sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O impasse no centro do capitalismo

Impotentes diante das disputas entre frações do capital?


Pesquei do blog do Nassif o texto abaixo.


26/09/08 09:28


Fugindo da solução óbvia


Entenda os impasses em torno do Plano Paulson.


O sistema bancário americano está atulhado com títulos do subprime. Esses papéis foram adquiridos por valores muito baixos, em relação ao seu valor de face. Essa diferença corresponde à rentabilidade esperada pelos bancos especuladores, caso o papel fosse levado até o vencimento.

Existe uma curva de valor desse papel. Ou seja, a cada dia uma parte dos juros é apropriada ao valor inicial de aquisição do papel, até chegar no vencimento com o papel valendo 100% do valor de face.

Vamos a um pequeno exemplo matemático:


1. Uma empresa hipotecária pega sua carteira de contratos de risco (subprime) e vende para um banco a uma taxa de 15% ao ano.


2. Se o prazo médio da carteira for de 120 meses, o banco irá pagar US$ 24,71 por cada US$ 100,00 que terá a receber no vencimento.


3. A cada dia que passa (supondo dias corridos), o valor dessa carteira aumentará 0,0388%. Assim, no 120º dia, por exemplo, a carteira estará valendo US$ 25,90. No 4º ano, estará valendo US$ 43,23. E assim por diante.


Mas suponha que o banco necessita vender essa carteira no mercado. Quanto maior a sua pressa, menor o valor que conseguirá. Se a curva da carteira está em US$ 30,00, por exemplo, na hora de vender no mercado conseguirá, digamos, apenas US$ 15,00.


A discussão sobre o plano Paulson reside nessa diferença. Paulson-Bernanke querem pagar integralmente os US$ 30,00. Os críticos querem que pague os US$ 15,00 para não premiar os especuladores.


Os críticos têm sua razão. Os bancos aceitaram correr riscos em troca de remuneração elevadíssima de 15% ao ano. Se o Tesouro americano paga o preço do papel, eles receberão os 15% (até a data da troca) sem incorrer em perda alguma. Por outro lado, alega Bernanke, se pagar o preço de mercado os bancos ficarão totalmente descapitalizados, com conseqüências drásticas sobre o futuro.


A solução para esse impasse é lógica. Implementá-la exige um presidente com coragem de colocar o guizo no gato. No caso, no poderio de Wall Street. É só pegar o modelo sueco. Paga-se pelos títulos um meio termo entre o valor da curva e o de mercado. A direrença será coberta com ações dos bancos, que ficarão guardadas pelo Tesouro para venda futura. Não haverá descapitalização dos bancos, porque as ações apenas trocarão de mãos.


Os acionistas serão penalizados, assim como os executivos, mas a instituição bancária é preservada. Mas, passada a borracasca, novos investidores adquirirão as ações, valorizadas, ressarcindo o Tesouro e permitindo a recriação do sistema financeiro em outras bases.


Essa é a solução óbvia, até para preservar os valores americanos de respeito ao mercado e ao contribuinte.


enviada por Luis Nassif


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Assim como quis fazer crer que Estado mínimo e Mercado máximo eram a única solução, ponto de partida da ideologia neoliberal, a grande imprensa quer fazer crer que só existe uma solução para a atual crise econômica mundial: a proposta pelo governo Bush. E quer assim fazer crer porque ela representa a quase total socialização dos prejuizos. Quase total porque nesta proposta, como mostrado acima por Nassif, uma pequena minoria não pagaria nada da crise: o capital bancário, fração da classe dominante até agora hegemônica do capitalismo estadunidense. A direção econômica, política e ideológica do sistema capitalista, em especial o americano, esteve em suas mãos, quase que absolutamente, com a anuência das outras frações do capital: a industrial, a agrária e a comercial. Esta unidade foi forte o suficiente, por exemplo, para desmantelar completamente a regulação pelo Estado do mercado financeiro e desregulamentar uma boa parte do mercado de trabalho, sem muita resistência. Porque agora não somente uma resistência, mas um impasse no Congresso Americano?


Alguém viu movimentos de massa nas ruas? Alguém viu greves generalizadas? Alguém viu saques, etc.? Não, porque não há. Há, no máximo o registro do perigo para a elite americana: uma pesquisa que aponta que 80% dos americanos são contra o pacote. Ou, ainda, você acha que os congressistas americanos tem algum viés humanista, estão preocupados, de fato, com os milhares de sem-casa produzidos por esta crise e não contemplados no pacote original? Também não.


Neste cenário, para entender o impasse é preciso ter em conta que a classe dominante estadunidense não é homogênea, embora bastante unida. Há o capital bancário, pivô da crise, mas há também o industrial, o comercial e o agrário. Na verdade o impasse se dá porque todos os US$ 700 bilhões estã destinados, na proposta Bush, para o capital bancário. As outras frações do capital americano não recebem, diretamente, como grupo, nada. Um ou outro setor dentro de uma fração, na medida de sua associação com o capital bancário talvez receba um pouco do butim. Assim, neste cenário, os representantes do capital industrial, agrário e comercial americanos mostraram as garras. Estas frações ameaçam, inclusive, por na agenda eleitoral o debate sobre o pacote (está ai a explicação para a ameaça inicial de McCAin não ir ao debate antes de consensuado o pacote).


Na ausência de um movimento popular e de um partido à esquerda (social-democrata clássico, que seja) organizados e expressivos, a maioria da população americana - e mundial, em certa medida - fica nas mãos desse jogo da classe dominante americana. A exetensão de sua inclusão no jogo político passa a depender, em grande medida, da radicalização da divisão interna da elite política e econômica. O mesmo vale, por óbvio, para o patrimônio público: na solução do impasse não está posta a preservação deste. Somente está posta a construção de uma equação econômica, para os US$ 700 bilhões ou mais, que reflita a real correlação de forças no interior da classe dominante americana.


Por isso, a soluções atualmente postas são variações sobre o mesmo tema. As variações excluem ou incluem partes do capital. Estado e povo são, neste momento, cartas fora do baralho, a não ser como pagadores. Para o surgimento, com peso, de alternativas reais, como a sueca (que protege o Estado), apresentada corretamente por Nassif, seria necessário, no mínimo, um partido social-democrata clássico com alguma densidade social, algum grau de mobilização e/ou organização popular, algum contraponto político internacional forte ao capitalismo (União Soviética, no passado), além da existente divisão de interesses no seio da elite econômica. Nas situações históricas em que ao menos alguns desses elementos se combinaram à uma divisão sólida da classe dominante (intra-nacionais ou não), soluções simples, lineares não foram possíveis. Algum grau de inclusão dos setores populares foi necessário. Um exemplo disso foi o processo de criação da democracia burguesa da origem até o ponto que conhecemos hoje.


Até aqui, no entanto, nesta crise parece só estar presente o último elemento. E a dinâmica política, em uma sociedade totalmente submetida a democracia tradicional, eleitoral, está contida no topo da cadeia alimentar.


Lula disse que é chegada a hora da política. Mas a política, tal qual estruturada hoje, restringe o contingente de atores sociais com real importancia, suspende alternativas e faz do Estado de do povo reféns. Enfim, afasta as soluções óbviamente melhores para toda a sociedade.


Eis porque apostar em formas não-eleitorais de democracia é estratégico.

2 comentários:

Anônimo disse...

Na veia.
A solução tem a cara do problema, por isso não passa o pacotão no Congresso, especialmente na hora do crivo eleitoral.

Abç.

Anônimo disse...

De ordem da Executiva do Conselho Municipal de Assistência Social de Porto Alegre, informamos que recebemos, na data de hoje, por volta das 14 horas, denúncia por telefone de que o 9º BPM estava, fazendo a detenção irregular de moradores de rua que são obrigados a permanecer no quartel, sem qualquer formalização de culpa por 4 ou 5 horas.
A assessoria do Conselho foi até o BPM onde verificou que 5 moradores de rua encontravam-se detidos. Tentou falar com eles mas não foi permitido, apenas conseguindo saber dos detidos que não havia qualquer acusação, simplesmente estavam sendo obrigados a permanecer no local. No momento em que a assessoria se retirava do local chegou mais uma viatura cheia de moradores de rua, não sendo possível determinar o número de detidos.
Lembramos que o Cel Mendes, Comandante Geral da BM já havia "confessado" esta irregularidade durante programa da RBS, há meses atrás, ocasião em que o Sub-Procurador Geral do MP se encontrava presente e não tomou as medidas cabíveis, incorrendo em crime de prevaricação.
Encaminhamos, sob orientação da Executiva do CMAS, denúncias ao Ministério Público Eleitoral (via e-mail, conforme contato telefônico realizado), à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa (através de telefone, com Cláudia) e Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Porto Alegre (contato telefônico com o Presidente da Comissão e através do site da Câmara – formulário eletrônico), aos órgãos de imprensa da capital e aos blogueiros independentes de Porto Alegre.

Porto Alegre, 02/10/2008;


Paulo Augusto Coelho de Souza
Assessoria do CMAS
cmas@fasc.prefpoa.com.br – F: 3226-1930