segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Em que águas navegam os barcos nesta eleição de Porto Alegre?


Há um certo consenso se formando quanto a atual campanha eleitoral: ela está morna. Um dos motivos apontados é a maior limitação de opções de campanha que a Justiça Eleitoral está operando, a partir de uma lei eleitoral mais restritiva. Também é apontado o fato de a maior parte dos candidatos ter outras agendas políticas fora da campanha: alguns estão "presos" as suas agendas em Brasília e Fogaça a sua agenda de prefeito.

Eu acrescentaria um terceiro: a homogeinização dos discursos. Tudo muito igual, na mesma linha. Mesmo quando aparece uma ou outra proposta nova, logo a seguir esta é contrabalançada por outra e assim por diante, em uma espécie de campeonato de quem inventa mais. Mas as invenções são, como já disse em uma postagem anterior a esta, sempre para criar mais do mesmo. Idéia nenhuma aparece tratando de questões ligadas a possibiidade de interferência da prefeitura do município no padrões de geração e distribuição de riqueza na cidade ou de socialização (O atual regramento do uso do solo em Porto Alegre está servindo para reduzir ou aumentar a segregação social? O regime tributário municipal é estruturado de forma justa, isto é, quem tem mais renda paga mais? O orçamento municipal é organizado e executado focando as zonas de menor renda?); mudanças estas que podem ser produzidas a partir da ação do prefeito usando suas prerrogativas fiscais e de planejamento urbano. Há um poderoso bloqueio neste sentido.

Há muitas consequências da ausência destas questões em processos políticos como a atual eleição. Uma delas é que as escolhas das pessoas, neste cenário, produz-se sobre critérios derivados de processos de socialização ocorridos em grupos menos verticalizados. São exemplos destes o grupo escolar (escolaridade), o grupo etário (idade) e o grupo de gênero. Grupos mais verticalizados, como classes sociais (renda), são secundarizados em contextos como o atual. No caso específico de Porto Alegre, as identidades que estão operando com mais força são escolaridade e idade. Um fato interessante é que a presença de três mulheres está anulando o fator gênero como produtor de critérios de escolha.

Os critérios de escolha de lideranças consensuados nestes grupos menos verticalizados - em especial escola e idade - são, em geral e principalmente, aqueles mais ligados aos atributos próprios do indivíduo, formados em sua trajetória pessoal, e não os relacionados diretamente as convicções político-ideológicas da liderança. Competência, inteligência, arrojo/capacidade de inovação, experiência, etc. - todos em sentido abstrato, sem definir a que lugar esta competência, inteligência, arrojo, experiência irá levar-nos, ou para quem trabalha, que interesses atendende, etc. - são exemplos destes atributos.
Estamos, até aqui, diante de uma eleição despolitizada, por mais paradoxal que pareça. Uma briga de egos. Se nada mudar, terá mais chances o candidato(a) que conseguir melhor atribuir-se, na média, qualidades pessoais como as que cito acima. Mas estas qualidades servirão para quê? Muitos eleitores só se darão conta muito depois de apertar a tecla FIM, para fazer referência a postagem do meu amigo do Diário Gauche.

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