olhar feminino sobre o Brasil. As mulheres são sensíveis e isso é uma grande qualidade. As mulheres são sensatas e objetivas até porque lidam na vida privada com condições que exigem isto. Ou você não conseguiria botar filho na escola, providenciar comida, mandar tomar banho, ir trabalhar... As mulheres também são corajosas: a gente segura dor, a gente encara.
ISTOÉ – A sra. é a favor ou contra a reeleição?
Dilma – Sou a favor. Acho muito importante.
ISTOÉ – A sra. cederia a possibilidade de uma reeleição para o presidente Lula, no caso de ele querer se candidatar em 2014?
Dilma – Ele já me disse para não responder a essa pergunta.
ISTOÉ – Até quando a sra. vai obedecer cegamente o que ele manda?
Dilma – Lula não exige obediências cegas.
ISTOÉ – A sra. acompanha futebol como o presidente Lula?
Dilma – Quero o Neymar e o Ganso na Seleção. Tenho muita simpatia pelo Ganso, aquele jeito meio desconcertado de falar. Mas gosto dos dois. Eles trouxeram alegria de volta para o futebol. Jogam de forma desconcertante e atrevida.



quarta-feira, 5 de maio de 2010

“Um pássaro na mão ou dois voando”

Escolhas eleitorais
por Marcos Coimbra, em O Estado de Minas, via Nassif

Para a vasta maioria da população, a eleição pouco (ou nada) tem a ver com algo tão distante quanto a escolha de um modelo de capitalismo.
Não faz muito tempo, um dos mais renomados articulistas de um importante jornal carioca iniciou sua coluna com uma pergunta natural para esta época do ano: o que terá mais peso nas decisões que os eleitores vão tomar na hora de escolher em quem votar para presidente? Para respondê-la, oferecia, no entanto, alternativas que nada tinham de naturais: seria “a capacidade de sedução do presidente Lula e a boa situação da economia, proporcionando uma sensação de bem-estar à população” ou “a percepção de parte do eleitorado de que uma política externa radicalizada à esquerda tem reflexos inevitáveis na maneira de conduzir a política interna”?
Quem tivesse lido somente esse começo de texto talvez ficasse com a impressão de que o autor estava brincando. Em nenhum lugar do mundo uma dúvida assim faria sentido e, certamente, não no Brasil.
De um lado, só estão coisas palpáveis: um presidente que seduz a opinião pública, a economia que vai bem, as pessoas satisfeitas, uma sensação de bem-estar. Do outro, algo que já é enunciado como limitado (“a percepção de parte….”), que põe na mesa uma noção que pouquíssimas pessoas saberiam o que é (“política externa radicalizada à esquerda…”) e que faz uma suposição cuja demonstração é complicada (“reflexos inevitáveis… na política interna”).
É difícil imaginar escolha mais fácil para a quase totalidade da população brasileira: na balança, em um prato estaria seu bem-estar, no outro, uma abstração a respeito de outra abstração. Quem aposta o que a maioria faria sem titubear?
O curioso no artigo é que a pergunta não era retórica. E que o autor não a fazia por redução ao absurdo, para mostrar o equívoco de quem imagina que a agenda da “esquerdização” da política externa possa ter qualquer impacto eleitoral relevante.
Mas não são apenas os jornalistas que fazem, às vezes, perguntas sem sentido. Até os mais ilustres líderes políticos as cometem.
Domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou aos jornais, agora para “reavaliar as diferenças e críticas recíprocas entre PSDB e PT”.
Em tom menos combativo do que vinha usando nas suas recentes intervenções (talvez em sintonia com a orientação de evitar o confronto direto com Lula, emanada do comando da campanha Serra), FHC falou de continuidades, sem comparar governos. Nem sequer foi para a “guerra dos números” para a qual havia desafiado o PT. Magnânimo, propôs que o Bolsa-Família fosse visto como exemplo dos programas que, “independentemente de que governo os tenha iniciado ou melhorado, tiveram o apoio de todos os partidos e da sociedade”.
Seu artigo termina com uma declaração e uma pergunta. Para ele, as diferenças entre Serra e Dilma, mais dia, menos dia, recairão sobre “a verdadeira questão” (uma só, pois as outras, imagina-se, não seriam “verdadeiras”): “Queremos um capitalismo no qual o Estado é ingerente, com uma burocracia permeada por influências partidárias e mais sujeita à corrupção, ou preferimos um capitalismo no qual o Estado permanecerá básico, mas valorizará a liberdade empresarial, o controle público das decisões e a capacidade de gestão?”. No primeiro corner, estaria Dilma, no segundo, Serra.
Com a biografia que tem, é difícil acreditar que o ex-presidente pense da forma como se expressa. Para a vasta maioria da população, a eleição pouco (ou nada) tem a ver com algo tão distante quanto a escolha de um modelo de capitalismo (“Estado ingerente X Estado básico”). Nem é claro como os dois candidatos seriam classificados. Serra, por exemplo, seria ingerente ou básico? E Dilma? Quem sabe os dois não seriam as duas coisas? E quem falou que PSDB e PT têm, para as pessoas comuns, imagens tão diferentes no tocante à partidarização do governo, sujeição ao risco da corrupção, valorização da iniciativa privada, controle público e capacidade de gestão? Quem disse que elas só enxergam virtudes em um e defeitos no outro?
Nas eleições deste ano, a população brasileira não se fará perguntas sem sentido ou indagações estratosféricas. Para ela, as escolhas serão bem mais concretas: continuar ou mudar? Um pássaro na mão ou dois voando? Ela ou ele?
É concreto, embora simples não seja.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Serra e Dilma empatados: pesquisa Sensus para presidente

Como já haviam previsto IBOPE e Vox Populi, Serra e Dilma estão empatados. Mesmo que o Data Folha não queira...

Resultado Vox Populi:

32,7% a 32,3%. Serra e Dilma.
Ciro Gomes: 10,1%. Marina Silva: 8,1%.
Brancos e nulos: 7,7%.
Não sabe: 9,1%.
 
Cenário sem Ciro: Serra 36,8%; Dilma 34,0%; Marina, 10,6%. Brancos e nulos: 9,1%.
Não sabe ou não respondeu: 9,5%.
Segundo turno: Serra 41,7%; Dilma, 39,7%.
Brancos e Nulos: 10,1%.
Não sabe e não respondeu: 8,5%.
 
Margem de erro da pesquisa: 2,2%
Foram 2 mil entrevistas feitas entre 5 e 9 de abril em 136 municípios de 24 Estados.

Comprovado: o Data Folha é uma fraude...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Serra: Moralismo de perna curta

Como os gaúchos parecem supervalorizar o moralismo eleitoral, lá vai um tema prá reflexão:


Do Blog do Paulo Henrique Amorim

Burburinho: a ligação da ONG de Goldman (que recebeu verbas do Governo de São Paulo) e Serra

9/abril/2010 11:29

Serra (Governador de São Paulo) declarou ter salas comerciais no mesmo prédio onde funciona a ONG de Goldman (Vice-Governador de São Paulo)

O Conversa Afiada publica email do amigo navegante Stanley Burburinho (quem será Stanley Burburinho ?):

A atuação do Idelt (Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transporte e Meio Ambiente), uma organização não governamental criada em 1996 por Alberto Goldman (PSDB), vice-governador paulista, Frederico Bussinger, ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo, e Thomaz de Aquino Nogueira Neto, atual presidente da Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), entre outras pessoas ligadas ao setor de transporte público e ao PSDB.

1 – Em 2006 a FSP noticiou que a presidente do Idelt, esposa do secretário municipal dos Transportes de São Paulo, contratou uma empresa de ônibus concessionária da prefeitura. A informação sobre esse contrato surgiu um dia depois de o governo José Serra (PSDB) ter decidido cancelar a contratação do Idelt, feita sem licitação, por R$ 948.750:

“Folha de S. Paulo, 17/03/2006

Mulher de secretário trabalhou para viação

Uma empresa de ônibus concessionária da prefeitura contratou, no ano passado, o instituto presidido pela mulher do secretário municipal dos Transportes, Frederico Bussinger, para realizar um serviço de consultoria.

A viação Sambaíba firmou contrato com o Idelt (Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transporte e Meio Ambiente), dirigido por Vera Bussinger, para estudar a viabilidade de um serviço de balsas pelo rio Tietê, entre a zona leste e a ponte das Bandeiras.

A informação sobre esse contrato surgiu um dia depois de o governo José Serra (PSDB) ter decidido cancelar a contratação do Idelt, feita sem licitação, por R$ 948.750. O contrato foi revelado pela Folha anteontem.

O empresário Carlos Alberto Fonseca, dono da Sambaíba, confirmou à assessoria da SP Urbanuss (sindicato das empresas de ônibus) que contratou o Idelt. O valor, porém, não foi divulgado.

De acordo com o sindicato, a contratação foi sugerida ao empresário por um consultor. Fonseca disse desconhecer se Bussinger sabia do negócio.

O Idelt teve Bussinger entre seus fundadores, em 1996. O secretário se desligou da entidade.

O contrato entre o Idelt e a Sambaíba foi revelado ontem pelo vereador Antonio Carlos Rodrigues (PL) durante a audiência na Câmara em que Bussinger falava sobre os impasses nos contratos da prefeitura com as viações.
Queixando-se dos valores recebidos, as concessionárias ameaçaram, na semana passada, romper os contratos de forma unilateral.

A Folha telefonou para Fonseca, mas ele não ligou de volta.

Após a audiência, que durou seis horas, Bussinger, durante entrevista, nem confirmou nem negou o eventual contrato -disse que iria verificar com sua mulher.

Questionado sobre o que faria se o contrato realmente existisse, ele não respondeu. “”Quando me casei, minha mulher já era uma profissional experiente, e separamos a questão profissional da pessoal. Não vamos tratar desses assuntos familiarmente.”

Procurado ontem à tarde, o Idelt não respondeu aos pedidos de entrevista. O instituto, mesmo antes de Bussinger assumir a secretaria, já havia dado consultoria a empresas de ônibus.

Contrato rompido

A gestão Serra rompeu o contrato entre o Idelt e a Secretaria do Trabalho, que pagaria R$ 948.750 para que, durante nove meses, profissionais do instituto dessem cursos de capacitação para a construção de calçadas e para atividades como auxiliar de serviços gerais e de escritórios.

A contratação se baseou em um artigo da lei que permite a dispensa de licitação, em alguns casos, a instituições sem fins lucrativos.

O secretário do Trabalho, Gilmar Viana Conceição, informou ontem ter decidido pela rescisão “de modo a não alimentar dúvidas sobre qualquer hipótese de favorecimento”, embora houvesse um “ato jurídico perfeito” e “extensa documentação comprobatória de qualificação técnica, habilitação e regularidade fiscal por parte da entidade selecionada”.

Segundo a pasta, “os cursos de qualificação em andamento serão concluídos e os beneficiários receberão as bolsas na forma da lei”.

A secretaria não informou ontem como será a continuidade das aulas e se haverá licitação para contratar uma outra instituição.

Na última terça-feira, a pasta defendia a regularidade do contrato e dizia não ver conflito ético no fato de a entidade escolhida sem concorrência pública ser ligada a um membro da gestão Serra.”

http://www.ntu.org.br/Clipping/NTUClipping.asp?MATERIA=true&GUID_MATERIA={29A1401D-3CE8-48C9-BF3A-FEEDC47BF950}

2 – Em 2007 o MPE de SP apura que o Idelt recebeu R$ 5 milhões dos cofres públicos nos últimos 7 anos; promotores investigam superfaturamento:

“O Estado de S. Paulo – 22/10/2007

Idelt recebeu R$ 5 milhões dos cofres públicos nos últimos 7 anos; promotores investigam superfaturamento

Eduardo Reina

O Ministério Público Estadual investiga as relações do Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transportes e Meio Ambiente (Idelt) com o governo paulista e prefeituras. O Idelt é uma organização não governamental criada por Alberto Goldman (PSDB), vice-governador paulista, Frederico Bussinger, ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo, e Thomaz de Aquino Nogueira Neto, atual presidente da Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), entre outras pessoas ligadas ao setor de transporte público e ao PSDB. É presidido pela mulher de Bussinger, Vera Bussinger. E recebeu pelo menos R$ 5 milhões dos cofres públicos nos últimos sete anos.

Promotores querem saber se houve superfaturamento dos contratos e favorecimento da organização não governamental ligada ao PSDB. São analisados ao menos 16 contratos e aditamentos, parte sem licitação, com Dersa, Sabesp, Secretaria Estadual do Trabalho, prefeituras de São Paulo e Carapicuíba, segundo publicações do Diário Oficial do Estado. As contratações referem-se a cursos de qualificação profissional como assistente administrativo, reciclagem de lixo, conservação, limpeza e formação de mão de obra para fazer calçadas (calceteiro), além de assessoria técnica em transporte público e programas de água de reúso. A Dersa alega que não havia necessidade de licitação pelo fato de o instituto ter notória especialização nos setores em que atua.

Um dos inquéritos foi aberto no fim de setembro pela Promotoria da Justiça e Cidadania e apura quatro contratos e três aditamentos feitos entre o Idelt e a Dersa, que somam mais de R$ 450 mil. O outro, em andamento desde o ano passado, analisa contrato de R$ 948 mil com a Prefeitura de São Paulo, firmado na gestão de José Serra (PSDB).

Nos dois casos não houve licitação para contratação, apesar de existirem outras instituições capazes de fornecer tal tipo de serviço, como a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a Fundação Tide Azevedo Setúbal, o Instituto Paradigma, a Cosmética Beleza e Cidadania, entre outras ONGs e instituições. Estas três últimas mantêm atualmente parcerias com a Prefeitura da capital.

A promotora Luciana del Campo quer saber se houve necessidade de a Dersa contratar o Idelt para fazer assessoria técnica, serviços de modelagem e gerenciamento dos Portos de São Sebastião e Santos. Foram quatro contratos – 1999, 2001, 2003 e 2004 – e três prorrogações, realizadas durante os governos Mário Covas e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. Os quatro contratos, que receberam três aditamentos, somaram originalmente R$ 441.228 – sem os acréscimos. O primeiro deles foi firmado em 2000, no valor de R$ 86.400.

O outro procedimento investigatório do MPE é sobre o contrato feito no fim de 2005 com a Secretaria do Trabalho da Prefeitura de São Paulo, na gestão do prefeito José Serra. O instituto mais uma vez foi contratado sem licitação para realizar cursos para formação de calceteiros, auxiliares de serviços gerais, auxiliares de escritório e reciclagem de lixo. Por isso, são investigados o ex-prefeito Serra, o ex-secretário municipal do Trabalho, Gilmar Viana, Frederico Bussinger e sua mulher Vera, que preside o Idelt.

CONTRATO RESCINDIDO

O instituto receberia R$ 948.750 por nove meses de trabalho prestados à Prefeitura de São Paulo, mas, segundo a Secretaria Municipal do Trabalho, o contrato assinado em 2005 foi rescindido em dezembro do ano passado, já na gestão de Gilberto Kassab (DEM).

A administração municipal pagou quatro parcelas, além de duas multas rescisórias previstas em contrato, num total de R$ 534.763,93. Segundo a secretaria, o Idelt cobrou na Justiça a diferença de R$ 413.986,07.

Vera Bussinger afirmou que apenas notificou a secretaria da necessidade de saldar contratos pendentes. “Apresentamos a planilha do que já estava comprometido. Mesmo com o fim do contrato, completamos o treinamento da turma. Ficamos até abril”, explicou. “Não se pode dizer que temos contratos somente com administrações do PSDB.”

Ela contou que foi contratada por administradores do PT. Segundo Vera, o Idelt foi chamado para dar cursos profissionalizantes na administração de Marta Suplicy, entre abril e setembro de 2004. Outra contratação foi realizada por Vitor Buaiz, quando estava à frente do governo do Espírito Santo e ainda era do PT. Na época, um dos sócios do Idelt, Carlos Alberto Tavares Carmona, era diretor da São Paulo Transportes (SPTrans), que cuida do transporte público na cidade.

Em 2006, cada uma das 31 subprefeituras paulistanas teria 15 calceteiros, que deveriam passar por 16 dias de aulas teóricas e práticas. O curso, dado pelo Idelt, foi uma parceria entre as secretarias municipais do Trabalho, de Assistência e Desenvolvimento Social, e de Coordenação das Subprefeituras, segundo divulgação feita pela Assessoria de Imprensa da Prefeitura em 16 de março de 2006.

CALÇADÃO

O contrato do Idelt prorrogado várias vezes com a Prefeitura de Carapicuíba teve início em 2001, para um curso de calceteiro destinado a ex-presidiários. Batizado de Calçada Metropolitana, o projeto custou inicialmente R$ 560 mil. A cidade é administrada por Fuad Chucre (PSDB).

De acordo com o secretário do Trabalho da cidade, Luiz Gonzaga de Oliveira, depois que venceu o contrato com o Idelt, a prefeitura assumiu o serviço para complementar o trabalho nas calçadas. Realizou cerca de 500 metros de novos calçamentos na Avenida Rui Barbosa, no centro de Carapicuíba. Comerciantes da região reclamam que o trabalho foi mal feito e são necessários reparos constantes.
http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=414450

3 - A tal ONG Idelt funciona ou funcionava na Rua Arthur de Azevedo, 1767 – 12º andar Conj. 124 – São Paulo – SP CEP: 05414-001:

“Informações e Contatos

O IDELT quer continuar apoiando a população em situação de risco. Para que possamos realizar esta tarefa, estamos buscando parcerias com Empresas e Instituições Públicas e Privadas, nacionais e internacionais, para este e outros Projetos.

Caso necessite de dados mais completos e informações, entre em contato conosco:

IDELT – Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transporte e Meio Ambiente

Rua Arthur de Azevedo, 1767 – 12º andar Conj. 124
São Paulo – SP CEP: 05414-001
Fone/Fax: (11) 3068-6868
e-mail:idelt@idelt.com.br”
http://www.idelt.com.br/projetos.aspx

4 – Não estou acusando ninguém, mas vejam a coincidência: conforme a declaração de bens do José Serra no TSE para as eleições de 2006, ele disse que possuía “3 salas comerciais no Edifício Premium Tower Altamura” (não especifica as salas), exatamente na mesma rua e no mesmo prédio onde funciona o Idelt:

“ Eleições 2006 – Divulgação de Dados de Candidatos

Declaração de Bens – Candidato(a) a Governador – SP

JOSÉ SERRA

Descrição: 3 SALAS COMERCIAIS DO EDIFICIO PREMIUM TOWER ALTAMURA, SITO NA RUA ARTHUR DE AZEVEDO, 1767

Valor: R$ 240.000.00

(…)”